Flip/Internacional – 2007

 

 

 

 

Do desprendimento do mexicano Guillermo Arriaga à sisudez do sul-africano J. M. Coetzee, a Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, iniciou (com a apresentação da Orquestra Imperial) sua quinta edição e vai até domingo sob a marca do ecletismo. Depois que eventos políticos, sobretudo internacionais, deixaram fortes rastros nas festas passadas, a meta agora é apostar na diversificação. Algo tão bem encarnado pelo homenageado deste ano, Nelson Rodrigues, que foi dramaturgo, escritor e cronista esportivo, tratando desde as mazelas da classe média urbana como exaltando os feitos do Fluminense e da seleção.

 

“A unanimidade é burra”, disse ele, certa vez, com um inesperado tom profético. Afinal, Nelson sabia, como poucos, transformar histórias em armadilhas envolventes. É o caso, por exemplo, de O Beijo no Asfalto, uma das peças mais populares do dramaturgo, que ganha uma leitura no sábado, às 22 horas, na Tenda dos Autores. Escrita em 1960 a pedido da atriz Fernanda Montenegro, a peça tem uma trama simples: um homem atropelado pede um beijo antes de morrer. Arandir, que estava passando pelo local do acidente, atende ao desejo do homem. A partir daí, vê sua vida entrar em um turbilhão.

 

“Quero que os participantes façam intervenções. Quero todo mundo no palco, inclusive a platéia”, conta Bia Lessa, que vai dirigir um elenco eclético formado por Liz Calder, Chacal, Nelson Motta, Sérgio Sant´Anna, André Sant´Anna, Silviano Santiago, Jorge Mautner e outros.

 

Todos ficarão no palco ao mesmo tempo. Atrás deles haverá uma projeção de Miguel Rio Branco: uma imagem de um cachorro vira-lata adormecido na rua. Um grupo de ritmistas ficará responsável pelas intervenções sonoras como ruídos e trilhas musicais. Bia planejou uma leitura sem começo e fim: “Quem for chegando à tenda já encontrará os autores no palco, batendo papo. E pode terminar assim também.”

 

O Beijo no Asfalto ganhará edição trilíngüe (português, inglês e francês), editada pela Nova Fronteira, que também lança uma graphic novel da história. Já a Agir, que vem publicando a obra em prosa do escritor, alimenta a festa com dois livros preciosos: O Óbvio Ululante, crônicas memorialísticas, e O Berro Impresso das Manchetes, íntegra de todos os textos publicados na revista Manchete Esportiva, na década de 1950. Nelson será ainda tema de debates coordenados por sua filha Sônia Rodrigues. E, nas noites de amanhã e sábado, no Che Bar, em Paraty, ocorre o projeto Doses Literárias Buchanan´s, esquetes de, no máximo, três minutos, com os atores Domingas Person e Ivo Müller.

 

A atividade mais esperada, no entanto, serão as 20 mesas reunindo escritores nacionais e estrangeiros. Um dos momentos mais esperados está programado para a noite de sábado, quando o ganhador de Nobel J. M. Coetzee vai ler trechos de seu romance inédito, Diary of a Bad Year.

 

Outra premiada com o Nobel, a também sul-africana Nadine Gordimer, se destaca em meio a uma constelação de grandes nomes da literatura, como o israelense Amós Oz, o moçambicano Mia Couto, o inglês Robert Fisk, o americano Lawrence Wright (prêmio Pulitzer pelo livro O Vulto das Torres) e os argentinos Alan Pauls e César Aira.

 

Dos autores brasileiros estão confirmados Antônio Torres, Fernando Morais, Chacal, Paulo Lins, Ruy Castro, Paulo César Araújo, Verônica Stigger, Mário Bortolotto e outros. Uma palestra que deve despertar interesse é a do historiador Luiz Felipe de Alencastro: o clássico O Coração das Trevas, de Joseph Conrad.

05/07/07

Compartilhar: