“Gonçalves Dias nasceu em 10 de agosto de 1823”

 

Gonçalves Dias foi o maior poeta da primeira geração romântica brasileira.

“Gonçalves Dias (Antônio Gonçalves Dias) nasceu em 10 de agosto de 1823, em Caxias, no Maranhão. Era filho de um português branco e de uma brasileira descendente de índios e negros. Mais tarde, estudou Direito, em Portugal, na Universidade de Coimbra. De volta ao Brasil, além de publicar livros, trabalhou como professor e, além disso, foi nomeado oficial da Secretaria dos Negócios Estrangeiros.

 

O poeta, que faleceu em 3 de novembro de 1864, em um naufrágio, faz parte da primeira geração do Romantismo brasileiro. Suas obras, portanto, apresentam elementos indianistas e nacionalistas, como é possível verificar em seus poemas Canção do exílio e I-Juca-Pirama. Além disso, seus textos possuem um caráter teocêntrico e realizam a idealização do amor e da mulher.

 

 

Biografia de Gonçalves Dias

 

Gonçalves Dias foi o maior poeta da primeira geração romântica brasileira.

Gonçalves Dias (Antônio Gonçalves Dias) nasceu em 10 de agosto de 1823, em Caxias, no estado do Maranhão. Seu pai era o comerciante português João Manuel Gonçalves Dias. Já a sua mãe, a maranhense Vicência Mendes Ferreira. Assim, o pai era branco, e Vicência, “mestiça de índio e de negro”, segundo a doutora em Letras Marisa Lajolo.

 

Os pais do autor não eram casados e, quando João Manuel se casou com outra mulher, em 1829, levou o filho para morar com eles. Então, o escritor foi alfabetizado, em 1830, e, três anos depois, passou a trabalhar no armazém de seu pai. Anos depois, em 1838, o jovem Gonçalves Dias partiu para Portugal, onde estudou Direito na Universidade de Coimbra.

 

De volta ao Brasil, passou a viver no Rio de Janeiro, em 1846. Nesse mesmo ano, sua peça teatral Leonor de Mendonça foi censurada pelo Conservatório Dramático do Rio de Janeiro. Já em 1847, recebeu nomeação para trabalhar como secretário e professor de Latim do Liceu de Niterói.

 

 

Em 1849, tornou-se professor de História do Brasil e de Latim no Colégio Pedro II. Dois anos depois, em 1851, viajou para o Norte, em caráter oficial, para analisar a educação pública dessa região. Nesse mesmo ano, pretendeu se casar com Ana Amélia Ferreira do Vale (1831-1905), mas a mãe da jovem não deu o consentimento.

 

Isso porque o poeta, como ele mesmo escreveu em uma carta ao irmão da moça, não tinha fortuna e, “longe de ser fidalgo de sangue azul”, nem ao menos era filho legítimo. Além disso, havia a questão racial, que, ao que tudo indica, também pesou na decisão da mãe de Ana Amélia.

 

Desse modo, o autor iniciou um casamento infeliz, em 1852, com Olímpia Coriolano da Costa. Nesse ano, assumiu o cargo de oficial da Secretaria dos Negócios Estrangeiros. Então, entre 1854 e 1858, trabalhou na Europa, a serviço da secretaria, e, durante esse período, separou-se da esposa, em 1856.

 

Durante os anos de 1859 e 1862, integrou a Comissão Científica de Exploração, que viajou pelo Norte e Nordeste do Brasil. Porém, em 1862, decidiu voltar à Europa para se tratar, pois estava com tuberculose. Dois anos depois, quando retornava ao Brasil, sofreu um naufrágio e morreu em 3 de novembro de 1864.

 

Características da obra de Gonçalves Dias

Gonçalves Dias é um autor da primeira geração do Romantismo brasileiro. Escreveu poemas de caráter indianista, nos quais o indígena é o elemento central, e também nacionalista, por enaltecer o Brasil. Dessa forma, todo poema indianista do autor é também nacionalista, já que o indígena é visto como o herói nacional.

 

No entanto, nem todo poema nacionalista é indianista, como é o caso de Canção do exílio, onde não é possível apontar a figura do índio, mas apenas o bucolismo, quando o eu lírico se refere a elementos da natureza brasileira. Vale ressaltar que o nacionalismo romântico é ufanista, isto é, não é crítico, mas apenas enaltecedor.

 

A cor local, ou seja, as características geográficas e culturais do território brasileiro, também está presente na poesia do autor. Nesse caso, estamos falando da floresta e da cultura indígena, mas não podemos esquecer que o índio romântico é apenas um símbolo brasileiro. Portanto, é idealizado e não realista, de forma que, na maioria das vezes, ele está associado mais a valores burgueses do que a indígenas.

 

Por fim, tanto na poesia indianista quanto na lírico-amorosa, a temática do amor está presente, associada à idealização feminina. Além do mais, já que o Romantismo retoma os valores medievais, o sofrimento amoroso e a perspectiva teocêntrica estão impressos nos versos do poeta romântico.

