Comprar o Brasil é sonho antigo de Hollywood

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Por Léa Maria Aarão Reis

Pois este é o caso de Serena (2012), uma co-produção franco-tcheco-americana dirigida pela cineasta Simone Bier e lançada sem alarde no Brasil, em DVD, há dois anos, no rastro do Oscar de Melhor Atriz ganho por Jennifer Lawrence e do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, de 2010, Em Um Mundo Melhor, da diretora dinamarquesa.

Atualmente, Serena, baseado em livro badalado nos Estados Unidos e na França, está disponível no canal Now e ganha um interesse particular, aqui, pelo seu pano de fundo dessa história vivida por Bradley Cooper, um dos galãs medíocres de Hollywood.

A produção é baseada no badalado romance Serena, de Ron Rash, poeta e professor universitário estudioso dos índios apalaches, um sucesso da literatura policial nos Estados Unidos e na França. A história é a do jovem ricaço e grande madeireiro George Pemberton, que ao lado de sua mulher, Serena, vive na Carolina do Norte onde desenvolve uma grande empresa de exploração de madeiras para construção. Na verdade, é um devastador das imensas florestas de árvores centenárias das belas e enevoadas montanhas onde trabalhava uma legião de lenhadores pobres, em condições precárias e sem qualquer segurança física, e onde os pumas já constituíam espécie em extinção.

Era o ano de 1929, quando o crash atingia a Bolsa de Nova Iorque, quebrava a economia norte-americana e dava início à Grande Depressão. O jovem e apaixonado casal reina, absoluto, na região e nos seus negócios, mas o seu sucesso e a sua felicidade conjugal se evaporam quando Serena, depois de perder o filho que esperava, é informada de que nunca mais poderá engravidar. Levada pelas circunstâncias ela passa a conviver com uma jovem empregada, mãe de um filho bastardo do marido o que desencadeia na moça um inesperado processo de loucura e vingança que levará a uma óbvia catástrofe.

Paralelamente à obstinação da vingança que vai tornando o filme um dramalhão, um sub-tema cresce, insinuado desde o começo da saga. Pemberton é preocupado com o futuro das suas terras e dos seus gigantescos investimentos porque Rockfeller e um grupo de amigos iniciam uma ofensiva e pressionam para comprarem as vastas florestas pouco a pouco devastadas, protegê-las e transformar a região em um grande parque nacional federal.

Aliás, foi o que ocorreu, na realidade, na época, não apenas na Carolina do Norte, mas em diversos locais do país onde a iniciativa privada protagonizou a intervenção no processo de proteção ao meio-ambiente.

O objetivo de Pemberton, então, é fazer dinheiro rápido, vender sua propriedade que cedo ou tarde deverá ser desapropriada ou adquirida a preço menor do que o de mercado, e partir para onde acredita que seus investimentos terão melhor retorno. Onde? No Brasil, ‘’onde há centenas de hectares de florestas de mogno intocadas, ’’ diz um amigo do empresário, e pergunta. “Por que não compra terras lá? ”

Durante as reuniões de campanha de políticos locais o tema aparece. “Vocês desejam um país desértico ou com parques nacionais e natureza preservada? ’’ pergunta um candidato verde a cargo eletivo. As propinas de suborno a um candidato à reeleição ao Senado também são mostradas. Para os lenhadores, coloca-se a questão da sobrevivência. Para eles, o progresso significa continuar a derrubada das árvores. E “trabalhar duro para fazer dinheiro,” é o lema geral que ecoa das raízes e da alma capitalista.

Personagens rasos se movimentando em atmosfera dourada, bela fotografia, símbolo dos mitos do amanhecer de uma nação. Mas, ao contrário, o filme Serena foi crepuscular. Tal fracasso que a sua produtora não conseguiu se recuperar dos prejuízos e faliu.

Mas vale a informação: já em 1929 Hollywood sonhava em comprar terras, no Brasil. Devastava-se aqui, um novo eldorado, para preservar as florestas em casa. Um sonho que quase um século depois, vai bem mais além. Os de fora que estão chegando compram nossa terra, o ar e a água, alteram o sonho e transmudam a realidade.

Fonte: Carta Maior

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