Gilberto Gil sempre foi ligado às coisas de Internet. Muito antes de ser ministro ou das discussões sobre os direitos autorais na web se acirrarem, ele já mostrava ser antenado a essas questões virtuais por meio de suas músicas – “Parabolicamará”, por exemplo, foi composta em 1991, já “Pela Internet”, em 1996. No Ministério da Cultura, ele tem investido muito na cultura digital. E, agora, lança mais um projeto que privilegia a cibercultura.
Depois de perceber que em seus shows sempre tinha alguém com câmeras digitais ou celulares a postos para fotogragar e filmar, agora Gilberto Gil vai legitimar o que a realidade já mostrava: em sua próxima turnê, chamada apropriadamente de “Banda Larga”, e que acontece a partir de 7 de julho pela Europa e África, ele vai autorizar gravações e fotografias dos shows por celulares ou câmeras dos espectadores, que também poderão transmitir as imagens e sons pela internet, tudo legalmente e de graça.
Para a turnê, Gil compôs uma música nova, chamada “Banda Larga Cordel”. Entrando no espírito da proposta, o cineasta Andrucha Waddington gravou com seu celular um vídeo de Gil cantando a nova canção ao violão. E, claro, ele já está no YouTube (para encontrá-lo, busque pelas palavras-chave música+política+gilberto+gil).
A Agência O Globo divulgou entrevista com o ministro-cibernético e o blogdepapel reproduz aqui algumas partes desse bate-papo:
A liberação de gravação e transmissão de seus shows na turnê “Banda Larga” vai se manter nos shows posteriores?
Estou querendo encaminhar meu trabalho artístico cada vez mais para o ambiente digital. Quero aproveitar todas as possibilidades mais atuais de broadcasting, webcasting, ipodcasting… E tudo isso envolve a grande mutação tecnológica pela qual a Internet vem passando, que é a banda larga. Daí o nome da turnê. Vamos ver como será esse projeto em funcionamento na excursão da Europa. Não sabemos em que extensão vamos conseguir levá-lo adiante lá. Mas, daqui para a frente, sim, vou procurar fazer isso com todos os meus shows. Todo mundo pode filmar, fotografar, transmitir por celular…
Como o artista que quer aderir à licença pública resolve isso com sua gravadora?
Tem de haver negociação. Acho que as gravadoras estão transitando de uma posição de resistência absoluta contra isso para uma postura de negociação e compartilhamento. Agora mesmo, a EMI resolveu pôr todo o repertório dela na Amazon.com (com venda sem sistema de proteção anticópia).
O senhor já tentou licenciar publicamente trabalhos seus, mas a Warner não permitiu. Como seria essa negociação?
Não sei ainda. Primeiro, não tenho mais vínculos diretos com a Warner, tenho contrato para a gravação de mais um CD apenas. Mas o acervo da minha obra está na mão deles. Por isso, devo colocar minha obra à disposição por meio de novos fonogramas, que não estejam vinculados à Warner. Vou regravar todo o meu repertório pela minha gravadora. Então, ele poderá ser posto em domínio público.
28/06/07