Caminho Suave –

cartilhas (4)Meu primeiro e inesquecível momento de amor, foi no colégio Sagrada Família. Estava esbarrando na casa dos dez anos, um pouco mais, um pouco menos, não sei bem. Depois de uma aula de Catecismo com o padre Olavo, saímos todos em disparada, meninos e meninas rumo a sala de Dona Isaltina. Minha primeira professora. A que colocou as primeiras gotas do colírio do saber em meus olhos sequiosos. Bonito isso, não? Colírio do saber em olhos sequiosos”.

Foi ela com suas mãos firmes que segurando às minhas tremulas, ajudo – me a traçar as primeiras letras no caderno branco. O livro era “Caminho Suave”. Sei hoje, caminho sim, mas não tão suave.

Às vezes me bate uma saudade doida dos tempos de eu menino. Falo sem nenhum constrangimento porque tenho a esperançosa suposição de que todas as pessoas que já passaram da fase do eu menino, também alimentam saudades mais ou menos parecidas; se tal não acontecer, azar o meu.

Não que minhas lembranças sejam de um tempo onde as manhãs eram sempre de setembro, frescas, limpas, azuis. Não. E não havia também melodias angelicais de Mozart na brisa valsando. A vida corria, nem tudo sorria mais tinha valor.

A mala era um misto de porta cadernos e de lancheira. Havia sempre um indisfarçável aroma de bananas e de pão. E o guarda – pó. Todo branquinho, o dos outros. Passado a ferro de carvão em brasa. É verdade que já havia ferros elétricos, mas soa nostalgia usar, a expressão: ferro de carvão em brasa. Mas em casa tinha fogão de lenha, a lá, isto tinha.

Pé – de moleque, Maria – mole, amendoim, jogo de bola, pique, esconde – esconde, pé – na – lata. Pipa com cerol, era o máximo da traquinagem. Futebol de meia. Ah! Saudade! A primeira namorada, a primeira mentirada que eu contava sobre mim!

Ora, lá vou eu com minhas tibieza e delongas. Cismas e rimas falar do tempo este feroz devorador que a tudo consome.

Na vida da gente há um caminho, onde as coisas do ontem vão ficando nas curvas lá atrás. Perdem – se de vista, mas fica na memória, algumas coisas, poucas é bem verdade.

Nestas brisas das manhãs de outono me vem a lembrança meu inesquecível primeiro momento de amor! Nunca soube seu nome, sei que era mais velha, já que estava em turma diferente. Fechando os olhos, seu rosto não lembro e nem poderia lembrar, já que nem se quer eu vi.

Em meio a algazarra da meninada correndo, voltando a sala de Dona Esaltina a encontrei. Ah! Menina do meu lembrar! Momento único e impressionantemente belo. Ela estava subindo a escada e eu sorrateira e imediatamente atrás.

Castiga a brisa do tempo trazendo este embriagador perfume de jasmim fazendo só por um momento eu ter saudades de mim.

Título tema de uma canção que meu velho amigo e parceiro Claudionor Cruz, (este ano estaria completando 100 anos!) grande nome da musica popular brasileira fez, que aqui trago como registro de uma documentação sonora, tanto musical como filosófica. Porque a saudade como a musica não tem tempo. Mesmo sabendo que naquele tempo a vida corria, nem tudo sorria mas tinha valor!

Cláudio Ribeiro

Jornalista/Compositor

 

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