“A próxima Bienal de São Paulo será crítica e política”, afirmou a curadora Lisette Lagnado, responsável pela exposição mais importante do país, que está prevista para outubro do próximo ano. A declaração foi dada ontem, em entrevista coletiva, no prédio da Bienal, para marcar o primeiro encontro de todos os responsáveis conceituais da mostra.
Os quatro co-curadores foram anunciados com elogios de Lagnado e com agradecimentos em resposta. “Se eu soubesse que esse seria o primeiro projeto de Rosa Martínez na América Latina, teria feito um convite duplo”, afirmou a curadora.
Martínez, uma das responsáveis pela Bienal de Veneza, em cartaz na Itália, foi identificada como curadora com caráter “independente”, assim como o brasileiro Adriano Pedrosa, atualmente curador da trienal Insite, em San Diego e Tijuana.
“Procurei fazer um balanço, eles são mais independentes, enquanto José Roca e Cristina Freire são ligados à instituições”, disse Lagnado.
O colombiano Roca trabalha na Biblioteca Luis Angel Arango, em Bogotá, e a brasileira Freire, no Museu de Arte Contemporânea. Foi anunciada ainda a arquiteta responsável pela montagem da Bienal, Marta Vieira Bogéa.
Sob o título “Blocos sem Fronteiras”, a Bienal terá o viés crítico e político a partir das idéias do artista Hélio Oiticica (1937-1980), inspirador do conceito da mostra. “Havia duas coisas que o Hélio tentava combater: a idéia de representação, e por isso acabamos com as representações nacionais, e o sentido ético na arte, de não se preocupar que as obras fossem apenas belas, mas pudessem transformar o espectador, que é o que ele chama de “desestetização” da arte”, explicou Lagnado.
Segundo a curadora, “é muito ambicioso dizer que todas as obras que estarão na Bienal vão transformar os visitantes”. “Esse é nosso desafio”, completa. Lagnado, entretanto, afirma que o político a ser abordado será o do caráter micro, no qual se pode transformar de fato as pessoas, já que “vivemos num período de crise da macropolítica e está claro o fim das utopias”.
Apesar de a mostra principal ter início em outubro, a Bienal começa sua programação já em janeiro, com um seminário dedicado ao questionamento das instituições de arte, inspirado no artista belga Marcel Broodthaers (1924-1976), a cargo de um curador convidado, o alemão Jochen Volz, atualmente trabalhando no Centro de Arte Contemporânea Inhotim, do colecionador Bernardo Paz. Ao longo de 2006, outros seminários irão ocorrer, assim como estão previstas residências de artistas brasileiros e estrangeiros em várias partes do país.
Os curadores anunciaram também a realização de viagens de pesquisa para a concepção da Bienal, que devem ser organizadas em reunião hoje. “Ásia, África e Oriente Médio serão regiões privilegiadas em nossas visitas”, afirmou Pedrosa.