Pensar, realmente, virou subversão no governo do tucano Beto Richa. Depois de cercear expressão de blogueiro paranaense e de se indispor com músicos e donos de barzinhos da noite curitibana, por meio da forma como vem promovendo a ação policial e fiscalizadora integrada com a prefeitura local, o governo do Beto entra, agora, em rota de colisão com a classe artística e com intelectuais pela via literária. Uma crítica à atuação do diretor da Biblioteca Pública do Paraná (BPP), Rogério Pereira, despertou a atenção de muita gente que enxerga além das linhas cartesianas e possui pensamento crítico. Também motivou uma coleção de comentários negativos ao governo nas redes sociais.
A BPP sob a nova direção de Rogério Pereira
Tudo começou quando a internauta de Curitiba Marília Kubota resolveu questionar no seu perfil do Facebook a distribuição privilegiada na BPP do jornal Rascunho, cujo editor há 10 anos é o próprio diretor da biblioteca. A pergunta “não é esquisito o diretor da Biblioteca Pública do Paraná e o editor do jornal Rascunho serem a mesma pessoa e só permitir (ou privilegiar) a distribuição de seu jornal neste espaço público?” foi parar na coluna do jornalista e publicitário Pierpaolo Nota, do Estadinho.
Ainda pelo Facebook, a internauta Lara Sfair postou a pronta resposta do diretor da BPP: “Em relação ao comentário sobre a distribuição do Rascunho na Biblioteca Pública do Paraná, esclareço que o jornal é distribuído na BPP há 10 anos. Portanto, não se deve ao fato de eu ser o atual diretor da instituição. Esclareço que além do Rascunho, a BPP distribui também o jornal Relevo. A distribuição de publicações segue orientação da Secretaria de Estado da Cultura: a BPP distribuirá apenas veículos cuja linha editorial seja a literatura/livros. Há muitos pedidos para distribuição de outras publicações. Por isso, deve-se seguir este critério. Caso contrário, a BPP teria de distribuir qualquer tipo de publicação. Um abraço. Rogério”.
Expediente virtual do jornal Rascunho, privilegiado na distribuição na BPP.
Cultura seletiva. Ao que tudo indica, a resposta não convenceu. Nos 41 comentários, diversos seguidores dessas páginas pessoais criticam o fato de outras publicações igualmente de cunho literário não gozarem do mesmo privilégio e levaram o debate até a esfera ética sobre se o estatuto do servidor público – uma vez que o cargo de diretor da BPP é comissionado, mas, ainda assim, um serviço público prestado – permite esse acúmulo de encargos. Se a função de “editor” do jornal estaria ou não incluída nas proibições que constam no capítulo IV, artigo 285 desse estatuto, ou feririam o artigo 29 da Constituição do Estado do Paraná, que trata da incompatibilidade de servidor público exercer cargo de direção ou integrar conselho de empresa fornecedora.
Outras pessoas postaram ressalvas positivas ao trabalho do diretor da BPP. Não se trata de uma crítica pessoal, mas de divergência na concepção do que seja gestão da COISA PÚBLICA. Por enquanto, a discussão ocorre no plano especulativo, mas o desgaste do governo do Beto com a classe artística e intelectual de Curitiba, exceto entre os privilegiados, é evidente e inegável.
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