Manuel Bandeira (1886-1968)

Manuel Bandeira afirmou um dia que “a poesia está em tudo, tanto nos amores quanto nos chinelos, tanto nas coisas lógicas como nas disparatadas”. Para dar conta dessa diversidade de temas, Bandeira revolucionou a poesia, aproveitando em seus versos a fala coloquial e os fatos do cotidiano. Sua visão do mundo não se expressava em reflexões sociais ou filosóficas, mas na observação dos detalhes mais corriqueiros da vida, sempre com um sentimento de humildade diante das coisas. A influência de Bandeira sobre os jovens modernistas foi tão grande que Mário de Andrade o chamava de São João Batista do modernismo brasileiro.

Em 1922, o poeta não participou da Semana de Arte Moderna, mas seu poema, Os Sapos, lido por Ronald de Carvalho, provocou reações radicais. A trajetória poética de Manuel Bandeira foi pautada pela busca permanente de novas formas de expressão. Em seu livro de estréia, A cinza das horas (1917), usou formas fixas, em versos parnasiano-simbolistas. Já em Carnaval (1919) e O ritmo dissoluto (1924) optou pela liberdade formal, que se tornaria uma das marcas registradas de sua poesia, e se aproximou dos ideais modernistas, que assumiria integralmente nos versos livres de Libertinagem (1930). Nesse livro estão seus poemas mais conhecidos, como Vou-me embora pra Pasárgada e Evocação do Recife. Ali se fixam os grandes temas do poeta: a família, a solidão, o medo da morte, a infância no Recife. Mal saído da adolescência, Bandeira apresentou os primeiros sintomas da tuberculose, doença então fatal, que o obrigou a interromper os estudos.

O jovem que até ali fazia versos por brincadeira passou a escrevê-los por necessidade, diante da fatalidade do destino. A perspectiva da morte foi uma constante em sua poesia e motivou um de seus poemas mais famosos, Pneumotórax. Entre 1916 e 1920, enquanto lutava contra a doença, Bandeira perdeu a mãe, a irmã e o pai, passando a viver solitariamente, apesar dos amigos e, mais tarde, das reuniões na Academia Brasileira de Letras, para a qual foi eleito em 1940. Apesar de apaixonado por mulheres, nunca se casou, e costumava dizer que “perdeu a vez”.

Durante toda a vida, fez crítica de artes plásticas, crítica literária e musical para jornais e revistas, além de ter organizado antologias de poetas brasileiros e de ter publicado o estudo Apresentação da Poesia Brasileira (1946). Em 1954, publicou Itinerário de Pasárgada, onde, além de suas memórias, expõe todo o seu conhecimento sobre formas e técnicas de poesia, o processo da sua aprendizagem literária e as sutilezas da criação poética. Em 1968, Bandeira faleceu no Rio de Janeiro, vítima de parada cardíaca, e não da tuberculose que o acompanhou durante quase toda a vida.

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