Juana Azurduy de Padilha, liderou tropas e participou de 23 23 ações armadas pela Independência da Bolívia
Elas não só estiveram nas frentes de batalha como participaram assumindo outros tantos papeis para a formação das novas pátrias na América Latina. Nos livros de História, no entanto, há pouca ou nenhuma menção às mulheres que participaram das lutas pela independência no século 19 na região.
Por Marcelle Souza
Para Natividad Gutiérrez Chong, pesquisadora da Unam (Universidad Nacional Autónoma de México), não há muitas fontes históricas que tenham registrado a participação de mulheres nessa época, de modo que “aquelas de quem sabemos algo é porque estiveram vinculadas sentimentalmente com homens ligados à causa”, diz.
Além disso, a pesquisadora e autora de livros sobre o tema diz que outros problemas causaram a invisibilidade histórica dessas personagens: “O analfabetismo de mulheres era altíssimo, inclusive entre mulheres de maior nível socioeconômico ou político, situação que é notória até o fim do século 19”.
No livro “América Latina no século 19: tramas, telas e textos”, a professora e pesquisadora da USP (Universidade de São Paulo) Maria Ligia Coelho Prado diz que a participação política das mulheres durante as lutas pela independência “precisa ser levada em consideração, pois sua presença e comportamento não têm sido suficientemente notados e valorizados”.
“Entre os nomes mais conhecidos atualmente, estão a baiana Maria Quitéria, que chegou a se vestir de homem para lutar no exército insurgente, e Josefa Ortiz de Domínguez, mexicana que ficou conhecida por dar o ‘grito da Independência’”, diz.
Há outras tantas desconhecidas, que exerceram distintos papéis e contribuíram nos movimentos de libertação. “Quando se fala em exército, nesse período, imaginamos sempre homens marchando a pé ou a cavalo, lutando. Esquecemo-nos de que as mulheres, muitas vezes com filhos, acompanhavam seus maridos-soldados; além disso, como não havia abastecimento regular das tropas, muitas trabalhavam – cozinhando, lavando ou costurando – em troca de algum dinheiro”, escreveu Prado.
Conheça seis heroínas da Independência:
1 – Maria Quitéria de Jesus
A jovem baiana de família simples vestiu-se de homem para lutar contra as forças do general Madeira. Em sua imagem mais conhecida, adaptou um saiote do modelo escocês, que tinha visto em algumas pinturas, sobre o uniforme de batalha.
“Não sabia ler ou escrever, mas ouviu histórias na pequena propriedade de seu pai, no interior da Bahia, sobre a opressão de Portugal, fazendo seu coração ‘arder de amor à pátria’. Fugiu para a casa da irmã casada, que a ajudou a vestir-se de homem para, assim, poder entrar para o exército patriótico. Participou de algumas batalhas, distinguiu-se em ação e finalmente foi recebida pelo imperador, em agosto de 1823, que a condecorou com a ordem do Cruzeiro e a promoveu a alferes”, conta Maria Ligia Prado.
2 – Manuela Eras y Gandarillas
Era de Cochabamba, que mais tarde se transformaria na Bolívia, e teria participado de várias ações armadas, entre elas de um ataque ao quartel dos veteranos realistas em 1815.
Estátua em homenagem a Manuela Gandarillas
Segundo a professora Maria Ligia Padro, conta-se que Manuela, ao ver aproximar-se um ataque à cidade, notando certa vacilação por parte do pequeno grupo de soldados, teria afirmado: “Se não há mais homens, aqui estamos nós, para enfrentar o inimigo e morrer pela pátria”.
Manuela era da aristocracia e liderou o grupo que ficou conhecido como “Las Heroínas de la Coronilla”.
3 – Juana Azurduy de Padilha
Nasceu em Sucre, Bolívia, em 1780 e junto com o marido, Manuel Ascencio Padilla, que era fazendeiro, liderou um grupo de guerrilheiros. Participou de 23 ações armadas pela Independência. Chegou a perder todos os seus bens nessas lutas.
“Ganhou fama por sua coragem e habilidade, chegando a obter a patente de tenente-coronel. Havia um grupo de mulheres, chamado ‘las amazonas’, que a acompanhava nos combates”, diz Prado. Em uma dessas batalhas, seu marido foi morto, mas Juana conseguiu escapar e continuou na luta guerrilheira.
Após a Independência, chegou a receber uma pensão do governo pelos serviços prestados à luta pela independência, mas o benefício foi logo interrompido. Morreu pobre aos 80 anos. Atualmente o aeroporto de Sucre leva o seu nome.
4 – Manuela Sáez
Filha de uma mestiça e um espanhol, Manuela Sáez passou para a história como amante de Simón Bolívar – ele sim ficou para a história como um dos heróis do século 19 na América Latina. Manuela foi casada com um médico inglês, de quem se separou para acompanhar Bolívar, que conheceu em 1822 em Lima, no Peru.
“Muito se escreveu sobre sua independência, inteligência, sagacidade e iniciativa. Cuidou dos arquivos de Bolívar em sua estada no Peru, escreveu cartas que ele ditava e salvou-o, segundo testemunhos diversos, de duas tentativas de assassinato. Depois da morte do líder, teve que se sustentar com seu trabalho, não aceitando voltar para o marido, que segundo consta ainda a queria” diz Prado.
5 – Josefa Ortíz de Dominguez
Aos 23 anos, a mexicana Josefa Ortíz se casa com o advogado Miguel Dominguez, que logo é nomeado corregedor de Querétaro. “La Corregidora”, como ficou conhecida, ela e o marido eram ligados ao grupo que pretendia iniciar a luta pela independência. Ao saber que a rebelião havia sido denunciada e que os conspiradores seriam presos, dona Josefa decide comunicá-los.
“Ela enviou uma mensagem para que a tropa popular declarasse o fim do Império Espanhol. Esse momento ficou conhecido como o grito da independência e é a maior festa dos mexicanos, comemorada em 15 de setembro”, afirma Gutiérrez Chong.
Foi a partir desta mensagem que o padre Miguel Hidalgo deu início à luta de independência. Josefa foi denunciada por conspiração e, mesmo grávida, cumpriu pena de três anos presa em conventos. Após a independência, manteve envolvimento em atividades políticas. Morreu em 1829, aos 61 anos, na Cidade do México, onde hoje existe uma estátua em sua homenagem.
6 – Policarpa Salavarrieta
“La Pola”, como era conhecida, costumava levar informações aos rebeldes em Nova Granada, atual Colômbia. Por conta do seu trabalho como costureira, costumava frequentar casas de famílias de posses, onde colhia informações sobre as tropas do rei.
Há relatos de que um dos rebeldes, Alejo Sabaraín era seu grande amor. Quando ele foi preso, havia documentos que a comprometiam diretamente. “Presa e julgada, foi condenada à morte, juntamente com outros oito homens, entre eles seu noivo. O fuzilamento ocorreu na praça principal de Bogotá, no dia 14 de novembro de 1817, causando grande impacto sobre a população”, escreveu Maria Ligia Prado.
Fonte: Calle 2
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