Arte popular brasileira ganha dicionário que destaca a qualidade da produção e a sofisticação das soluções estéticas em escultura, pintura, arquitetura e design Um saudação e um pouquinho da história de uma brava gente que apesar – ou talvez exatamente pelas dificuldades da vida – faz arte. É isso que dá um valor único ao Pequeno dicionário da arte do povo brasileiro (editora Aeroplano), de Lélia Coelho Frota, que acaba de chegar às livrarias. Em 170 verbetes, 440 páginas, cerca de 800 imagens, abarcando arte, arquitetura e design, abre janela, generosa, de uma bela paisagem artística, para conhecimento de uma multidão de artistas, extraordinários, vindos das camadas mais pobres da população brasileira e, injustamente, pouco conhecidos e valorizados. […] “Os artistas populares do Brasil, ao longo do século XX, criaram um estilo único e têm de ser respeitados por isso. Estou mostrando o painel fortíssimo que a reunião destas obras forma”, explica Lélia Coelho Frota. Na origem do fenômeno está a urbanização, a migração de populações rurais para as cidades, desencadeando um processo de individualização do que eram valores, imagens e práticas coletivas, alimentado, inclusive, pelo desejo dos criadores de ter uma biografia, uma história. A pesquisa evita gueto e rótulos gastos: “Estou falando de arte brasileira contemporânea. Alguns artistas têm até mesmo obra de vanguarda”, avisa. […] O desconhecimento (ou o conhecimento apenas regional) de tantos criadores, segundo Lélia, não remete a preconceitos de classe, mas à precariedade do sistema das artes visuais no Brasil, que gera problema para todos os artistas: “Não se tem uma sala para G.T.O nos museus do mesmo modo que não existe uma sala Guignard”, explica. Depois, como observa, existe na arte brasileira uma circularidade entre arte popular e arte culta. “Elas existem juntas”, frisa. “Falta dar à primeira o mesmo tratamento dado à segunda”, defende. Isto é: biografias, retrato de seus criadores, contexto histórico, livros, exposições etc. […] Os mineiros presentes na obra são: Artur Pereira, Ananias Elias, Bené da Flauta, Carlos Luiz de Almeida, G.T.O, Isabel Mendes da Cunha, Jacinta Gomes Barbosa Xavier, Jadir João Egídio, José Valentim Rosa, Justino de Paula Pires, Maria Lira, Noemiza Batista dos Santos, Norbert Thibau, Raimundo Machado Azeredo, Raimunda de Almeida Martins, Ulisses Pereira. […] Lélia Coelho Frota é escritora e historiadora da arte. Foi presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e diretora do Instituto Nacional do Folclore, da Funarte. Revitalizou e reconceituou o Museu do Folclore Edson Carneiro (RJ) e o Museu de Arte Popular do Centro Cultural São Francisco, de João Pessoa, trabalhos pelos quais tem grande carinho por serem “encontro de instituições com o imenso povo brasileiro”. Pequeno Dicionário da Arte do Povo Brasileiro De Lélia Coelho Frota Editora Aeroplano, 440 páginas