João Carlos – Uma Jornada Pessoal com o Samba. Artigo de Cláudio Ribeiro

Jornalista Cláudio Ribeiro, Homero Rébolo e o escritor João Carlos Freitas

Paixão pelo ritmo, luta contra o preconceito e a preservação da cultura afro-brasileira

Conheci o João Carlos de Freitas há muitos anos, lá no começo da década de 80. Ele era meu ouvinte assíduo, e através das ondas do rádio, nossas histórias se entrelaçaram. A paixão dele pelo samba era evidente, sempre compreendi a magnitude desse amor quando ele compartilha sua jornada com a escola de samba Colorado, em Curitiba. Virava e mexia lá vinha o João com suas infindáveis perguntas sobre o assunto, inclusive escrevendo e publicando o livro sobre a minha (a nossa) Escola de Samba Colorado.

Uma História de Coragem e Resistência

A história da Colorado remonta aos anos 40, quando seu fundador, Ismael Carneiro, mais conhecido como Maé da Cuíca, ousou romper barreiras. Foi em 1946 que ele liderou os ritmistas em desfiles pela cidade, enfrentando olhares hostis e desconfiados das autoridades. O samba, então associado à cultura afro-brasileira, encontrou espaço nas ruas de Curitiba, onde antes era marginalizado.

Em meio a olhares desconfiados e gestos de resistência, a Colorado desfilava com sua batucada rápida, distinta das marchas mais lentas que predominavam na época. Seus ritmistas, habilidosos e apaixonados, carregavam consigo não apenas instrumentos, mas uma herança cultural que desafiava as normas estabelecidas.

Do Medo à Aceitação: Marcando História no Centro de Curitiba

Lembro-me das palavras de João Carlos ao descrever o desfile da Colorado pelas ruas de Curitiba. Ao passar pela linha do trem, enfrentaram a desaprovação das autoridades, mas seguiram em frente. A chegada na Rua XV marcou um momento emblemático, quando foram convidados a tocar em um bar tradicional. Foi a primeira vez que o samba ecoou no centro da cidade, sendo reconhecido e celebrado.

Um Legado de Talentos e Diversidade

A Colorado não apenas desafiou convenções sociais, mas também promoveu a inclusão de mulheres nos desfiles, num período em que sua participação era proibida. Com sua batida inconfundível, a escola conquistou admiradores, inclusive personalidades como Elis Regina e Cartola, que reconheceram sua excelência musical.

A Luta Contra o Racismo e o Compromisso com a Cultura

Para João Carlos, a história da Colorado vai além do samba. É um testemunho de resistência contra o racismo e a segregação. Sua motivação para escrever sobre a escola foi impulsionada pela indignação diante das injustiças enfrentadas pelos negros ao longo dos anos.

Um Compromisso com a Educação e a Cultura

João Carlos não apenas viveu o samba, mas também dedicou-se à educação e à cultura. Seu amor pelos livros e pelo conhecimento foi cultivado desde a infância, inspirado pelo exemplo de seu pai. Através da escrita e da pesquisa, ele preserva a memória da Colorado e sua contribuição para a cultura brasileira.

O Futuro do Carnaval em Curitiba: Desafios e Esperanças

Apesar dos avanços, o Carnaval em Curitiba enfrenta desafios significativos. A falta de investimentos, a segregação social e as condições climáticas adversas são obstáculos a serem superados. No entanto, João Carlos mantém viva a esperança de um futuro onde o Carnaval seja valorizado e celebrado por todos.

Conhecer a história da Colorado através dos olhos de João Carlos é uma jornada deliciosa. É uma história de paixão, luta e resistência, que nos lembra da importância de preservar e celebrar nossa rica herança cultural. Que o legado da Colorado continue a inspirar gerações futuras, promovendo a diversidade e a inclusão através da música e do samba. Obrigado Joao cuiqueiro!

Cláudio Ribeiro

Jornalista – Compositor

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