Dona Didi, a heroína do cinema mudo brasileiro

Em artigo o jornalista e cineasta Marcos Enrique Lopes nos apresenta uma figura-chave para a história do cinema nacional: a italiana radicada no Brasil Adriana Falangola Benjamin, ou Dona Didi (1918-2018), uma “heroína” do período de filmes mudos. Confira.

 

Por Marcos Enrique Lopes*

Adriana Falangola Benjamin, a Dona Didi, na década de 1920, quando protagonizava as aberturas e os encerramentos da produtora Pernambuco-Films Adriana Falangola Benjamin, a Dona Didi, na década de 1920, quando protagonizava as aberturas e os encerramentos da produtora Pernambuco-Films

O cinema mudo brasileiro teve sua heroína. Era italiana, adotou o Recife e viveu até os 99 anos, tendo participado de dois longas-metragens (um inacabado) e seis curtas-metragens desde que foi iniciada pelo pai, um dos pioneiros do cinema brasileiro, com apenas 6 anos de idade.

 

Adriana Falangola Benjamin, ou simplesmente Dona Didi, faleceu no dia 5 de fevereiro do ano passado, mas o seu legado ficou registrado nas aberturas e encerramentos da Pernambuco-Films, primeira produtora do estado, fundada em 1920 pelo pai Ugo Falangola e o sócio J. Cambieri, italianos imigrantes, que chegaram ao B rasil dois anos antes.

 

Nascida em Roma em 14 de outubro de 1918, ela veio muito pequena para o Brasil, com 11 meses. Como começou a atuar muito cedo e teve uma vida longeva, ganhou o status de ter sido a última representante do período de cinema mudo no Brasil, cujo destaque foram os Ciclos Regionais de Cinema, mais significativos no Recife, Porto Alegre, interior mineiro (Barbacena e Cataguases) e Campinas.

 

Para além dessas localidades, em Manaus, João Pessoa, Rio de Janeiro e São Paulo havia realizações cinematográficas, porém sem as características de grupos nem movimentos de cineastas, atuando.

 

Em Pernambuco, foram feitos 13 longas-metragens de ficção entre 1923 e 1931 – e o primeiro documentário nasceu clássico, por sua ousadia narrativa. Trata-se de Veneza Americana, de 1925, dirigido a quatro mãos pelos sócios italianos anteriormente citados.

 

 

História de Dona Didi foi recuperada em produções de Marcos Enrique Lopes

Depois desses, vieram outros pequenos “naturais”, como eram chamados os filmes de encomenda, financiados por industriais da época, políticos, fazendeiros, empresários e comerciantes locais. Em todos eles, Dona Didi estava presente. Normalmente, como uma bailarina ou apresentadora improvisada em cenários sofisticados criados pela dupla.

 

Quando filmamos o Janela Molhada, em 2010, fazia 86 anos que ela havia parado de atuar, o que torna o seu caso particular no mundo. Na ocasião, ela já havia participado dos curtas Colégio Santa Margarida, Um Passeio a Tejipió, Recife no Centenário da Confederação do Equador e Pernambuco e Sua Exposição de 1924 (todos filmados no início da década de 20) e dos longas Veneza Americana (1925) e do inacabado A Vida de Santa Terezinha (1926). À posteriori, acabei filmando um segundo curta, com o intuito de contar a história dela própria.

 

Desses seis filmes históricos, há somente fragmentos da maioria deles. Por isso, foram recuperados durante a década de 1990, na Cinemateca Brasileira, sendo o último da relação sem registros das filmagens, embora seja citado em inúmeros estudos de pesquisadores da área e em matérias de jornais recifenses da época, a exemplo do A Província, do Diário da Noite, Jornal do Commercio e Diario de Pernambuco.

 

Para avivar um pouco a memória, segue o filme que atesta o espírito do tempo, bem como a participação prodigiosa de uma pioneira da arte cinematográfica no Brasil e o método utilizado a fim de recuperar estas películas históricas.

 

 

 

* Marcos Enrique Lopes é educador, jornalista e documentarista, autor de três curtas-metragens, entre os quais Janela Molhada (2010), premiado em 16 festivais internacionais de cinema, e Tempo Impresso (2011), sobre as memórias de Dona Didi.

Compartilhar:

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*