Nesta data, destaca-se o papel fundamental dos mestres e mestras da cultura tradicional e popular, que promovem a transmissão intergeracional de seu conhecimento
De norte a sul do Brasil, mestres e mestras da cultura tradicional e popular dedicam suas vidas para preservar e valorizar tradições e saberes ancestrais em suas comunidades. São, em sua maioria, pessoas com mais de 60 anos, que promovem a transmissão intergeracional de seu conhecimento, preservam a memória e as manifestações culturais locais e fortalecem os laços sociais.
Manifestações como Folias de Reis, Congadas, Moçambiques, Fandango, Frevo, Afoxé, Maracatu, Capoeira, Jongo, Lambada, Xaxado, Catira, Ciranda, Maculelê, Forró, Cavalhada, Quadrilhas Juninas, Artesanato e Pinturas Corporais Indígenas, entre outras, têm origens nas tradições culturais e populares que formam a cultura brasileira. Em suas singularidades, essas tradições também merecem proteção legal, valorização e promoção.
O Dia Internacional da Pessoa Idosa, celebrado nesta terça-feira (1), busca reconhecer essa população, suas contribuição valiosa e a necessidade de políticas que garantam sua inclusão e seu bem viver. Makota Kidoiale, mestra e professora no programa de saberes tradicionais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), destaca o papel fundamental dos mestres e mestras da cultura popular e tradicional ao dizer que o saber do mais velho para o mais novo assegura respeito, identidade, diversidade e cultura. Além disso, ela reforça que o envelhecimento é útil e importante para educar, socializar, representar e dialogar com todas as idades e gerações.
“Ser Mestra para mim é cuidar de um povo, para que ele não se perca das tradições, é manter o saber como transmissão desse cuidado na prática. Uma Mestra de uma comunidade é o espelho que reflete e expressa a imagem e o comportamento de um povo”, conta. Ela ainda complementa: “É lutar, proteger e guiar um coletivo por meio da palavra. O saber transmitido reflete nas crianças, que correm atrás de você em busca de uma benção, um abraço, um sorriso expressivo de proteção. Ser Mestra é saber que o cuidado com os outros também me faz sentir protegida”.
A secretária de Cidadania e Diversidade Cultural (SCDC) do Ministério da Cultura, Márcia Rollemberg, pontua a importância da cultura para a promoção do bem viver em todas as fases da vida.
“A cultura é uma ferramenta poderosa para dar significado ao processo de envelhecer. Envelhecer com arte e a arte de envelhecer são caminhos para expressões, autonomias e vitalidades do ato de viver e conviver. Temos inspiração nas mestras e mestres das culturas tradicionais e populares, afro e indígenas, com seus conhecimentos compartilhados sobre a caminhada da vida. Também temos nossos artistas na literatura, artes visuais, música, teatro, dança e cinema, tantas linguagens poéticas que ampliam nossa humanidade. A promoção do bem viver das pessoas idosas deve pautar as políticas públicas e a vida cultural do Brasil”, disse.
Iniciativas do MinC
Além de atuar para a difusão e reconhecimento dos fazedores de cultura, o MinC tem buscado incluir os artistas idosos nas políticas culturais, reconhecendo suas contribuições para o cenário cultural do país. Um exemplo é a Mestra Dona Esmeraldina, de 69 anos, moradora da região quilombola do Curiaú, em Macapá, no Amapá. Além de pedagoga, ela é artesã, dançadeira de batuque de Marabaixo, escritora e contadora de histórias sobre a cultura de seu povo nas escolas e nas praças. Ela foi selecionada pela política nacional de cultura, do Edital Maré Cheia, da Lei Paulo Gustavo, que destinou R$ 5,6 milhões ao estado para premiar agentes culturais de todas as áreas que tenham contribuído nos últimos cinco anos para o desenvolvimento artístico e cultural do estado.
“Esses editais são importantes para trabalharmos cada vez mais nossa cultura. Eu trabalho com literatura infantojuvenil e com o Marabaixo, manifestação que virou patrimônio cultural imaterial do Brasil, nossa identidade cultural do estado. Valorizo isso levando para as salas de aula, para os nossos alunos”, destacou a Mestra, ressaltando a importância de políticas públicas que incentivem pessoas com mais de 60 anos.
Outro destaque atual é o Prêmio de Culturas Populares e Tradicionais – Mestre Lucindo, que integra o Edital de Premiação Sérgio Mamberti. No total, 351 iniciativas culturais foram premiadas, sendo 251 mestres e mestras de várias expressões artísticas populares e tradicionais. As demais premiações foram destinadas a grupos, entidades e instituições privadas sem fins lucrativos que desenvolvem ações na área de culturas tradicionais e populares.
“As pessoas idosas são os mestres e mestras da vida, guardiões de saberes e histórias que nos conectam com nossas raízes e ancestralidade. O trabalho do Ministério da Cultura em valorizar e preservar essas memórias é um tributo aos conhecimentos acumulados ao longo do processo social e histórico, reconhecendo que cada narrativa e experiência são fundamentais para a construção de uma sociedade mais rica, mais humana e socialmente justa”, explicou Tião Soares, diretor de Promoção das Culturas Populares do MinC.
O edital trouxe ainda a categoria Pessoas Idosas, como parte das iniciativas de valorização da diversidade cultural. Foram premiados 64 agentes culturais com idade igual ou superior a 60 anos, além de 16 iniciativas desenvolvidas por grupos/ coletivos e instituições que atuam diretamente com o público idoso e suas manifestações artísticas. Em ambos os casos, os premiados receberam o valor individual de R$ 30 mil.
O coletivo Mulheres do Samba de Roda foi um dos grupos premiados. Formado por mulheres com idade entre 60 e 80 anos, o grupo surgiu em 2005 a partir de um projeto que resultou em um vídeo documentário, livro e CD com a história de vida de 16 mulheres de 14 comunidades da Bahia, ligadas ao samba de roda. Neste ano, o coletivo foi certificado como Ponto de Cultura.
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