No ano em que o Brasil disputa o título de campeão do mundo de futebol pela sexta vez, o Arquivo Nacional traz uma imagem emblemática da Copa de 70. A reedição da exposição Registros de uma Guerra Surda, que foi aberta, no Rio de Janeiro, tem uma foto do ex-presidente da República, Emílio Garrastazu Médici, erguendo a taça do mundial, a Jules Rimet, na conquista do tricampeonato, no México.
A cena foi flagrada pelo jornal Correio da Manhã, um dos periódicos mais críticos à ditadura militar e que fechou em 1974, no último ano do governo Médici. Considerado por organizações de direitos humanos o mais duro presidente do regime, ele teve o mandato, entre 1969 e 1974, conhecido como Anos de Chumbo. Nesse período foi morto, sob tortura, o jornalista Vladimir Herzog.
O flagrante de Médici compõe um dos quatro eixos da exposição. A foto está na parte que revela como os militares conquistaram apoio de parte da população. “A ditadura militar ficou tantos anos no poder porque, embora alguns setores da sociedade se articulassem para combatê-la, muitas pessoas apoiavam [o regime]. Tinham medo do que os militares chamavam de terroristas”, diz Viviane Gouvêa, cientista política e curadora da mostra desde a primeira edição, em 2011.
Registros de uma Guerra Surda também apresenta ao público, na sede do Arquivo Nacional, no centro do Rio, o documento original do Ato Institucional Número 5 (AI-5), decretado no fim de 1968. A mostra também exibe correspondências de autoridades militares minimizando denúncias de tortura a presos políticos, divulgadas no exterior por organizações defensoras dos direitos humanos, como a Anistia Internacional.
A exposição Registros de uma Guerra Surda é reapresentada no Arquivo Nacional durante o seminário Ditadura e Transição Democrática (Fernando Frazão/Agência Brasil)
Fotografia do presidente Médici segurando a taça Jules Rimet após a conquista do tricampeonato da Copa do Mundo é um dos destaques da mostraFernando Frazão/Agência Brasil
Movimentos de reação ao golpe, incluindo uma imagem do congresso da União Nacional de Estudantes (UNE) em Ibiúna (SP), realizado de forma clandestina em 1968, também constam da exposição. No congresso, foram presas centenas de pessoas, como o político José Dirceu e o jornalista Franklin Martins, líderes estudantis na época.
“O congresso de Ibiúna foi o último por muitos anos. Depois desse ataque, o movimento estudantil foi completamente desarticulado, em uma época em que o movimento sindical já estava desarticulado e só retornou em meados da década de 70”, disse Viviane.
Outro destaque é a listagem original de nomes de militantes presos entregue aos militares que deveriam ser trocados pelo diplomata alemão Ehrenfried Anton Theodor Ludwig Von Holleben, sequestrado por um grupo de resistência ao regime.
A exposição fica em cartaz até domingo (18), entre 8h30 e 18h, e integra o seminário Ditadura e Transição Democrática – Cinco Anos de Memórias Reveladas nos 50 Anos do Golpe de 1964. O evento inclui ainda um debate sobre a fotografia na ditadura. Intitulado Retratos da Resistência: a Ditadura na Lente dos Fotógrafos, o debate será às 14h, na quinta-feira (15), na sede do Arquivo Nacional.
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