Mestra sambadeira foi uma das contempladas, em 2018, com o Prêmio Culturas Populares. Inscrições para a edição de 2019, que homenageia o cantor gaúcho Teixeirinha, estão abertas até 16 de agosto.
Com os instrumentos nas mãos ligeiras, Dona Aurinda se tornou conhecida na Bahia ao difundir o samba de roda e algumas outras variações, como o samba de chula e o samba corrido (Foto: Luís Pereira)
Além da terra de todos os santos, a Bahia é também o estado natal de Aurinda Raimunda da Anunciação. Aos 84 anos, ela é conhecida como mestra sambadeira, atuante nas atividades dos quilombos do Tereré e Maragogipinho, na Ilha de Itaparica, onde nasceu e vive até hoje. Na comunidade simples, de terra batida, ela participa de apresentações de samba tocando um prato com faca. Com os instrumentos nas mãos ligeiras, Dona Aurinda se tornou conhecida na Bahia ao difundir o samba de roda e algumas outras variações, como o samba de chula e o samba corrido.
Em 2018, Dona Aurinda foi contemplada com o Prêmio Culturas Populares, promovido pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério da Cidadania. A mestra ficou muito agradecida com a premiação. “Foi muito bom, chegou na hora certa, porque pelo menos eu me desapertei [financeiramente]. Muito obrigada, Deus dê saúde, prosperidade e que abra sempre o caminho de vocês”. O prêmio, que está com inscrições abertas até 16 de agosto para a sétima edição, é um reconhecimento àqueles que estimulam e valorizam as mais diversas expressões da cultura brasileira.
Dona Aurinda conta que, desde criança, já participava das rodas de samba na companhia do irmão mais velho, Gerson Francisco da Anunciação, o Gerson Quadrado – com mãe falecida e pai ausente, foi o irmão Gerson quem a criou. Ela tomou gosto pela coisa. Hoje em dia, a mestra gosta de ressaltar nas músicas os assuntos da vida, dos conflitos e angústias do cotidiano às paixões avassaladoras. “Eu sempre toquei com meu irmão, mas depois que ele faleceu aí eu comecei a tocar só. Chegava em qualquer grupo, eu entrava e tocava mesmo. Até quando eu arranjei umas pessoas respeitadas, sérias, que estão me acompanhando até hoje”, conta.
Anatelson das Neves, presidente da Associação Quilombo do Tereré, que reúne 478 famílias, conta que Dona Aurinda é uma celebridade na Ilha de Itaparica. “Como ela mora na nossa comunidade e faz parte do nosso museu, da nossa história, da nossa família da comunidade quilombola Tereré e Maragogipinho, em todas as festas do município, casamento, aniversário, a gente convida ela”, explicou. “Com todos os saberes dela, tudo é motivo de samba, tudo é celebração”, arremata.
Dona Aurinda ganhou um museu na comunidade, o Museu da Memória Viva Quilombo Tereré Maragogipinho. Uma iniciativa da Associação de Arte e Cultura Quilombo do Tereré e de moradores locais, o museu preserva as memórias e fortalece a identidade quilombola da comunidade. “Aqui a gente tem ela como uma fundadora, uma mãe, uma amiga, uma pessoa que precisa ter um olhar diferenciado por nós”, ressalta Anatelson. Além de atuar nas rodas, Dona Aurinda, mãe de quatro filhos, ainda é benzedeira, marisqueira e vendedora de acarajé.
Integram o currículo da mestra passagens pelo grupo Samba Tradicional da Ilha e pela Casa do Samba de Santo Amaro, inaugurada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), entidade vinculada ao Ministério da Cidadania. Com as portas abertas desde setembro de 2007, o espaço tem a missão de preservar o samba de roda da região.
Samba de roda
O samba de roda é uma das principais matrizes do samba brasileiro e foi registrado como patrimônio cultural imaterial pelo Iphan em 2004. Essa manifestação está enraizada em todo o estado da Bahia. Ao som de viola, pandeiros e prato-e-faca, os sambadeiros e sambadeiras formam a roda e dançam o miudinho – movimentos de sapateados para frente e para trás, com os pés, acompanhados dos quadris.
Prêmio Culturas Populares 2019
Estão abertas até 16 de agosto as inscrições para a 7ª edição do Prêmio Culturas Populares, que vai dar R$ 20 mil a 250 mestres, mestras e Pontos de Cultura que estimulem e valorizem as mais diversas expressões da nossa cultura, como o cordel, o frevo, a quadrilha, o maracatu, o jongo, a capoeira, as culinárias regionais e o bumba meu boi, entre muitos outros. Neste ano, o homenageado será o cantor e ator Vitor Mateus Teixeira, o Teixeirinha, um dos principais nomes da música tradicional do Rio Grande do Sul. Saiba mais.
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