Cinema brasileiro quer atrair produtores americanos

 

O Brasil tem cenários belíssimos, causa interesse nos cineastas do mundo todo e ainda conta com mão de obra altamente qualificada e barata. Então, por que, há tão poucas parcerias entre produtores estrangeiros e brasileiros? Para discutir este assunto e propor soluções foi realizado na segunda-feira, em Miami, o debate Como Atrair Produtores Americanos para o Cinema Brasileiro? A reunião abriu o ciclo de debates do Market Place, que faz parte da programação do IX Festival de Cinema Brasileiro de Miami, e reuniu como debatedores José Wilker, presidente da RioFilme, Luís Fernando Noel, Super-intendente de desenvolvimento da Ancine, John Maass, produtor e cineasta norte-americano, e Patricia Boero, diretora Internacional de programas do Sundance. Uma solução imediata apontada por Wilker foi a criação da Rio Film Commission, lançada oficialmente no ano passado, que, segundo ele, está finalmente sendo colocada em prática. “Como tudo no cinema brasileiro, a Rio Film Commission caminha lentamente, mas já é uma realidade. Fechamos já vários acordos. Um deles é com a Europa Corp, de Luc Besson e, assim que levantarmos nossa parte do contrato, vamos iniciar os projetos”, declarou. A Rio Film Commission terá a missão de fornecer informações fundamentais sobre locações na cidade e no Estado do Rio de Janeiro e facilitar sua utilização como cenário, minimizando a burocracia para os diversos procedimentos de filmagem. John Maass aproveitou para declarar que acha a idéia ótima, mas teme ainda por burocracias. “Esta iniciativa é fundamental. Há tempos eu tentei filmar no Brasil e fiquei extremamente frustrado. Não há sequer um guia que resuma quais os procedimentos que um produtor estrangeiro deve tomar para filmar no País. Ficamos totalmente dependentes dos produtores brasileiros, que, por lei, devem entrar no projeto. Era tanta falta de informação e burocracia que a idéia acabou não dando certo e eu saí extramente frustrado.” Quem se frustra também é o mercado audiovisual nacional. Ao contrário de países como Argentina (que já foi cenário de Sete Anos no Tibet), Nova Zelândia (que venceu a concorrência pelas locações de O Senhor dos Anéis), Canadá, entre outros, o Brasil ainda perde muitas oportunidades por questões burocráticas, altos impostos cobrados e falta de divulgação. Patricia Boero observou: “Pela minha experiência com cineastas brasileiros, sei que o País tem profissionais talentosos, cenários incríveis e ótimas idéias. O que falta ainda é uma estratégia de marketing e publicidade, que venda o potencial do Brasil para o mundo, que globalize este talento.” Boero citou como exemplo o filme Prova de Vida (Proof of Life), com Russel Crowe. “O longa foi rodado na floresta amazônica, no Equador. Poderia muito bem ter sido feito no Amazonas. O Brasil precisa pensar junto e entender que cinema é indústria e que cria muitos empregos.” Wiker completou: “Claro que é vantajoso para os produtores internacionais. Nossa mão de obra é qualificada e barata, a moeda deles é mais forte. Eles também só tem a ganhar.” Sobre a falta de informação e altos impostos, Noel ponderou: “Está tudo no site (www.ancine.gov.br). E vamos entrar no projeto da Rio Film Commission como apoiadora e reguladora. Também já apóia também ações de divulgação do cinema no exterior. E há impostos sobre produtos e equipamentos que acabam fugindo do âmbito da Ancine.” Wilker completou: “Nos últimos festivais de Cannes e Berlim, distribuímos DVDs e material com contatos de todos os produtores do Rio, que dizia: ‘Quer filmar o Saara? Filme no Rio. Quer filmar Miami? Filme no Rio…” Já estamos colocando em prática várias estratégias. Estamos fechando acordos com os setores hoteleiros, a prefeitura, os empresários, para que a RioFilme Commission finalmente seja efetiva.” O exemplo do Rio, no entanto, é fruto de iniciativa isolada. “A Ancine não tem como criar Film Commissions. Tem que ser uma intenção de cada cidade, de cada prefeitura. Além do Rio, só há a Film Commission do Amazonas. A do Centro-Oeste está sendo criada. Mas não temos planos de criar uma central, uma Brazil Film Commission”, declarou. Wilker concorda. “Nunca houve política comum de cinema para todo o país. A idéia da Film Commission, por exemplo, existe há mais de dez anos. Antes de se burocratizar ainda mais e criar uma Film Commission geral, seria melhor que a Apex (Agência “de Promoção de Exportações do Brasil) apoiasse as iniciativas de cada Film Commission local.” O diretor e ator também aproveitou para anunciar que no próximo Festival de Cinema do Rio, em outubro, será inaugurado um Mercado do Filme. “Vamos cobrir uma grande área na Cinelândia, onde haverá um feira que venderá serviços da cidade para produtores nacionais e estrangeiros.” Por fim, Wilker declarou que não pretende continuar por muito tempo na presidência da Rio Filme. “Quero lançar idéias e projetos, que tenham continuidade, e depois seguir com outros trabalhos”. Sobre a declaração feita recentemente, durante o Festival de Cinema do Ceará, de que Wilker ‘representa uma empresa que não existe’ e sobre boatos que pregam o fim da RioFilme, o diretor não rebateu: “Não posso guiar meu trabalho por declarações como esta.” A repórter viajou a convite da organização do festival

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