Diretores reforçam queixas ao MinC

 

 

O imbróglio que se formou com as críticas trocadas entre o poeta Ferreira Gullar e Sérgio Sá Leitao, secretário de Políticas Culturais do Ministério da Cultura, continua na classe artística, principalmente na área de cinema, que em dezembro encabeçou um abaixo-assinado a favor de Gullar, e que se queixa de centralizaçao de recursos para o setor.

 

Segundo Sá Leitao, a motivaçao do abaixo-assinado, liderado por Zelito Viana e Luiz Carlos Barreto, é o fato de eles nao estarem mais recebendo recursos para projetos. O diretor Zelito Viana rebate a acusaçao:

 

? Ele fala isso para desviar a atençao das pessoas da sua atitude de desrespeito contra o Gullar. Edital é edital, voce ganha ou perde. Eu perdi alguns, mas nao me sinto prejudicado ou discriminado ? diz Zelito. ? Eu estou quase escrevendo uma carta ao presidente Lula dizendo ?conforme solicitado pelo ministro Gil, venho por meio desta pedir a cabeça dele a Vossa Excelencia?.

 

Lista do BNDES deve sair até dia 16 deste mes

 

Para o diretor Roberto Farias, está havendo centralizaçao de recursos pelo MinC:

 

? Nao tenho como me sentir prejudicado porque há mais de dez anos nao faço filme, em parte até pelo desânimo que me dá na hora de captar verba. Mas acho que essa tendencia de centralizaçao existe. Nao sei se é uma simples coordenaçao do MinC ou se é a centralizaçao como a que o Luiz Gushiken queria fazer um tempo atrás. Se for assim, se houver uma orientaçao de recursos para determinados grupos ou assuntos, é dirigismo cultural.

 

Segundo Roberto Farias, profissionais veteranos do cinema estao sendo discriminados.

 

? Nao se pode discriminar gente que vem levando a luta do cinema, vem fazendo filmes profissionais, que contribui para a existencia de um cinema brasileiro, sem grandes experimentaçoes mas com a eficiencia do bem-feito. É preciso financiar os estreantes, mas nao se pode inverter a lógica. Estreante é estreante, e a hora dele vai chegar ? diz Farias, acrescentando que achou ?uma bobagem? o ministro Gil falar para pedirem sua cabeça. ? Qualquer exagero é demais. Achei exagero essa frase do Gilberto Gil, como também foi um exagero a resposta de Sérgio Sá Leitao ao Ferreira Gullar.

 

A produtora Gláucia Camargos, mulher do diretor Paulo Thiago, diz estar ?deprimida ao ver personalidades como Gil e Caetano discutindo por questoes políticas?.

 

? Nao me incluo nesse termo ?ex-privilegiados do cinema? (usado por Sá Leitao em sua crítica ao abaixo-assinado) porque nunca fui privilegiada. Adoraria ser uma ex-privilegiada ? diz Gláucia. ? Há uma tentativa de centralizaçao de recursos públicos, sim, dá para sentir isso. Mas, ao mesmo tempo, há um discurso de descentralizaçao da produçao cultural, o que é contraditório.

 

Uma das queixas mais recentes de profissionais do setor quanto r captaçao de recursos foi o edital para cinema lançado ano passado pelo BNDES, no valor total de R$ 10 milhoes. Houve mudanças, com a adoçao, pela primeira vez, de profissionais de fora do banco na comissao avaliadora dos projetos e a criaçao de uma terceira fase de avaliaçao, a apresentaçao oral dos projetos.

 

O BNDES informou que as mudanças tiveram como objetivo melhorar o processo de seleçao, e que a última fase de seleçao ocorreu no fim de dezembro, quando 30 candidatos pré-selecionados expuseram seus projetos. A lista final dos selecionados deve sair, segundo o banco, até dia 16 deste mes.

 

Para Sá Leitao, episódio é ?muito rico e revelador?

 

Preferindo nao se manifestar sobre a questao do financiamento ao cinema, o diretor Cacá Diegues comentou a discussao Gullar-MinC-Caetano:

 

? Considero inaceitável que um servidor público se dirija a um cidadao brasileiro nos termos em que esse rapaz do MinC se dirigiu ao poeta Ferreira Gullar. Ainda mais se tratando de um brasileiro como este. O ministro Gilberto Gil costuma responder rs críticas que recebe, sejam justas ou injustas, sempre de um modo sereno, cortes e altivo. Nao há razao nenhuma para que um assessor dele seja tao desastradamente grosseiro.

 

Perguntado sobre sua permanencia no cargo, Sérgio Sá Leitao se diz tranqüilo.

 

? Como diz a música de Walter Franco, estou com a mente quieta, a espinha ereta e o coraçao tranqüilo. Acho esse episódio muito rico, e muito revelador das reais motivaçoes dos envolvidos ? analisa Sá Leitao, que se refere r repercussao da carta de resposta a Gullar como ?ossos do ofício?. ? O ministério me solicitou essa resposta, e eu fiz. Nao é algo que deva ser pensado em termos de arrependimento ou nao.

Compartilhar: