Gregório Bezerra
Gregório Bezerra nasceu na cidade de Panelas de Miranda (a 200km de Recife) em 13 de março de 1900, filho de Lourenço Bezerra e Belarmina Conceição. Desde jovem vivenciou problemas brasileiros, especialmente aqueles ligados à seca, que castigava os lavradores pobres da região onde morava. Desde os 4 anos de idade já trabalhava na lavoura e, quando ficou órfão de pai e mãe, aos oito anos de idade, passou a ser escravo doméstico. Fugiu depois de dois anos de maus-tratos. Viu muitos de seus amigos morrerem de fome. Assim como muitos deles, era sem-terra, sem-teto e analfabeto. Comia nos dias em que conseguia trabalho. Entre as várias atividades que exerceu, uma delas foi a de jornaleiro. Embora não soubesse ler os jornais que ele mesmo vendia, seu interesse pela política pôde ser despertado na medida em que conhecia a realidade brasileira de uma forma mais ampla na medida em que os seus colegas liam as notícias de jornais para ele.
Em um pequeno histórico realizado sobre as greves no Brasil, vimos que uma das greves mais marcantes e importantes para a nossa história foi a de 1917. Nesta greve, Gregório Bezerra começa a atuar ativamente, lutando com diversos trabalhadores pela jornada de 8 horas e em favor da Revolução Bolchevique. Neste episódio foi preso, acusado de perturbar ordem pública e cumpriu 5 anos de prisão. No ano de 1922 ele alista-se no Exército e decide se alfabetizar para entrar na Escola de Sargentos. Deixava muitas vezes de comer para pagar seus professores. Já a partir de 1927 passou a ler diversas obras marxistas e no ano de 1929 consegue entrar para a Escola de Sargentos. Gregório Bezerra casa-se neste mesmo ano com Maria da Silva, com a qual teve um casal de filhos. No ano seguinte ele filia-se ao Partido Comunista Brasileiro e passa a proteger militantes perseguidos pelo movimento integralista da época.
Em 1932 Gregório recebeu a missão de comandar um exército de analfabetos e flagelados da seca, que combateu os Paulistas na Revolução Constitucionalista. Participante da Aliança Nacional Libertadora (ANL), sua principal tarefa foi filiar o maior número militares à frente que tinha como principais objetivos libertar o país dos exploradores e da corrupção do governo, através de uma insurreição popular. Gregório obteve sucesso nesta tarefa, além de conseguir centenas de fuzis e munições para a frente. Teve a incumbência, ainda, de deflagrar o movimento revolucionário em Recife. Liderou a tomada do Quartel General e vários pontos importantes da cidade. Com o movimento derrotado, Gregório foi preso, espancado e barbaramente torturado. O mesmo aconteceu com o seu irmão José Lourenço Bezerra, que morreu assassinado, deixando mulher e cinco filhos menores.
Por participar dos eventos ligados à insurreição comunista, Gregório foi condenado a 27 anos de prisão. Em 1942 foi transferido para a Ilha Grande. No ano seguinte, quando passou para o presídio Frei Caneca, conheceu Luís Carlos Prestes. Saiu da prisão em 1945 e participou do comício de Prestes, no estádio Vasco da Gama. Recebeu do PCB a tarefa de reorganizar o partido em Pernambuco. Lá pôde encontrar novamente a sua família. Nas eleições de dezembro do mesmo ano, Gregório é o Deputado Federal mais votado para a Constituinte. Muitas questões que hoje se apresentam como direitos adquiridos ou que ainda vigoram entre as lutas da atualidade, foram defendidas por Gregório Bezerra no período em que atuou na Constituinte. Podemos citar, por exemplo, o direito de greve e a autonomia sindical; direito de votos aos analfabetos e aos militares; denúncia da exploração do trabalho, principalmente infantil; defesa da construção de creches para as mães solteiras e trabalhadoras, assim como sua obrigatoriedade em escolas, postos médicos, favelas e locais de trabalho. Mas todas estas lutas estavam diretamente vinculadas à defesa do socialismo para a solução dos problemas brasileiros. A sua experiência de vida não o deixou esquecer das lutas relativas à questão da terra. Foi defensor incondicional da Reforma Agrária Radical, que defendia o confisco das terras dos grandes latifundiários para distribuí-las a camponeses sem-terra, com empréstimos a juros baixos e a longo prazo, para o desenvolvimento agrícola.
