Fred Figner e a Casa Edison, Rio de Janeiro.

Frederico Figner (Fred Figner) nasceu em 2 de dezembro de 1886, em Milesko u Tabor, Boêmia, atual República Tcheca. Em 1882, mudou-se para os Estados Unidos e, ao adquirir cidadania americana, tornou-se comerciante. Sete anos depois conheceu o primeiro fonógrafo em San Diego, Texas. Funcionava à base de uma máquina de costura que tinha de ser tocada com os pés. Segundo o próprio Figner “tinham uns canudos que as pessoas punham nos ouvidos e riam”. Embora não tenha ouvido o som da engenhoca, aceitou a proposta de seu cunhado de serem sócios na compra da máquina. Ainda em suas palavras, “sem querer ter a curiosidade de ver primeiro o que era o tal fonógrafo, aceitei a proposta. Compramos uma porção de cilindros em branco para preparar um repertório e expor nos países latinos”. Excursionou pela América Latina por um período de 15 meses, até que decidiu vir para o Brasil.

Em 1900 montou, na Rua do Ouvidor, 107, no Rio de Janeiro, uma loja dedicada a vender geladeiras, máquinas de escrever e aparelhos de som (máquinas falantes) que, na época, se utilizam de cilindros gravados. Em homenagem ao grande inventor norte-americano Thomaz Alva Edison, registrou sua loja como Casa Edison.

Logo em seguida surgiram os discos de cera para serem rodados nos fonógrafos e, em 1901, Figner se associou à indústria de discos alemã Zon-O-Phone, pertencente ao conglomerado Carl Lindström, para lançar e gravar discos com excluvidade. Dois técnicos de som desembarcaram no Rio de Janeiro no final do ano para montar o primeiro estúdio de gravações brasileiro. Figner instalou o estúdio em uma sala anexa a Casa Edison, na Rua do Ouvidor, número 105. Nessa época, as gravações eram feitas pelo modo mecânico de gravar, ou seja, o artista cantava e o deslocamento de ar produzido pela voz fazia com que um diafragma fizesse um desenho na cera. Foi na Casa Edison que, em 1902, aconteceu o primeiro registro fonográfico no Brasil: o lundu “Isto é bom” interpretado por Bahiano.

O primeiro lote de gravações contava com nomes populares como K.D.T., Bahiano, Mário Pinheiro e Nozinho. E assim começaram a ser fabricados os primeiros discos em 78 rpm. Em seguida foram gravados os “maxixes” executados pela Banda do Corpo de Bombeiros do Rio, sob a regência do maestro Anacleto de Medeiros. Foi um sucesso de vendas, o que permitiu a expansão dos negócios. Figner fundou filiais em São Paulo e Porto Alegre, montando um estúdio na capital gaúcha, onde registrou artistas locais, como o cantor Xiru e o grupo de choro Terror dos Facões.

As gravações começavam sempre com um locutor anunciado: “Esta é uma gravação original da Casa Edison, Rio de Janeiro”.

Em 1911, associando-se à Odeon, pertencente à firma holandesa Transoceanic, Figner instalou, no bairro de Vila Isabel, a primeira fábrica de discos do Brasil: a Fábrica Odeon, com 500 funcionários e uma produção de 30 mil chapas por mês. O Brasil se tornou, na época, o terceiro maior mercado discográfico do mundo (à frente dos Estados Unidos e da Alemanha), posto que perdeu depois da Primeira Guerra Mundial e nunca mais recuperou.

Fred Figner enriqueceu, tornando-se proprietário de tudo o que se produzia em música brasileira. Como próximo passo, montou a primeira loja de varejo do Brasil, com um sistema de distribuição em todo o país, com filiais, vendedores pracistas e produção de anúncios e catálogos.

Em 1925, a empresa holandesa Transoceanic é encampada pela Columbia Gramophone de Londres, que desenvolveu o sistema de gravação elétrica inventado pela Western Electric. No ano seguinte, a Transoceanic – Odeon afasta Figner, passando a dominar a distribuição de discos no Brasil.

Em 1927, Fred Figner entrega o selo Odeon e passa a gravar pelo selo Parlophone, da Inglaterra.

Em 1932, a Transoceanic afasta Figner do negócio de discos e, a partir daí, a Casa Edison se restringiu a comercializar máquinas de escrever, geladeiras e mimeógrafos.

Em 1960, encerrou suas atividades como oficina de máquinas de escrever e calcular.

Com 40 mil títulos lançados ao longo de 28 anos, a Casa Edison marcou a etapa heróica da gravação de discos no Brasil.

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