Cândido Torquato Portinari (1903 – 1962) nasceu em Brodósqui, na zona cafeeira de São Paulo e desde pequeno já mostrava inclinação para a pintura, ajudando a decorar a igreja local com apenas nove anos de idade. Em 1918 vai para o Rio de Janeiro e matricula-se na Escola Nacional de Belas Artes, optando por uma formação acadêmica. Começa a participar do Salão Nacional de Belas Artes, obtendo em 1928 uma viagem ao estrangeiro como prêmio pelos retratos do poeta Olegário Mariano e do crítico de arte Celso Kelly. Passou dois anos na Europa, onde entrou em contato com a pintura contemporânea e, retornando ao Brasil, mostrava-se um artista moderno. Principalmente a partir de meados de 30, é um dos principais artistas que trabalham na consolidação da estética modernista no país. Em 1934 pinta “Café”, quadro que receberia segunda menção honrosa da Fundação Carnegie, nos Estados Unidos. Foi o primeiro artista moderno brasileiro premiado no exterior. Ainda em 1935, é convidado para lecionar pintura no Instituto de Arte da Universidade do Distrito Federal, junto com artistas modernistas como Mário de Andrade, professor de literatura, Vila- Lobos e Andrade Murici, professores de música e Lúcio Costa, lecionando arquitetura. (Apesar da Universidade ter tentado uma iniciativa pioneira de renovação do ensino, foi fechada pouco tempo depois por motivos políticos). Em 1936 recebe encomendas oficiais, realizando seu primeiro mural para o Monumento Rodoviário (na velha rodovia Rio de Janeiro – São Paulo), num tipo de pintura que o tornaria famoso no Brasil e no exterior. É convidado ainda para fazer os afrescos para o Ministério da Educação no Rio de Janeiro. Neles utiliza-se como temática atividades diferentes que caracterizam áreas distintas da nação, realizando trabalhos famosos de figuras com grandes pés brutos e entrosamento de planos abstratos. A partir de então, passa a receber encomendas como painéis para o Pavilhão Brasileiro na Exposição Mundial de Nova York (na ocasião foi ainda convidado a expor individualmente no Museu de Arte Moderna de Nova York e no Museu de Detroit), murais para a Fundação Hispânica da Biblioteca do Congresso em Washington D.C, novos murais para o Ministério da Educação, no Rio de Janeiro e até painéis para a sede da ONU em Nova York (como A Guerra e a Paz, de 1957). A série “Via Crucis” (1943 – 1945), da Igreja de São Francisco, na Pampulha, em Belo Horizonte mostra um artista sensibilizado pela Segunda Guerra Mundial: trata-se de uma obra de características expressionistas com referências aos arames farpados dos campos de concentração. O trabalho não foi bem aceito pela Igreja na época, tendo sido considerado desrespeitoso. Em 1944 também realiza um ciclo bíblico para a Rádio Tupi de São Paulo. Talvez as obras mais famosas de Portinari são as que tratam da saga dos retirantes nordestinos, como “Retirantes”, de 1944, com influência da pintura metafísica de De Chirico. Importantes e presentes em toda sua obra são os temas ligados à infância em Brodósqui, principalmente as brincadeiras dos meninos, como “Menino com Pássaro Vermelho”, 1959, “Paisagem de Brodósqui” e “Futebol”, os dois últimos de 1940. “Mãe Chorando”, de 1944, “Amigas”, de 1938 e o “Mestiço”, de 1934 são outros exemplos da obra de Portinari. “Tiradentes”, realizado em 1949 para o mineiro Colégio de Cataguases, hoje no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo, pode representar (tal como o painel realizado para a ONU) sua fase histórica que começou em 1948 com “A Primeira Missa no Brasil”. A partir de 1950 empenha-se na série dos cangaceiros com fortes cores. Em 1955 recebeu uma medalha de ouro como melhor pintor do ano do International Fine arts Council, dos Estados Unidos. Principalmente a partir de uma viagem realizada a Israel (1956), a composição de Portinari passa a apresentar formas mais agressivas e compactas. Em 1962 morre intoxicado pelas tintas que usava, deixando importantes trabalhos espalhados por museus no Brasil, outros países da América e Europa.
Autoria: Leonardo Joakinson