Cabra-Cega o Filme. Guerrilha dos anos 1970

Foto: Divulgação

Filme foi premiado no Festival de Brasília e aborda a luta armada no Brasil

 – A luta armada dos anos 1970 começa a
ganhar cada vez mais espaço nas telas dos cinemas. Depois do
ótimo “Quase Dois Irmãos”, de Lúcia Murat, chega “Cabra-Cega”,
do diretor paulista Toni Venturi (“Latitude Zero”).

O drama foi um dos mais premiados no último Festival de
Brasília, em dezembro, levando a estatueta de melhor filme
(júri popular), ator (Leonardo Medeiros), roteiro, direção de
arte e pesquisa histórica.

O longa estréia em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e
Cuiabá nesta sexta-feira. Em maio, chega a Recife e Curitiba.
As estréias para Florianópolis e São Luís estão programadas
para junho.

O roteiro, que surgiu de uma idéia original do cineasta
Roberto Moreira (diretor de “Contra Todos”), mostra de certa
forma a luta armada de fora para dentro.

Ao contrário dos filmes que retratam guerrilheiros pegando
em armas e indo para a ação, “Cabra-Cega” focaliza um jovem
guerrilheiro confinado em um apartamento de classe média em São
Paulo.

Ferido num confronto contra a polícia, Tiago (Leonardo
Medeiros, de “Lavoura Arcaica”) é obrigado a se refugiar no
apartamento de Pedro (Michel Bercovitch, do ainda inédito “Lost
Zweig”), um simpatizante.

O único contato do guerrilheiro com o mundo é a jovem Rosa
(Débora Duboc, de “Memórias Póstumas”) que, além de cuidar dos
ferimentos dele, leva e traz alimentos e instruções do veterano
Matheus (Jonas Bloch, de “Amarelo Manga”).

Isolado e impossibilitado de sair para a luta, Tiago começa
a ficar angustiado e paranóico, com medo de qualquer barulho. O
guerrilheiro é obrigado a fazer daquele pequeno apartamento o
seu mundo — e dividi-lo com o dono e as visitas de Rosa,
fugindo da curiosidade da vizinha bisbilhoteira.

Com esses elementos mínimos, Venturi cria um poderoso drama
intimista que mostra um detalhe das entranhas da guerrilha.

TRILHA SONORA

“Cabra-Cega” não teme tocar na ferida do fracasso da utopia
daquela geração, que culminou com a morte de Che Guevara, na
Bolívia.

Desta forma, o filme faz um complexo e interessante diálogo
com “Quase Dois Irmãos”. Enquanto o segundo mostra o reflexo do
fracasso desta utopia nos dias de hoje, “Cabra-Cega” avalia de
forma sutil como aquela época ecoa ainda na vida dos jovens de
hoje, que nem sequer a viveram.

Exemplo disso é o sucesso estrondoso que o filme tem feito
com o público jovem em festivais que participou no Brasil, como
o de Brasília, onde foi aplaudido de pé por um público em sua
maioria composto por universitários. Ou mesmo no Rio de
Janeiro, quando foi exibido em 31 março (um dia antes do
aniversário do golpe militar), no Cine Odeon lotado.

A trilha sonora ajuda a deslocar a platéia no tempo e no
espaço, com canções emblemáticas dos anos 1970, várias delas
interpretadas por Fernanda Porto.

Alguns dos momentos mais marcantes estão iluminados por
estas músicas, como quando um ônibus é revistado por militares
ao som de “Teletema” ou como na cena final ao som de “Roda
Viva”.

O momento mais poético e bonito de “Cabra-Cega” tem ao
fundo a versão original de “Eu Quero Botar Meu Bloco na Rua”,
de Sérgio Sampaio. É uma cena em que a claustrofobia do
apartamento dá lugar a uma explosão de esperança e sentimentos,
quando Tiago quer, literalmente, abraçar o mundo.

O CD com a trilha sonora do filme está previsto para chegar
nas lojas ainda este mês.

(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)

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