Segundo Camara Cascudo – caipira seria uma corruptela de “caapora”, palavra de origem tupi que significa “morador do mato”. Outras definições, mais recentes, consideram caipira, matuto ou capiau, o cidadão residente no interior do Estado de São Paulo, o homem ligado ao campo que possui uma identidade e cultura própria – o que de fato era verdade, até meados do século 20, quando os meios de transporte e comunicação de massa interferiram nos costumes locais e regionais, padronizando-os a partir de modelos urbanos.
Nos centros urbanos, justamente, o termo caipira é com freqüência acompanhado por um sentido pejorativo ligado à timidez, à falta de refinamento ou de informação. Mas isso é puro preconceito, o que é uma outra história… De fato, trata-se do desprezo com que parte de nossa moderna civilização industrializada se refere ao passado rural do Brasil.
A cultura caipira do passado – um passado recente em termos históricos – representa a adaptação do colonizador europeu ao Brasil e seu modo de ser, pensar e agir no território brasileiro. O modo de vida caipira inclui o fogão a lenha, o café feito no coador de pano, o leite quente ordenhado da vaca, biscoito de polvilho, pães de queijo, broas, bolos de fubá, doces em calda, etc. Sem falar nas geléias, licores de frutas típicas (pequi e jenipapo) e, é claro, na famosa cachaça – que se transformou numa espécie de bebida típica do Brasil.
Um “dedo de prosa”
Nas casas simples, pintadas em azul celeste, rosa, amarelinho, decoradas com fuxicos, toalhas de crochê e colchas de retalho, todos têm direito a um “dedo de prosa” para ouvir um “causo”, passar as horas na janela, sentar na soleira da porta, pitar um cigarro de palha, feito com fumo de rolo picado. Até meados do século 20, essas casas eram feitas de pau-a-pique – madeira trançada e barro batido – e cobertas de palha ou sapé.
Além do interior de São Paulo e Paraná, ainda podemos encontrar esse modo de vida em Minas Gerais, numa parte de Goiás e de Mato Grosso e também perceber semelhanças com os costumes do sertanejo da caatinga, do caboclo da Amazônia, do vaqueiro do pantanal, do gaúcho ou do caiçara litorâneo.
A moda de viola
O caipira formou sua cultura com uma mistura e européia. Herdou a religiosidade dos portugueses, a familiaridade com o mato, a arte das ervas e o ritmo do bate-pé com os índios. Mas sempre se podem encontrar alguns elementos nos mitos e nos ritos do homem do interior.
A autêntica música caipira, a “moda de viola”, na voz dos violeiros, retratava a vida do homem no campo, a lida na roça, o contato com a natureza, a melancolia e a solidão do caboclo. Mais tarde, com a influência da guarânia paraguaia e do bolero mexicano, começou a ser transformar e hoje, misturado ao estilo “country” norte-americano, a chamada música sertaneja guarda pouco de suas origens. Inesita Barroso é uma cantora e estudiosa da música sertaneja original, que ela e outros estudiosos e músicos preferem chamar de música de raiz.
Jeca Tatu
Nas artes plásticas, o caipira típico foi imortalizado por Almeida Junior no quadro que ilustra este artigo. Na literatura, Monteiro Lobato retratou-o em seu personagem Jeca Tatu, do livro “Urupês”. No cinema, o ator e diretor Amácio Mazzaropi assumiu o tipo, com rancheiras e “pula-brejo”, paletó apertado, camisa xadrez e chapéu de palha.
O caipira, hoje, volta a ser valorizado e com razão. Ele faz parte da história do Brasil e ajudou a moldar parte de nossa identidade nacional. Procure numa locadora de DVD, por exemplo, um filme de Mazzaropi e certamente você vai descobrir um aspecto muito interessante da cultura brasileira.
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