Pintor, escritor, músico, professor e homem público — o itanhaense Emígio de Souza foi um dos grandes nomes da cultura paulista no final do século XIX e início do XX.
Antes de mais nada, é importante destacar: Emígio Emíliano de Souza foi muito mais que um pintor. Natural de Itanhaém, onde nasceu em 21 de maio de 1868, destacou-se também como escritor, contista folclórico, dramaturgo, compositor, professor e servidor público, deixando um legado cultural e histórico de grande valor para o litoral paulista.
Aos 18 anos, em 1886, já revelava seu talento artístico ao pintar dois quadros primitivistas (ou naïfs) que chamaram a atenção pela originalidade e pelo vigor das cores. Entre 1888 e 1890, foi convidado por Benedito Calixto, seu conterrâneo e mestre consagrado, a ir para Santos, onde colaborou em diversos trabalhos e recebeu aulas de aperfeiçoamento em pintura.
Em 1890, retornou à sua cidade natal, continuando a produzir e a se envolver em atividades culturais e políticas. Foi vereador da Câmara Municipal de Itanhaém entre 1893 e 1895, participando da primeira legislatura do regime republicano. Também atuou como professor público entre 1892 e 1900, lecionando na Escola do Bairro do Poço (atual Belas Artes). Mais tarde, entre dezembro de 1931 e junho de 1932, exerceu o cargo de Secretário da Prefeitura Municipal.
Um encontro marcante com Alfredo Volpi
Em 1939, o destino colocou Emígio de Souza em contato com outro grande nome da pintura brasileira: Alfredo Volpi. Na época, Volpi frequentava Itanhaém devido ao tratamento de saúde de sua esposa, Judite, e acabou conhecendo o velho pintor local.
Conta-se que Volpi ficou impressionado com as “virtudes de colorista e de construtor de imagens” de Souza. O primeiro contato entre os dois se deu de maneira curiosa: Volpi viu uma pintura de Souza exposta em um armazém da cidade e, encantado, perguntou se estava à venda. Comprou-a imediatamente por dez mil réis — e, com o tempo, adquiriu muitas outras obras do artista itanhaense.
Uma dessas pinturas chegou até São Paulo, onde foi admirada pelo poeta chileno Pablo Neruda, que mais tarde receberia o Prêmio Nobel de Literatura (1971). Encantado com a tela, Neruda expressou seu entusiasmo — e Volpi, generosamente, presenteou-o com a obra.
Reconhecimento e legado
O talento e a trajetória de Emígio de Souza foram reconhecidos em vida. Em 23 de janeiro de 1943, concedeu uma entrevista ao jornal Correio Paulistano, ao jornalista e crítico de arte Ibiapaba Martins, que o descreveu como “um dos maiores pintores do Brasil”.
Mesmo com o passar do tempo, Emígio Emíliano de Souza permanece como uma das figuras mais fascinantes da história cultural de Itanhaém — um verdadeiro polímata, cuja vida dedicou-se à arte, à educação e ao serviço público, deixando um rastro de inspiração que atravessa gerações.

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