Não é de hoje que o samba vem discutindo sua relação com o carnaval. Exatamente por isso é que em reunião, no restaurante Petit Fubá em Curitiba, dia 01 de agosto de 2009, parceiros do Festival Paranaense do Samba, tiraram o sábado para discutir detalhes do evento que se realizará no final do ano. Após a reunião e a deliciosa feijoada da Dona Jura, como não podia deixar de ser, o talento dos sambistas presentes estendeu a reunião tarde adentro com muito samba e batucada!
Há quem diga que o Brasil é o país do carnaval. E há quem faça do carnaval samba-enredo de um ideal. Há quem vista a fantasia da felicidade e saia por aí, fingindo que está tudo bem. Há, entretanto, felizmente, na terra do Rei Momo, quem desafine e imponha acordes dissonantes, contrariando as normas dos fazedores de samba, é o caso, por exemplo, de um grupo de sonhadores, alguns deles ligados ao Centro Cultural Humaitá, que, resolveram impor uma batida nova de reflexão e resistência, numa terra que para os desconhecedores e insensíveis, não dá samba no pé: Curitiba.
À apresentação da edição 2008 do evento, seguiu-se a discussão sobre a proposta de atividades para 2009, que terá etapas acontecendo também em Antonina e Tibagi. Shows, oficinas, apresentações de rua, homenagens, debates e palestras, filmes e exposições fazem parte da programação prevista.
O objetivo do Festival é fortalecer e dar visibilidade ao samba no Paraná – em todas as suas vertentes – do samba rural ao carnaval. Para tanto, o Festival Paranaense do Samba se propõe reunir a Velha Guarda e a nova geração de sambistas, valorizar a produção local, promover vivências práticas, intercâmbios de experiências e reflexões sobre o samba paranaense.
(foto: Jornalista e compositor Cláudio Ribeiro, Gestor cultural Glauco Souza Lobo, Mestre Maé, Cel Xavier e Mestre Amauri) – Estiveram presentes D. Tereza e Mestre Maé da Cuíca (Ismael Cordeiro), fundador da extinta Escola de Samba Colorado, D. Dudu e o Sr. Glauco Souza Lobo, do GT Clóvis Moura/SEEC, o Coronel Xavier, os compositores Cláudio Ribeiro e Pedro Perereca, respectivamente Diretor de Lazer e Políticas Públicas para a Juventude da Paraná Esportes e representante da Secretaria de Cultura de Antonina, responsável pelo desenvolvimento do projeto em Antonina, a antropóloga e cantora Selma Baptista, o maestro Milton Karan, representando o Sr. Herculano Lisboa, da Secretaria de Estado do Turismo, Robson Luiz Marciniaki, Secretário da Cultura de Antonina, Mestre Amauri, mestre de bateria, Fabien Santos Vidal e Jewan Antunes, produtores culturais, Rafael Ribeiro (historiador), Emerson Marcel Santos e Jéferson Santos, da Escola de Samba antoninense, Filhos da Capela, Ricardo Salmazo cantor e compositor, do Combinado Silva Só, e Ana Elisa, Don Joey, Melissa e Candiero, do Centro Cultural Humaitá. Foram convidados também a Secretaria de Cultura e a Secretaria de Turismo de Tibagi, a Fundação Cultural de Curitiba, a Secretaria da Cultura do Estado, a Rádio e TV Educativa, a Secretaria de Assuntos Estratégicos e representantes da Câmara de Vereadores, que não puderam estar presentes.
Após a apresentação do projeto, tomou a palavra o Maestro Milton Karan, para firmar sua parceria na organização do evento e a parceira da Secretaria de Turismo na divulgação. Em seguida, o produtor Fabien Santos falou sobre a importância de descentralizar as atividades do evento, levando-as para mais perto da comunidade.
Em sua fala o jornalista e compositor Cláudio Ribeiro chamou a atenção para a capacidade transformadora do samba e para a necessidade de medir os impactos sócio-econômicos das culturas populares e de um evento do porte do Festival Paranaense do Samba para a comunidade. Propôs a criação de um Núcleo da Conferência de Cultura durante o Festival, antes da Conferência Nacional de Cultura. “Não se pode falar em samba e culturas populares sem falar em geração, de renda, de trabalho e de turismo e fundamentalmente a força de libertação”, ressaltou, lamentando a ausência dos principais gestores públicos. Disse o compositor que para explicar esta característica libertadora do samba, é necessário ressaltar a cultura negra africana e a importância da música pois, para o negro africano, a música se faz presente nas mais diversas atividades de sua vida.
Mas,como salientou Selma Batista, o importante é que o Festival Paranaense do Samba é uma iniciativa que parte da comunidade, e não dos poderes públicos. A comunidade está formulando as suas questões e em seguida levando aos gestores. Professora Selma aproveitou para anunciar o video do carnaval que ela e sua equipe de pesquisadoras estão preparando, em parceria com o projeto Olho Vivo. E, apesar da apertada agenda de trabalho, se colocou a favor de uma parceria mais ampla com as escolas de samba, tanto no que tange às oficinas quanto às apresentações e os shows.
O Secretário da Cultura de Antonina apontou para o fato de que o Festival Paranaense do Samba produz documentação significativa para a criação de políticas públicas que coloquem o samba no lugar digno que ele merece. O financiamento do projeto, sobretudo a parte relativa à estrutura física do evento, é viabilizada pelas instituições, mas os elementos que dependem de apoio financeiro,continuam em aberto.
Mesmo na alegria do samba, há uma imensa tristeza; um lamento contínuo e profundo. Tem ligação com a situação secular de exploração e penúria dos negros. Mas o resultado, o formato externo é uma tremenda força. Força muito maior que a tristeza. Força para transformar. Força transformadora.
O Coordenador do Instituto Clóvis Moura, Glauco Souza Lobo falou do problema da falta de memória e de cultura de registrar o que acontece no universo cultural afrodescendente e das culturas populares, em especial, para as próximas gerações.
Para eles, o samba tem grande importância na história de nosso povo e de nossa cultura, já que foi reprimido a ferro e fogo no início do século pelas classes dominantes, mas que através de ferrenha Resistência Popular conquistou seu espaço, tornando-se hoje um ritmo mundialmente conhecido e identidade do povo brasileiro. Em conclusão, foram debatidos alguns pontos do evento, como sugestões para nome da premiação que será ofertado à personalidades que fazem e fizeram o samba no Paraná. Prêmio Vila Tassi? Prêmio Tamborim de Ouro, Cavaquinho de Ouro, Pandeiro de Ouro? Indicações de nomes para palestrantes, oficineiros e artistas que virão a compor a programação do Festival. Para tal, uma Comissão Organizadora está sendo criada.
Para maiores informações:
Centro Cultural Humaitá