Os números da indústria fonográfica não são bons: ainda sem um cálculo oficial, a expectativa é de que em 2005 tenha havido uma queda de vendas de cerca de 15% a 20% em relação a 2004, que já tinha sido um ano fraco; o DVD, considerado a tábua de salvação das companhias, não só não repetiu o crescimento astronômico do ano anterior (mais de 100%) como teve uma retração, muito graças à pirataria. De qualquer forma, o discurso das companhias ainda é de esperança, principalmente em relação às vendas de música digital: espera-se que 2006 marque o início de um renascimento, marcado pelos downloads pagos para o computador, o iPod e, principalmente, o telefone celular.
A companhia dona da maior fatia do mercado, a Sony&BMG, foi a que terminou o ano com a sensação mais positiva, segundo seu presidente, Alexandre Schiavo.
— Foi um ano de ajustes, em que acertamos os ponteiros depois da fusão das duas companhias — diz. — E, com o sucesso de artistas como Bruno e Marrone, Zezé Di Camargo e Luciano, mais as caixas de Roberto Carlos, conseguiremos fechar o ano com as contas equilibradas. É bom ter a maior fatia do mercado brasileiro, mas o que importa para uma empresa é estar no azul. Market share é preocupação de executivos de gravadora com filosofias ultrapassadas.
As companhias ainda apostam nos resultados das vendas de Natal, que só agora começam a ser computados.
— Geralmente o mercado reage a partir de setembro, mas 2005 foi de queda, no mínimo, de janeiro a outubro — conta Cláudio Condé, presidente da Warner.
Gravadoras esperavam vender mais DVDs
Seu colega da Universal, José Antônio Éboli, mostra mais esperança, embora reconheça todos os problemas.
— Nossa leitura é a de que, com o mercado atual, o ano acabou bem, principalmente por causa do último trimestre — diz ele, que não deixa de lamentar o mau desempenho dos DVDs. — É claro que sabíamos que não seria possível repetir o crescimento de 2004, mas imaginávamos um aumento de uns 30%, jamais uma queda. A concorrência dos filmes foi muito forte, e também acho que a pirataria concentrou-se nos DVDs, porque o combate aos CDs piratas foi muito forte.
As blitze e as apreensões tiveram em 2005 seu ano mais intenso. Segundo a Associação Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD), até novembro foram apreendidos mais de cinco milhões de CDs e DVDs gravados e mais de 20 milhões de discos virgens dos dois formatos. Foram presas 151 pessoas, contra 94 em 2004. As boas vendas de artistas populares como as duplas sertanejas e Ivete Sangalo (cujo CD “As super novas volume 1”, da Universal, chegou a 600 mil cópias em novembro) devem-se, em parte, à ação da Polícia Federal. Se o combate à pirataria de forma efetiva tivesse começado antes, talvez as vendas de discos fossem melhores.
A música digital, outro fenômeno que as gravadoras demoraram a levar em conta, finalmente está na ordem do dia.
— A gente nem pode dizer que o download gratuito é sempre prejudicial, mesmo sendo ilegal — diz Éboli. — Uma das nossas artistas mais bem-sucedidas em 2005, a Marjorie Estiano, só gravou porque descobrimos que as músicas que ela cantava em “Malhação” eram muito procuradas na internet. Foi a partir daí que gravamos o CD, que está batendo a marca de 150 mil cópias vendidas.
Todos são unânimes ao dizer que a venda de música digital, ainda tímida no Brasil, representará um incremento importante. Mas nem todos têm a esperança de ver, no Brasil, uma plataforma de vendas como o iTunes, da Apple, que atingiu a marca de um bilhão de faixas vendidas (em menos de três anos) em 2005.
— Num primeiro momento, a compra de músicas por empresas ou sites será o principal — diz João Marcello Bôscoli, presidente da Trama, uma das primeiras companhias a lidar com música digital.
— O iTunes ainda tem medo de se instalar no Brasil por causa da pirataria. Depois que se provar que o comércio entre empresas é viável, virá a venda em massa para o consumidor.
Para Schiavo, o preço dos aparelhos que tocam música digital, os iPods e genéricos, é um dos entraves.
— Um iPod custa caro demais, não é acessível para muita gente — reclama do aparelho, que sai por cerca de R$ 700 na versão mais barata, o Shuffle. — Temos que apostar nos consumidores que ouvem música no computador e no celular, que são equipamentos mais populares.
Uma das estratégias é tentar baixar o preço do CD
Enquanto o CD não perde de vez o lugar para o MP3 ou o MP4 — um processo que já corre em outros países — uma das preocupações das gravadoras é baratear seu preço.
— Temos uma equipe que vende CDs de porta em porta, a R$ 10 — diz Bôscoli. — É importante que se pense em alternativas como essa.
Schiavo acha que os dias do CD estão mesmo contados, mas não prevê a morte para os próximos anos.
— Não vai ser de uma vez — diz. — Mas, quando o download pago começar a crescer, não terá volta. Ele tem uma capilaridade imbatível, a pessoa ouve uma música no rádio e a joga dentro de seu computador, iPod ou celular dez minutos depois, sem sair de casa.
Mas ele também pensa em vender discos mais baratos.
— Nós fechamos um acordo com a Liga Independente das Escolas de Samba que nos permite vender o disco de sambas-enredo a R$ 19,90 — comemora. — Infelizmente, há muitos artistas cujos contratos ainda não permitem isso, mas nosso papel é tentar baratear sempre.