Literatura Valoriza Cultura Negra

 

 

 

 

 

Dono de uma visão ácida, mas sempre bem-humorada, sobre as crueldades cometidas contra o negro em uma sociedade preconceituosa que não se assume como tal, o cartunista Maurício Pestana acaba de lançar “Racista, Eu? De Jeito Nenhum…”.

 

O autor, que foi assistente de ninguém menos que Henfil no começo da década de 80, reúne nessa edição seus trabalhos dos últimos 20 anos que falam sobre a violação dos direitos humanos cometidas contra os negros no Brasil.

 

O subtítulo, “Corra que a Polícia vem aí”, anuncia a crítica à pressão que a polícia sabidamente faz sobre a população afro-descendente.

 

O livro teve um antecessor homônimo, que trazia outra parte do material sobre a questão racial produzido durante a carreira de Pestana: eram tirinhas sobre as dificuldades de inserção no mercado de trabalho e a discriminação do negro na educação.

 

“Esse primeiro livro se esgotou nas bancas e livrarias e a editora (Scala) pediu para que eu fizesse o número dois. E já estou preparando uma terceira publicação”, adianta o autor, que tem no currículo 12 livros publicados.

 

O engajamento de Pestana com a causa negra aparece em 42 cartilhas didáticas produzidas por ele para representativas entidades negras do país, como Olodum, Geledes, Instituto da Mulher Negra de São Paulo e o Centro de Estudos das Desigualdades Raciais do Brasil (Ceert).

 

Como um afro-descendente que sempre observou de perto as relações raciais no país, o cartunista alerta para o fato de que, apesar de hoje a questão do preconceito e da desigualdade estar mais presente na mídia do que há 20 anos, ainda existe um forte abismo social no Brasil:

“E a discriminação racial está diretamente associada à social. Vejo alguns cartuns que produzi há 20 anos que continuam super atuais, principalmente quando se fala da pouca presença de negros na propaganda e na televisão”.

 

Lendas africanas

O conceituado escritor e historiador Joel Rufino dos Santos relança “Gosto de África – Histórias de Lá e Daqui”, uma reunião de lendas que abordam desde mitos africanos, tradições negras e afro-brasileiras, como o bumba-meu-boi, até personagens da História do Brasil como Luis Gama, figura-chave da campanha abolicionista.

 

“São histórias que eu gostaria de ter lido quando criança e que eu decidi reinventar. Literatura é uma criação livre em que você narra o que está no fundo da sua psique, o que está no seu inconsciente, então não é deliberado. Eu simplesmente larguei meu espírito solto e aí apareceram as histórias”, conta o autor.

 

O mito do Leão do Mali (sobre o filho de um rei africano que, por ser aleijado, é renegado pelo pai, mas acaba construindo o reino de Mali), que o autor ficou conhecendo durante uma de suas viagens à África, é uma das histórias contadas no livro.

 

Para Santos, o negro brasileiro geralmente não tem histórias com as quais se identificar, e acaba se apropriando de outras. “Uma das coisas mais interessantes no Brasil é uma identificação que o negro tem com o índio. Sendo um escritor negro, eu sempre expresso e projeto minha negritude no meu trabalho direta ou indiretamente”, avalia o autor, que por muitos anos publicou histórias na revista infantil “Recreio”.

 

Santos destaca que, mesmo que o afro-descendente às vezes não conte com modelos com os quais se identificar, a cultura popular brasileira tem base essencialmente na cultura negra:

“Tem uma frase do Gilberto Freire que é: ‘O brasileiro é negro nas suas expressões sinceras’ e eu concordo. O brasileiro, além de ser negro jogando futebol, é sempre negro quando ri e anda”.

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