Se no Pará Dalcídio Jurandir já se tornou consagrado entre os pesquisadores, fora ainda é desconhecido. A falta de traduções, que poderiam transformá-lo em autor célebre, dificulta a divulgação no exterior. A única obra traduzida é o romance “Linha do Parque”. E em russo!
“Dalcídio é de uma época com menos glamour; amadora do ponto de vista comercial. Além disso, ele era avesso a entrevistas e a badalações, jamais iria a uma escola falar de sua obra. Se hoje fosse publicado por uma grande editora, teria condições de ser negociado lá fora. Ele não é apenas um autor nacional. É representante da boa literatura da América Latina”, avalia Paulo Nunes.
Para cobrir essa lacuna e dar o devido valor ao trabalho do romancista, Ruy Pereira Pinto, professor, escritor e sobrinho de Dalcídio, criou na Fundação Casa de Rui Barbosa, em 2003, o Instituto Dalcídio Jurandir. Na época, a família doou seu acervo para o instituto, que chegou ao fim em 2008. No mesmo ano, a família fundou a Casa de Cultura Dalcídio Jurandir (CCDJ), presidida pelos filhos do autor.
Atualmente Margarida Benicasa, filha de Dalcídio, atua como vice-presidente da instituição, que funciona, provisoriamente, na residência do irmão dela, José Roberto Freire Pereira Filho, em Niterói (RJ). José Roberto era presidente da Casa de Cultura, até morrer em janeiro desse ano.
Margarida vive em São Paulo e comanda o funcionamento da instituição com ajuda da internet, idas ao Rio quando há necessidade e a dedicação de parentes e amigos. “Infelizmente, com o falecimento do meu irmão, haverá um atraso na concretização dos seus objetivos. Estamos tentando nos manter através de projetos com entidades interessadas e pessoas admiradoras de meu pai”, declara.
Apesar das dificuldades, Margarida e os familiares desenvolvem e planejam projetos para consolidar a divulgação do autor, entre eles a tentativa de conseguir uma sede. “Um dos nossos objetivos é um intercâmbio cultural entre o Norte e o Sudeste, ampliado, futuramente, para todo o Brasil”.
Os esforços agora se concentram na promoção de simpósios sobre Dalcídio e difusão de “Chove nos campos de Cachoeira”. A nova edição será lançada em setembro, durante a XV Feira Pan-Amazônica do Livro.
“Li as duas versões do livro. Realmente esta versão tem uma visão diferente, sem deixar de manter o estilo e o preciosismo (do escritor). Só poderíamos consentir que esse trabalho fosse feito por alguém do nível da professora Rosa Assis, uma das pesquisadoras mais dedicadas a obra de meu pai”, elogia Margarida.
Novidades
Além do lançamento em Belém de “Chove nos campos de Cachoeira”, novas publicações estão no forno das editoras. A Paka-Tatu organiza com Paulo Nunes o livro “Poemas Impetuosos”, escritos por Dalcídio Jurandir entre as décadas de 20 e 30. Paulo já adianta que o trabalho pode causar polêmica.
“Dalcídio não era tão bom na linguagem sintética do poema como o era na linguagem estendida do romance. Mas é preciso saber que existia um Dalcídio que, além de mais apegado ao cotidiano, respeitava suas raízes marajoaras (me refiro a personagens reais que ele conheceu quando era menino). Alguns poemas trazem as raízes do que seria posteriormente desenvolvido nos romances. A crítica genérica ficará de olhos grandes diante deste material, bruto, de pesquisa, mas que servirá a leitores de nível médio, por exemplo”, ressalta. (Diário do PArá)
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