Num momento em que a indústria fonográfica mundial está buscando novos formatos e tentando sair da crise, popularizar a troca de música legalizada na internet, via arquivos de compressão como MP3, é uma das opções mais visí veis. Mas não a única. Os sites de downloads de música pela internet já são uma realidade por aqui. Mas outras opções vão surgindo.
Na busca de novos formatos, a gravadora Trama, por exemplo, acaba de lançar um CD com cem músicas de seu catálogo no formato MP3. Ou seja, num único CD, você pode ter o equivalente a cerca de dez discos. Não é uma idéia inédita no Brasil. Já foi lançado um CD do selo gospel MK Publicitá nesse formato. E em feiras do Nordeste já se comercializam CDs com músicas gravadas em MP3, feitos por artistas populares que não têm gravadora.
Mas a iniciativa da Trama parece estar dando certo, porque a primeira tiragem do volume 1 de seu CD MP3 compilação (que custa R$ 50) já está se esgotando.
— Nós prensamos dois mil CDs e a tiragem já está acabando. Vamos fazer mais — diz João Marcello Bôscoli, presidente da Trama.
Ele diz que o CD MP3 é apenas um dos formatos no qual a Trama quer apostar para o futuro.
— Nós trabalhamos com vários formatos: O CD normal, o CD-single, o CD MP3, CD num envelope de papelão, músicas para download na internet. Não sou chegado no Dual Disc, a gente não vai entrar nessa. Mas estamos em curso de liberar alguns títulos para o Super Audio CD (SACD) que é o concorrente do DVD Audio.
A idéia do CD MP3 não agradou a alguns colegas do mesmo métier . Como Felippe Llerena, dono da Nikita Records e sócio-diretor do site de downloads iMusica.
— Acho um absurdo que uma empresa que trabalhe com áudio venha entregar música para seu consumidor em MP3, que é o pior tipo de compressão possível — diz Felippe Llerena. — Não acho a iniciativa nada demais e não acho que isto vá incentivar as pessoas a comprarem mais música.
No entanto, Llerena vende músicas compactadas pela rede. Onde está a diferença, então?
— Eu uso WMA, um formato compactado que é bem superior ao MP3, e o meu negócio de venda é pela internet. Para baixar, tem que ser compactada…
— A Trama não vê o MP3 como uma coisa ruim. Nunca viu. O MP3 é um formato que já está estabelecido na cabeça das pessoas, não é um formato obscuro, todo mundo conhece — diz Bôscoli.
E quanto ao som? Por comprimir muito o áudio original para caber no pequeno espaço, certos detalhes são perdidos no MP3.
— Eu não amo o som do MP3, mas é uma mídia que até minha avó já ouviu falar. Sou contra a ditadura do formato. Estamos na era do multiformato. Pensamos até em lançar no futuro chaves USB MP3. — rebate Bôscoli.
Nesse ponto, Llerena concorda com Bôscoli, mas em parte.
— Pode ser que haja uma sinergia interessante com os MP3 players — portanto que vendam suas músicas diretamente em MP3 players ou em pen drives . Mas ainda acho mais fácil ir em sites de MP3 e comprar as músicas.
Llerena comprova o que diz com números do seu iMusica:
— Temos tido cada vez mais visitas no site. Estamos vendendo, em média, 20 mil downloads por mês e temos 120 mil músicas para venda. E até o fim do ano esperamos chegar em 300 mil — exulta.
Atualmente, os downloads no site da Trama custam até R$ 2,99. No iMusica saem por entre R$ 0,99 e R$ 1,99, mas Felippe avisa que vai acontecer um reajuste que deixará os preços entre R$ 1,99 e R$ 2,99.
— Vamos mudar os preços porque 99 centavos é difícil para fazer dinheiro. O ideal seria ter um preço único, mas não dá, por causa dos contratos de direitos.
O CD da Trama traz os mais diversos artistas do cast nacional da gravadora, num balaio de gatos que mistura o DJ de house Anderson Soares, os sertanejos Caju & Castanha e o rapper Rappin´ Hood. Não pode confundir o ouvinte?
— A lista está em ordem alfabética. Então é fácil identificar e pular a faixa ( CDs de MP3 trazem gravados o nome da música e dos artistas na ID Tag ). Nossa idéia foi evitar o lance do hype , não ter só artistas de um estilo. Queria ter todo mundo na lista — diz Bôscoli.
E, como para a maioria das pessoas não é fácil fazer uma compilação, achar as músicas na internet, selecionar e depois queimar o CD, a opção da Trama facilita o processo. Agora cabe ao público saber por qual padrão vai optar e se vai comprar as novas idéias que surgem. Uma coisa é certa: o futuro da música ainda é incerto.
Tom Leão