Em setembro de 1947 o PCB volta novamente à ilegalidade e o mandato de seus deputados são cassados, inclusive o de Gregório Bezerra. Em 1948 foi seqüestrado e preso por ordem do então presidente Eurico Gaspar Dutra. Foi falsamente acusado de incendiar o quartel 15 R.I., em João Pessoa, na Paraíba. Sofreu várias tentativas de assassinato. Depois de dois anos de prisão foi absolvido por unanimidade pelo STM. Mesmo solto, continuou sendo perseguido. Entrou para a clandestinidade mas continuou atuando na organização do PCB. Atuou em São Paulo, Goiás, Mato Grosso e Paraná. Conseguiu milhares de assinaturas para a campanha a favor da Paz Mundial e também lutou ativamente na campanha “O Petróleo é Nosso”. Em 1957 foi novamente preso por sua militância, principalmente formando Ligas Camponesas e sindicatos rurais. Foi liberto por habeas corpus, impetrado por seus companheiros.
De volta a Pernambuco organizou a Frente Nacionalista de Recife, que elegeu Pelópidas Silveira para prefeito da cidade. No V Congresso do partido, no ano de 1960, é eleito para o Comitê Central. Em 1962 saiu em Viagem pela China, União Soviética e Europa. Na volta dedicou-se à campanha do General Lott e João Goulart. Ajudou a organizar o movimento camponês, que teve crescimento reivindicatório extraordinário no campo e nas cidades nesta época. Mas com o Golpe Militar de 1964, Gregório foi novamente cassado, espancado e barbaramente torturado pelos militares. Durante o período em que esteve preso, foi levado às ruas de Recife, amarrado com cordas pelo pescoço e arrastado, num espetáculo onde a tortura deveria servir de exemplo para aqueles que pretendessem lutar. Gregório foi quase enforcado publicamente e até hoje, as pessoas que presenciaram o espetáculo macabro, acreditam que ele morreu naquele episódio. Ainda na prisão, Gregório recebeu a visita dos Generais Olímpio Mourão e Ernesto Geisel, que negaram que tivesse havido qualquer tipo de tortura com relação a ele e aos outros presos políticos.
Gregório foi processado e condenado por crime de lesa Pátria e por subversão a 19 anos de prisão e sua saúde e integridade física foram totalmente abalados. Foi libertado, somente, no ano de 1969, trocado, junto com 13 presos políticos, pela vida do embaixador americano seqüestrado no Brasil. Foi enviado ao México, Cuba e URSS, onde recebeu assistência médica para tratar de sua saúde. Recuperado, passou a integrar o Movimento Internacional da Classe Operária no exílio. Retornou ao Brasil no ano de 1979, com a Anistia, após publicar seu livro Memórias. Aqui, foi recebido com festa, alegria e carinho por todos e declarou: “Tenho confiança inabalável na compreensão e no sentimento do povo. Eu voltei para me ligar novamente ao movimento de massas e com ele trabalhar até alcançar definitivamente as liberdades democráticas em nosso país”.
Desde que voltou do exílio até seus últimos dias, o herói do povo “Feito de Ferro e de Flor”, conforme o poema de Ferreira Gullar, dedicou suas energias à luta pela derrubada da ditadura, pelas liberdades democráticas e pelo Socialismo. Em 1980 desliga-se do PC, solidarizando-se com Prestes, afirmando que continuaria fiel ao Marxismo-Leninismo e lutando pela Anistia Ampla, Geral e Irrestrita. Em 1982, candidata-se à Deputado Federal por Pernambuco, conseguindo a suplência.
Pouco antes de morrer Gregório declarou: “Gostaria de ser lembrado como o homem que foi amigo das crianças, dos pobres e excluídos; amado e respeitado pelo povo, pelas massas exploradas e sofridas; odiado e temido pelos capitalistas, sendo considerado o inimigo número um das Ditaduras Fascistas”.
Gregório Bezerra morreu em São Paulo à 21 de outubro de 1983, mas a sua vida de lutas deve ficar em nossas lembranças, principalmente para aqueles que têm esperanças num Brasil mais digno para todos.