Folclore na alma

 

 

 

 

 

 

No Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa, folclore é o conjunto de costumes, lendas, provérbios, manifestações artísticas em geral, preservado, através da tradição oral, por um povo ou grupo populacional; cultura popular, populário, sendo a ciência das tradições, dos usos e da arte popular de um país ou região . A denominação deriva dos termos folk (povo) e lore (saber), ou seja, onde há um povo reunido, há folclore.

 

Faltando uma semana para se celebrar o Dia Mundial do Folclore, em 22 de agosto, quando são realizados por todo o país vários eventos temáticos, conversamos com especialistas para saber a situação do folclore no estado. Afinal, em pleno século XXI, com mudanças atingindo vários segmentos, como o folclore resiste ao tempo?

 

O professor universitário e folclorista Domingos Diniz, professor da UEMG e da Escola Guignard, alerta que nessa área há algumas informações errôneas que acabaram se propagando. Primeiro, temos de levar em consideração que não existe um folclore mineiro, brasileiro, ou qualquer outro folclore nessa linha. Há sim, manifestações folclóricas localizadas, mas nunca se pode afirmar, com exatidão, a real origem de um costume. Por isso o correto é dizer folclore em Minas Gerais ou no Brasil. Uma característica do folclore é ser espontâneo, ou seja, ele não é ensinado, é aprendido no convívio, geralmente é transmitido de geração a geração. Folclore é coisa séria , explica Diniz.

 

Para o professor, sequer as pessoas se dão conta de que estão cercadas diariamente por elementos folclóricos. Os provérbios são exemplos latentes do folclore. Quando alguém diz catar milho na datilografia ela está dizendo uma expressão folclórica, o mesmo se aplica ao temo tomar bomba para o aluno reprovado. Agora, infelizmente o uso adjetivado do termo folclórico foi sendo disseminado como referência pejorativa para pessoas de índole duvidosa , conta o professor.

 

É preciso atenção, porque todo folclore é popular, mas nem tudo que é popular é folclore. O candombe, por exemplo, não é folclore, é uma religião. O futebol e a música sertaneja são manifestações populares. Com a intensa profissionalização, a escola de samba também está deixando de ser folclórica para ser de cultura de massa , diz.

 

CARRANCA

O especialista diz que em Minas Gerais ocorre um universo folclórico muito rico. O congado, a folia de reis, são muito fortes no estado. As celebrações de congado começam agora, em 15 de agosto, Dia de Assunção de Nossa Senhora, e se estendem até dezembro. Outra manifestação típica em Minas é a Dança de São Gonçalo, que é composta por 14 rodas de dançadores que vão às casas dos fiéis e dançam em ações de graças como pagamento de promessas. É muito comum em Barra do Guaicuí e em Pirapora. Outro símbolo forte em Minas é o da carranca. Elas surgiram como elemento estético, foram tornando-se antropomórficas e com o passar do tempo transformaram-se em objeto com poder de proteção , completa.

 

Tudo o que é superstição, advinhas, danças de roda, mitos e lendas são manifestações folclóricas. Entre os mitos mais populares estão o saci, o lobisomem, o boto, o caipora ou curupira e a mãe-d água, só para citar alguns. Mito só existe no imaginário. Já as lendas baseiam-se em fatos reais. Em Minas, temos a lenda do sumiço da cabeça de Tiradentes, tem a lenda do São Francisco, de que à noite o rio dorme, a correnteza pára e as almas dos que morreram afogados vêem à tona , diz o professor Diniz.

 

Segundo o especialista, o folclore sobrevive ao longo dos séculos naturalmente e vai avançando, acompanhando as evoluções. No passado, existiram evoluções tecnológicas que muitos acreditaram que iriam suplantar o folclore. Isso não ocorre. Hoje temos até astronauta, internet, e o folclore persiste, pois tudo o que não é oficial, é folclore. Não há nenhuma cultura pura, incólume, estanque, há e haverá sempre misturas .

 

Um dos pontos altos dessa comemoração é a Semana Mineira de Folclore, que chega à 42ª edição. De hoje a 25 de agosto, diversas atividades serão realizadas em Belo Horizonte, Ipatinga, Bom Despacho e Vespasiano. Oficinas de artes, palestras, debates e lançamento de monografias estão na programação, que será aberta hoje, no Laces/JK (Rua do Caetés, Centro), a Exposição Comemorativa do Mês do Folclore. As visitas podem ser feitas até 31 de agosto, de segunda a sexta-feira, de 9h às 18h. Também podem ser agendadas visitas ao Museu do Folclore Saul Alves Martins, em Vespasiano.

 

¨É preciso atenção, porque todo folclore é popular, mas nem tudo que é popular é folclore. O candombe, por exemplo, não é folclore, é uma religião. Com a intensa profissionalização, a escola de samba também está deixando de ser folclórica para ser de cultura de massa.¨, Domingos Diniz, professor universitário e folclorista

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