Desde 1992 o dia 25 de julho se transformou em um marco internacional da luta e da resistência da mulher negra. A data foi criada a partir do primeiro Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, em Santo Domingos, República Dominicana.
Este dia busca dar visibilidade às situações de desigualdade racial e de gênero, ao mesmo tempo em que viabiliza o fortalecimento das muitas lutas das mulheres negras seja contra o racismo, o sexismo, a discriminação de classe, o preconceito ou mobilizando ações que fortalecem e resgatam organizações e grupos de resistência.
Festa e luta
Para a militante dos movimentos sociais e fundadora do Movimento Nacional dos Quilombos, Givânia Silva, é necessário pensar no dia 25 de julho como um marco referencial e transformador para as mulheres negras. “Existe um enorme déficit entre as demais populações e as mulheres negras, existe um acúmulo de prejuízos causados por um mal que ainda não vencemos, o mal do racismo que se fortalece muito com as ações do machismo. É importante dizer que o racismo é estruturador, ele avassala, elimina, mata, e nós mulheres negras somos o alvo principal dessa ação nefasta. Por isso celebramos o dia de hoje não apenas como festa, mas como reflexão do que tem sido a vida das mulheres não só no Brasil, mas no mundo, principalmente nos países que foram colonizados e sofrem os efeitos dessa ação que ainda se faz muito presente”, constata.
Machismo e violência
Ao falar sobre as urgências que se apresentam como lutas para as mulheres negras no Brasil, Givânia Silva destaca a questão da violência. “Aqui no Brasil nós mulheres negras atuamos em várias frentes, minha atuação tem sido junto às mulheres quilombolas, mas reconheço que existe uma questão que une todas nós mulheres negras que é a questão do machismo e da violência que vem matando mulheres todos os dias, não é possível aceitar que todos os dias morram tantas mulheres em cada lugar desse nosso país vítimas das ações do machismo ou do racismo. A maior parte desses crimes ficam em pune, então mais do que qualquer outra bandeira, que também são importantes para a vida das mulheres, nós precisamos pensar o quanto elas estão sendo vítimas do feminicídio”.
O Mapa da Violência 2015 mostra que a taxa de assassinatos de mulheres negras aumentou 54% em dez anos, passando de 1.864, em 2003, para 2.875, em 2013.
Processo histórico
Ao longo do processo histórico não é difícil constatar que as mulheres negras sofrem de forma mais severa os impactos da cultura machista e da ordem global econômica injusta que continua tratando mulheres negras com discriminação à medida que não discute e não aplica critérios justos no âmbito salarial, nas oportunidades de emprego ou no acesso à educação de qualidade.
No contexto atual que revela a situação de violência que as mulheres, e de modo especial, as mulheres negras enfrentam, grupos, instituições e coletivos seguem trabalhando em um conjunto de ações para divulgar e denunciar essa dura realidade que persiste no decorrer dos séculos em toda América Latina e Caribe, como lembra Givânia Silva: “Nos últimos anos o Brasil, por exemplo, conseguiu diminuir alguns indicadores importantes como os da fome e da miséria, que agora se encontram novamente ameaçados, mas não conseguiu diminuir os indicadores alarmantes do número de mulheres que morrem vítimas da violência doméstica, principalmente”.
A partir da lei Lei nº 12.987/2014, no Brasil celebramos também em 25 de julho o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Tereza de Benguela foi uma importante líder quilombola que viveu durante o século 18. Casada com José Piolho, negro que chefiava o quilombo do Piolho ou Quariterê, nos arredores de Vila Bela da Santíssima Trindade, no Mato Grosso, assumiu o comando da comunidade revelando-se uma grande líder após a morte do marido.
Por Jucelene Rocha / Assessoria de Comunicação Cáritas Brasileira
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