Uma das principais discussões nessa fase de transição imposta pela era digital gira em torno do destino da música. Todo um modelo antigo e tradicional de se fazer, vender e ter acesso tanto a um disco quanto a uma música virou obsoleto. Hoje, esse debate está disseminado pelo mundo e não poderia deixar de nortear as palestras e conversas de corredor de quem participou da Feira Música Brasil, no Recife, que chegou ao final ontem.
Para o ministro da Cultura, Gilberto Gil, que anteontem participou da conferência Ações Para o Desenvolvimento da Cadeia Produtiva da Música, existe um fenômeno, que é a tecnologia. Uma tecnologia que ele chama de “anarquística”, cada vez mais inclusiva e barata. “Isso provoca a desarrumação total aos arranjos anteriores, que estavam baseados em tecnologias controladas, utilizadas pela ponta de produção, do investimento, controladas até a ponta do consumidor. Hoje, esses controles vão diminuindo”, avaliou ele. “Daí, as possibilidades cada vez maiores de acesso, de compartilhamento, de pirataria, de usos variáveis, de comercializações ilícitas.”
Segundo Gil, não há outra solução a não ser que todas as partes envolvidas do setor se sentem e debatam sobre o assunto. “É um problema que não pode transferido para o outro. Vem a gravadora e transfere para a polícia. Uns querem responsabilizar o próprio consumidor final. Não é assim, é um desafio grande.” Para o músico, esse equilíbrio é o ponto-chave. “Mas isso não vai se fazer pela imposiçao unilateral ou multilateral de alguns. A idéia da repreensão, ela não é culturalmente compatível com a contemporaneidade.” E o destino do CD físico? “É desaparecer ou permanecer como fetiche, nicho.”
Para Michel Perrin, economista e sócio-gerente da HPI Produções desde 1989, grande exportadora de música brasileira, passamos por um período de “funeral de mercado e de produtos”. Ele conta que, no início da década, houve mudanças brutais no comportamento em relação à música, resultante do afastamento do consumidor do conceito de sucesso. “Entre 2001 e 2002, esse desabamento do sucesso foi atribuído à pirataria. Isso não convence, porque, assim como aconteceu em outras áreas, as pessoas deixaram de consumir produtos de sucesso.” Com a internet, as pessoas teriam se dado conta de que as possibilidades são muito mais amplas e diversificadas. Assim sendo, elas consumem o disco que bem quiserem, não o que vende mais.
O americano Brad Powell, fundador do CalabashMusic, comunidade global de distribuição por download de música que propõe soluções novas para a era digital, não acredita que o CD vá morrer, mas sim se cercar de uma série de produtos que vão alavancar sua venda. “Todo o processo de divulgação da música passou por uma transformação.” Agora, segundo ele, os artistas encontram disponíveis outros recursos para colocar o trabalho em evidência, como mensagens via celular, distribuição de ringtones promocionais, além de poder criar um banco de informações de seus fãs, para conhecê-los melhor e colocá-los em sua lista de relacionamento direto. “As mensagens instantâneas podem fazer mais pelo lançamento do álbum”, afirmou.
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Adriana Del Ré