Terminou em baixaria a divergência pública dos ministros da Cultura, Gilberto Gil, e das Comunicações, Hélio Costa, sobre a definição do padrão tecnológico da TV digital. Durante aula inaugural na Escola de Comunicação da UFRJ, ontem, Gil leu um cordel escrito por uma jornalista de Recife, Luciana Rabelo, em que Costa é chamado de “empresário boçal” e suas manifestações sobre a TV digital de “conversa bosta”.
“Três modelos são usados/ em países estrangeiros./Falta agora o brasileiro/ que já vem sendo estudado,/ mas não é incentivado pelo ministro Hélio Costa/ que com uma conversa bosta/só que saber da imagem/e do que traz de vantagem/o comércio de resposta./Hélio já quer escolher/o modelo do Japão./E nós, a população,/queremos compreender/por que não desenvolver/um modelo brasileiro/e trocar com o estrangeiro/ a nossa experiência?/É preciso paciência,/não pode ser tão ligeiro./Nossa tecnologia/poderá desenvolver/um modelo de TV/que nos dê soberania,/impulsione a economia/ pra benefício geral/e a política industrial/tomará um novo impulso,/mas é preciso ter pulso/ pro sonho virar real”, recitou Gil, que disse não defender nenhum sistema especificamente. O governo brasileiro estuda questões técnicas e contrapartidas oferecidas por representantes dos sistemas japonês (ISDB), europeu (DVB) e americano (ATSC).
Informado sobre a manifestação do colega no Rio de Janeiro, Hélio Costa reagiu desqualificando o ministro da Cultura. “Só lamento a deselegância do ministro. Não é à toa que alguns amigos dele o chamam de Gilberto Vil. Eu entendo agora a razão deles”, disparou Costa, ao comentar que não é o responsável pelas decisões sobre a TV digital, mas um conselho de ministros do qual o próprio ministro da Cultura faz parte, além do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Pelo contrário, muito embora ele (Gil) seja um ausente, e esteja sempre representado pelo verdadeiro ministro da Cultura, que é o secretário-executivo dele (Juca Ferreira). E às vezes, ultimamente nem o secretário-ministro tem aparecido. Nós já realizamos dezenas de reuniões, e ele sabe que não é o ministro das Comunicações que decide. Se ele lesse o Decreto 4.901, que eu duvido que tenha lido, ele saberia direitinho qual é a função do ministro, e qual é a função dele. Mas o despreparo do ministro com relação à comunicação e à TV digital é que leva a isto. Ele não teve sequer o cuidado de ler cuidadosamente sobre a TV digital”, afirmou Costa.
PALAVRAS CHULAS Em entrevista coletiva, o ministro das Comunicações desafiou Gil a recitar o mesmo cordel durante uma reunião do conselho de ministros sobre TV digital. “Primeiro ele deveria ter lido o cordel na frente da ministra Dilma (Rousseff). Queria ver se ele consegue falar bosta na frente da ministra Dilma”, disse Costa ao comentar o “palavreado chulo” usado por Gil na UFRJ.
Ao responder Gil, Costa aproveitou para criticar o ministro da Cultura pela proposta de criação da Agência Nacional do Cinema e do Áudio-Visual (Ancineve), que ele considerou “um monstro”, pois pretendia “taxar em 4% todas as empresas de comunicação do país, para poder pagar as estripulias do doutor Gilberto Gil e seus amigos”. Como senador, Costa foi contra o projeto. “É um absurdo a deselegância, possivelmente ele não leu antes (o cordel). E no fim, como não podia cortar o embalo do bonitinho, ficou o artista fazendo gracinha para um grupo de estudantes em vez de se comportar como ministro de Estado”, completou. Depois das farpas, os ministros poderão se encontrar hoje, já que está prevista nova reunião do comitê de desenvolvimento da TV digital para discutir os detalhes finais do relatório sobre o sistema que será adotado no Brasil.