Editora distribui ficção latino-americana

 

Editora distribui ficção latino-americana de graça

Uma microeditora de São Paulo vai distribuir a partir desta semana gratuitamente seis livrinhos bilíngües português-espanhol com textos de escritores clássicos e contemporâneos latino-americanos. Repetindo: uma microeditora paulistana vai distribuir clássicos e contemporâneos latino-americanos. E de graça.
Pode pagar para ver. Ou melhor, não pode. A editora chamada Amauta não quer um tostão pelos seis livros que diagramou, traduziu, ilustrou, revisou, imprimiu e que diz que distribuirá não só em São Paulo, mas em Buenos Aires e na Cidade do México.
A editora Amauta não tem patrocínio e não é rica como os donos de emissoras de TV que distribuíam cédulas como aviões de papel aos gritos “quem quer dinheiro?”. Lança a série Muro de Tordesilhas hoje apoiada em bandeiras culturais-ideológicas (e em uma pitada de tino comercial).
“Queremos aproximar as duas línguas e as ficções da América Latina. Apresentar autores clássicos e contemporâneos de língua espanhola para os brasileiros -e vice-versa. E, claro, queremos divulgar nossa editora também”, conta o editor Marcelo Barbão, um dos donos da Amauta.
O pacote inicial da série Muro de Tordesilhas tem entre os seus méritos a publicação de um dos nomes mais importantes da história da literatura latino-americana (e um dos mais esquecidos pelo mercado editorial brasileiro).
Considerado o pai do modernismo latino (que, diga-se, nada tem a ver com o seu equivalente brasileiro), o nicaragüense Rúben Darío (1867-1916), praticamente inédito no Brasil, tem seu conto “O Pássaro Azul” lançado em um dos livrinhos. Barbão diz que a editora estuda publicar os contos completos do autor que, segundo Jorge Luis Borges, “renovou tudo: a matéria, o vocabulário, a métrica, a magia peculiar de certas palavras, a sensibilidade do poeta e de seus leitores”.
Ao menos um dos seis autores da coleção terá um livro em formato convencional publicado pela Amauta, que foi criada em 2004 e já publicou o espanhol Max Aub e o mexicano Salvador Elizondo. O argentino Martín Kohan, 37, tem lançado agora o conto “Uma Pena Extraordinária” como aperitivo para a novela “Duas Vezes Junho”, que a editora lançará em junho, com a presença do escritor.
Um gigante do conto latino, o uruguaio-argentino Horacio Quiroga (1878-1937), completa o trio de “hermanos” da coleção dos livrinhos gratuitos, com a narrativa breve “Os Imigrantes”.
Se o lado latino da coleção tem dois clássicos e um contemporâneo, do lado brasileiro é o inverso. Nascidos em 1967 (como Kohan), estão na série o paulistano Rogério Augusto, com “Além da Rua”, e o pernambucano Marcelino Freire (que já organizou a série de livros gratuitos “Cinco Minutinhos”), com “Cidade Ácida”.
A frota brasileira da série é completada com um “clássico” nada convencional. “Não queríamos mais um livrinho de Machado de Assis, então escolhemos Qorpo Santo”, diz Barbão, em referência ao estranho gaúcho (1829-83) de quem publicam a peça “Um Credor da Fazenda Nacional”.
Os seis “livros demo” (como a editora os chama, a conselho de Glauco Mattoso), cada um com tiragem de 500 exemplares, terão lançamento ainda neste mês no México. Sempre de graça.

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Coleção Muro de Tordesilhas
Editora: Amauta

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