O ministro da Cultura, Gilberto Gil, lançou segunda-feira em Cannes o Foncine, fundo de investimentos privado, por meio do qual o mercado financeiro torna- se parceiro do cinema nacional sem os instrumentos das leis de patrocínio.
Três filmes serão os primeiros beneficiados do fundo – “O Maior Amor do Mundo”, de Cacá Diegues; “Querô”, de Carlos Cortez; e “Minha Vida de Goleiro”, de Cao Hamburger, que vai trocar de nome. Num encontro casual na Croisette, o diretor de “Castelo Rá-Tim-Bum” explicou por quê.
Uma pesquisa de mercado mostrou que o título não exercia fascínio sobre as platéias femininas (e são elas, dizem as estatísticas, que levam os homens aos cinemas).
Ainda na segunda à noite, veio “Flandres”, o novo filme Bruno Dumont. Autor de “A Vida de Jesus e A Humanidade”, Dumont costuma ser comparado a Robert Bresson, um pouco pelo rigor e ascetismo dos seus filmes, mas também pelo tema da graça, que não deixa de obcecá-lo.
Mas há uma diferença enorme e nem é tanto a de qualidade. Dumont é sempre o autor voltado à discussão dos chamados baixos instintos do homem. Em uma parte de “Flandres” o herói é um bruto, faz sexo como um animal com a namorada que, com a maior naturalidade, sai debaixo dele para acasalar- se com outro homem.
O termo é bem esse, acasalar. Há uma impossibilidade de comunicação no cinema de Dumont. É um cinema pré-civilizatório, no qual o homem é incapaz de falar, de se comunicar.