 

Obras de Gonçalves Dias

 

Capa do livro I-Juca-Pirama, de Gonçalves Dias, publicado pela editora L&PM.[1]

Patkull (1843) — teatro.

 

Beatriz Cenci (1843) — teatro.

 

Primeiros cantos (1846) — poesia indianista e lírico-amorosa.

 

Meditação (1846) — prosa.

 

Leonor de Mendonça (1846) — teatro.

 

Memórias de Agapito (1846) — prosa.

 

Segundos cantos (1848) — poesia indianista e lírico-amorosa.

 

Sextilhas de frei Antão (1848) — poemas de caráter histórico e religioso.

 

Boabdil (1850) — teatro.

 

Últimos cantos (1851) — poesia indianista e lírico-amorosa.

 

Os timbiras (1857) — poema épico indianista.

 

 

Poemas de Gonçalves Dias

O poema “Leito de folhas verdes”, do livro Últimos cantos, é composto por versos decassílabos (dez sílabas poéticas), pouco comuns durante o Romantismo, mas condizentes com o caráter narrativo do poema. Nele, o eu lírico é uma índia que espera seu amado, Jatir, para uma noite de amor. Ela está no bosque, onde fez um leito de folhas para estar com seu amante. Porém, ele não chega, e o dia amanhece:

 

Porque tardas, Jatir, que tanto a custo

A voz do meu amor moves teus passos?

Da noite a viração movendo as folhas,

Já nos cimos do bosque rumoreja.

 

Eu sob a copa da mangueira altiva

Nosso leito gentil cobri zelosa

Com mimoso tapiz de folhas brandas,

Onde o frouxo luar brinca entre flores.

[…]

 

A flor que desabrocha ao romper d’alva

Um só giro do sol, não mais, vegeta:

Eu sou aquela flor que espero ainda

Doce raio do sol que me dê vida.

[…]

 

Meus olhos outros olhos nunca viram,

Não sentiram meus lábios outros lábios,

Nem outras mãos, Jatir, que não as tuas

A arazoia na cinta me apertaram.

[…]

 

Não me escutas, Jatir; nem tardo acodes

À voz do meu amor, que em vão te chama!

Tupã! lá rompe o sol! do leito inútil

A brisa da manhã sacuda as folhas!

 

Já no poema “Urge o tempo”, também do livro Últimos cantos, o eu lírico fala da passagem dos anos, que traz a mudança na natureza. No entanto, segundo a voz poética, o espírito humano, com o decorrer do tempo, adquire maior brilho. Além disso, ela afirma que o afeto não muda, não acaba, mas cresce com o tempo:

 

Urge o tempo, os anos vão correndo,

Mudança eterna os seres afadiga!

O tronco, o arbusto, a folha, a flor, o espinho,

Quem vive, o que vegeta, vai tomando

Aspectos novos, nova forma, enquanto

Gira no espaço e se equilibra a terra.

 

Tudo se muda, tudo se transforma;\

O espírito, porém, como centelha,

Que vai lavrando solapada e oculta,

Até que enfim se torna incêndio e chamas,

Quando rompe os andrajos morredouros,

Mais claro brilha, e aos céus consigo arrasta

Quanto sentiu, quanto sofreu na terra.

 

Tudo se muda aqui! somente o afeto,

Que se gera e se nutre em almas grandes,

Não acaba, não muda; vai crescendo,

Co’o tempo avulta, mais aumenta em forças,

E a própria morte o purifica e alinda.

 

Semelha estátua erguida entre ruínas,

Firme na base, intacta, mais bela

Depois que o tempo a rodeou de estragos.

 

Canção do exílio

O poema “Canção do exílio”, do livro Primeiros cantos, é um símbolo do nacionalismo romântico brasileiro. A obra é composta em redondilha maior (sete sílabas poéticas), um tipo de verso muito usado no Romantismo. Escrito quando o autor estudava em Portugal, em 1843, o poema reflete a saudade que Gonçalves Dias sentia de sua terra natal. Assim, a obra enaltece o Brasil ao afirmar que não existe lugar melhor do que tal país:

 

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o sabiá;

As aves, que aqui gorjeiam,

Não gorjeiam como lá.

 

Nosso céu tem mais estrelas,

Nossas várzeas têm mais flores,

Nossos bosques têm mais vida,

Nossa vida mais amores.

 

Em cismar, sozinho, à noite,

Mais prazer encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o sabiá.

 

Minha terra tem primores,

Que tais não encontro eu cá;

Em cismar, sozinho, à noite

Mais prazer encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o sabiá.

 

Não permita Deus que eu morra,

Sem que eu volte para lá;

Sem que desfrute os primores

Que não encontro por cá;

Sem qu’inda aviste as palmeiras,

Onde canta o sabiá.

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