As festas do mês de junho são uma tradição antiga. Já nos tempos da Roma tinha um mês consagrado a Juno, havia grandes festejos que eram chamados “Junonias”, em homenagem à deusa. O cristianismo encontrou pois esta tradição e as festas dos santos católicos por coincidência de época, se identificaram com o que já havia. A igreja passou a comemorar condignamente os seus santos, embora os vestígios das cerimônias pagãs continuassem. Na Europa, sendo junho o mês em que aparece o verão, o povo se alegra pelo advento do calor e o mês é em si mesmo festivo. Na antiga Paris dos tempos da monarquia a 24 de junho armava-se uma árvore nas praças dos bairros e era o rei em pessoa que vinha com a sua corte atear fogo à árvore armada na praça de Notre Dame.
Queimada a árvore, os parisienses em meio a brincadeiras, disputavam o carvão da mesma, que diziam trazer boa sorte.
A tradição portuguesa dá lugar especialmente importante aos santos deste mês: Antônio, João e Pedro. No Brasil deitaram raízes as tradições trazidas por nossos avôs embora hoje bastante diluídas. Em fins do século passado porém, quando o comércio no Brasil estava praticamente todo em mãos portuguesas, não havia loja que não tivesse a protegê-la um Santo Antônio, grande, pequeno, bonito ou feio com ou sem resplendor porém indispensável.
Começava-se naquela época a 1º de junho. juntamente com as trezenas os preparativos para a festa, as moças cortando papel de seda enrolando arames, encrespando pétalas, armando as flores que iriam ornamentar a imagem do Santo, sendo os lírios brancos os mais usados. A época era de fartura e no dia 13 era servido generosamente o bom vinho do Porto, do qual se molhava uma fatia de pão-de-ló torrado. Para garantir a continuação da fartura, para que não faltasse nunca alimento nos lares daqueles que eram devotos de Santo Antônio distribuía-se entre eles pãezinhos bentos.
Até hoje são lembradas diversas quadrinhas de origem lusa, feitas em homenagem ao Santo festejado no dia 13 entre as quais uma das mais conhecida é:
Santo Antônio de Lisboa
Feito de pinho de lei
Santo Antônio me perdoa
Os beijos que ainda não dei.
Das festas juninas são parte inseparável a fogueira, os doces e as quadrinhas. Sobre a origem da fogueira variam opiniões: há quem afirme do mês de junho e há quem lhe atribua origem cristã, ligada ao nascimento de São João, cuja mãe fora visitada algum tempo antes pela Virgem Maria, que lhe pedira que quando a criança viesse ao mundo acendesse uma fogueira diante da casa para que todos soubessem do fato.
São João é também santo muito querido dos portugueses e brasileiros, sendo que no Porto seu dia é feriado.
Duas noites há no ano,
Que alegram o coração
É a noite de Natal
E a noite de São João.
A parte da devoção dedicada ao santo, há inúmeras crendices ligadas aos festejos entre as quais a de que as árvores estéreis sendo surradas ao amanhecer do dia de São João frutificam, as verrugas desaparecem passando sobre elas o primeiro ramo que se encontrar ao clarear do dia de São João, morrerá no correr do ano, quem à meia-noite de 23 para 24, olhando-se na água de uma bacia, vir refletida somente a metade de sua imagem.
Na Ilha da Madeira, na noite de São João, seus devotos costumam botar embaixo da cama um prato com terra, outro com um cordão de ouro e outro com água. Antes de amanhecer tocam com a mão sem olhar, num dos pratos se for o que tem terra, a morte o espreita, se for no cordão de ouro terá riqueza, na água fará uma longa viagem.
Em matéria de casamentos, Santo Antônio, é o mais invocado pelas moças solteiras, mas em Portugal também São João tem a fama de casamenteiro, como prova esta quadrinha muito recitada nas aldeias:
O meu rico São João
Casai-me que bom sabeis
O casar é aos quatorze
Eu já tenho dezesseis.
Com São Pedro é que se pegavam as viúvas que desejam casar-se de novo, na Bahia, sobretudo grandes fogueiras são queimadas em sua homenagem.
Entre as tradições que se perderam havia uma que dizia poder-se fazer perguntas a São Pedro, em seu dia pois ele achava maneira de respondê-las, predizendo o que futuro traria. Benzia-se um copo d’água na fogueira e ia-se com ele para detrás da porta, dizendo: Pedro, Pedro, Pedro (bater com o pé direito três vezes no chão) a Cristo três vezes negaste e logo te arrependeste. Numa laje de pedra te meteste, lágrimas de sangue choraste. Ouviste uma voz na praia da Galiléia dizer: Pedro, Pedro, Pedro! (bater com o pé direito no chão três vezes) toma as chaves do céu, estás perdoado. Assim como estas palavras foram certas e verdadeiras, mostrai-me por boca de inocente ou pecador grande ou pequeno muito claramente o que peço, (Neste ponto se faz a pergunta), reza-se um Padre Nosso em intenção ao santo e bebe-se um copo d’água, tendo o cuidado de reter o último gole na boca. Antes que a água aqueça sucede algo que pode ser tomado como resposta. Sendo São Pedro protetor dos pescadores, suas festas costumam ser praieiras, sobretudo no Norte e Nordeste e praias de Portugal. Pescador que se preza neste dia não vai ao mar. No Brasil, onde haja violeiros, eles se juntam em torno dos barcos, enfeitados com bandeirolas e cantam:
São Pedro é homem velho
Homem de muito juízo
Por isso o Senhor o fez
Chaveiro do Paraíso.
(“As festas de junho”. O Jornal. Rio de Janeiro, 20 de junho de 1965)
Faça um comentário