Esplendor da arte

AlejadinhoO maior conjunto de esculturas em madeira de autoria de Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1730-1814), enche os olhos e acelera o coração de quem chega à Matriz de Nossa Senhora do Pilar, em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Os sentimentos afloram ainda mais com a restauração, na reta final, de quatro altares de cedro, dois púlpitos e uma tarja do arco-cruzeiro, a única que ainda apresenta policromia, feitos pelo gênio do barroco entre 1784 e 1786. Livre dos cupins, das camadas de verniz e betume e de interferências inadequadas, o acervo convida, de imediato, à contemplação, tal é o esplendor proporcionado pelas imagens da Santíssima Trindade, anjos e outros ícones da arte sacra.

“O mais bonito, em todo esse processo, é ver o envolvimento da comunidade e presenciar as demonstrações de fé. Mesmo com o projeto em andamento, as pessoas vêm diariamente à igreja, rezam e observam os nossos serviços, certas de que a igreja é um patrimônio”, afirma a professora Bethania Veloso, coordenadora da obra e diretora do Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis (Cecor) da Escola de Belas Artes da UFMG, instituição à frente da empreitada.

Ela destaca que acompanha o projeto pesquisa para traçar o caminho percorrido pelo acervo, desde que foi transferido para Nova Lima, no início do século 20, da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Jaguara (século 18), em Matozinhos, na Grande BH. Um dos aspectos mais alarmantes dessa história está na perda dos douramentos e cores originais da peças, que durante 20 anos teriam ficado desmontadas e guardadas em péssimas condições. Assim, a maioria do conjunto traz agora o tom natural do cedro.

Na manhã de ontem, o trabalho de restauro seguia a todo vapor para que seja concluído até 27 de novembro, quando, finalmente, depois de um ano de espera, os moradores poderão ver o interior da igreja sem os andaimes que parecem chegar ao céu, painéis que mostram a situação anterior das peças e telas protetoras. O restauro do conjunto de esculturas da matriz, que fica no Centro de Nova Lima e é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), custou R$ 587 mil, com patrocínio do Ministério do Turismo (83,4%) e restante da prefeitura local.

Durante as obras, houve descobertas que estimularam mais a equipe, integrada ainda pela professora de restauração e conservação do Cecor/UFMG Eliana Ambrosio, especialista e coordenadora local Denise Mampert, marceneiro José Antônio Torres, conhecido como Mosquito, quatro aprendizes da própria cidade, auxiliares e estagiários. No altar dedicado a Nossa Senhora da Conceição, a surpresa foi encontrar, segundo Bethania, um sacrário até então desconhecido da maioria dos fiéis. Encobrindo a porta de madeira, tudo indica desde a década de 1930, estava um suporte (nicho) para instalação de uma imagem do Sagrado Coração de Jesus. Para o mesmo altar, a equipe localizou o segundo trono da santa, que tem pintura marmorizada. No altar do Sagrado Coração de Jesus, também foi encontrado o segundo altar do trono, que estava desaparecido.

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