Investimento em Cinema

 

O sempre necessitado cinema latino-americano acaba de ganhar o maior fundo de sua história: US$ 50 milhões, ou R$ 112,50 milhões pela cotação da manhã de ontem. É uma iniciativa do argentino Eduardo Costantini Jr., administrador do Malba, o Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires, que se associou aos irmãos Bob e Harvey Weinstein, ex-proprietários da Miramax. A meta é adquirir ou produzir 14 longas-metragens nos próximos três ou quatro anos, falados em espanhol, inglês ou português.

O fundo, administrado por Costantini, é formado ainda pelos investidores Kelly Park Argentina, a divisão local dos estúdios Kelly Park Film Village, da Nova Zelândia, e Banif Investment Banking, um banco de investimentos português com escritório em SP. Com a Costantini Films e a Weinstein Company, cada um tem uma participação similar no total.

Segundo analistas da indústria do entretenimento, o investimento terá um impacto sem precedentes na produção do continente, que gasta entre US$ 1 milhão e US$ 1,5 milhão em média na produção de um longa. A idéia é investir uma média de US$ 2,5 milhões por aquisição e entre US$ 4 milhões e US$ 10 milhões por produção. “Nossa intenção é ressaltar a importância do cinema latino-americano no mundo”, disse  por telefone, Eduardo Costantini Jr..

O dinheiro bancaria 41 longas brasileiros; a produção nacional tem um custo médio de US$ 1,2 milhão, segundo dados de 2004 do Ministério da Cultura. Pois é justamente um longa brasileiro o primeiro a ser produzido: “Tropa de Elite”, orçado em US$ 2,5 milhões, estréia na ficção do diretor José Padilha, autor do premiado documentário “Ônibus 174”.

O filme, ainda em produção, com roteiro do próprio Padilha, mais Bráulio Mantovani (“Cidade de Deus”) e o ex-capitão da PM Rodrigo Pimentel, é inspirado na vida do capitão da PM André Batista, que o escreveu o livro “Elite da Tropa” com Pimentel e o antropólogo Luiz Eduardo Soares e mostra a violência urbana do ponto de vista de policiais cariocas do Bope, o Batalhão de Operações Especiais.

Já o primeiro filme adquirido pelo fundo é o argentino “Crónica de una Fuga”, thriller político dirigido por Adrián Caetano que foi exibido no último Festival de Cannes. “Agora, vamos viajar por todo o continente à procura de parcerias e de projetos que nos interessem”, disse Costantini. “Algumas de nossas primeiras paradas são São Paulo e Rio.”

Não é a primeira incursão dos irmãos Weinstein no cinema latino. Sua Miramax foi distribuidora ou co-produtora nos EUA do brasileiro “Cidade de Deus” (2002), da co-produção mexicana “Frida” (2002), do venezuelano “Secuestro Express” (2005), do mexicano “Como Água para Chocolate” (1992) e da co-produção cubana “Morango e Chocolate” (1994).

“Abaporu”
Nem Costantini Jr. pode ser considerado um neófito. Aos 30 anos, freqüentador do circuito dos festivais internacionais há três, onde conheceu a dupla de irmãos produtores, o argentino é diretor do renomado Malba. Ali, ganhou fama por criar uma elogiada cinemateca e transformar a sala de exibição do museu num espaço “cult”, com ciclos de cineastas pouco exibidos ou não-comerciais, entre eles o brasileiro Glauber Rocha (1938-1981) -“Glauber Rocha: Del Hambre al Sueño” (da fome ao sonho) foi a primeira retrospectiva integral da obra do cineasta.

O argentino tem outra ligação com o Brasil. É filho do milionário Eduardo Costantini, dono da maior coleção privada de arte moderna latino-americana -causou espécie sua compra, em leilão da Christie´s em 1995, do marco modernista “O Abaporu”, óleo sobre tela de 1928 de Tarsila do Amaral, por US$ 1,4 milhão, maior valor alcançado por uma tela brasileira até então.

Brasileiros também investem
Os brasileiros também estão se movimentando. A empresa Aracruz Celulose, o banco de investimentos Rio Bravo Investimentos e o BNDES anunciaram a criação de um fundo de cinema, o RB Cinema I Funcine, num total de US$ 6,5 milhões. A idéia é investir em produções brasileiras com potencial de mercado internacional, entre US$ 240 mil e US$ 725 mil por filme.

Os três primeiros títulos que receberão dinheiro do Funcine são “Querô”, adaptação da peça homônima de Plínio Marcos (1935-1999) por Carlos Cortez, “O Dia em que Meus Pais Saíram de Férias”, de Cao Hamburger, e “O Maior Amor do Mundo”, de Cacá Diegues.

O último é uma co-produção da Sony Brazil, com estréia prevista para o semestre que vem, e tem Taís Araújo, Hugo Carvana e José Wilker no elenco. Já “Querô”, a estréia na direção de Cortez, é co-produzido pela Gullane e tem o apoio da Unicef e do Instituto Sundance.

E o longa de Hamburger, que iria se chamar “Minha Vida de Goleiro”, mas mudou de nome por razões de mercado (o nome afastaria a platéia feminina, concluiu-se), é baseado no livro de Luiz Schwarcz, se passa nos anos 70 e é co-produzido pela Gullane Filmes e pela Miravista, o selo latino-americano da Disney.

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