Arte e Cidadania –

 

 

 

 

 

 

 

Arte e Cidadania foi o tema da conferência de abertura do Fórum Cultural Mundial, realizada no último dia 25, no Centro Cultural Ação da Cidadania, no Rio de Janeiro. O ministro da Cultura, Gilberto Gil, participou do debate que enfocou a resignificação do sujeito, da arte e da sociedade com o avanço da globalização e da sociedade de consumo.

 

Falando para uma platéia com representantes de mais de 40 países, o ministro brasileiro assinalou que cada pessoa é um criador de arte em potencial. E chamou a atenção para a necessidade de os governos se transformarem em motores da cultura, apoiando e estimulando a criação artística, em todas as áreas, a fim de evitar que essa globalização provoque o fim de tradições culturais importantes para cada sociedade.

 

Segundo ele, Arte e Cidadania é um dos principais motes do Ministério da Cultura do Brasil, item regulador das ações e um mantra no plano do discurso. Refundado em moldes organizacionais, o MinC passou a ter responsabilidades com a ampliação e complexificação do ambiente cultural nacional produtor e esta refundação nasceu, entre outros aspectos, da assimilação da cultura como cidadania.

 

“Fizemos muitos programas culturais e sociais para os artistas mais vulneráveis do Brasil. Criamos uma estratégia para a previdência social cultural no Brasil – o CulturaPrev. Partimos da arte para uma compreensão prática do que é cidadania, uma forma de entender a cultura, não apenas como a consagração, o aplauso, mas como reconhecimento do direito dos artistas mais humildes, dos excluídos dos sistemas de circulação. Trata-se do direito de cada um e, portanto, de todos de ter uma vida digna em todos os seus ciclos e fases – incluindo a maturidade.”

 

O ministro homenageou os mestres de capoeira Bimba e Patinha, lembrando que a Capoeira representa uma das maiores presenças do Brasil no mundo, uma das razões pelas quais o país seja respeitado e amado, apesar de sempre ter tido o Estado de costas para ela. Para alterar essa situação, ele informou que o MinC está trabalhando com o Ministério da Educação (MEC) para que a Capoeira, a Culinária brasileira, os saberes imateriais e seus mestres informais, possam ser reconhecidos em todo sistema de educação formal no Brasil, “para que possam ser finalmente reconhecidos como portadores do saber, como portadores de conhecimento, para que esses mestres possam envelhecer transmitindo seus saberes aos mais jovens”.

 

Os Direitos Autorais e as formas de circulação que hoje são reguladas por regras de Economia da Cultura, Propriedade Intelectual e de valor fazem parte do debate sobre Arte e Cidadania, segundo o ministro. Ele falou que o direito à Cultura não deve se apresentar como o direito ao consumo, mas do acesso à identidade, à portabilidade de cultura e de livre expressão e trânsito.

 

O escritor Augusto Boal ressaltou que a Cultura pode se inserir na economia desde que o artista seja o criador e não o produtor. Segundo ele, o produtor atende ao mercado, o artista atende ao público. “A Cultura, traduzida em arte, deve ser criação permanente, revolucionária, conquista do novo, nunca estratificação do conquistado. Pode-se transformar em indústria, pode-se inserir na economia sim, mas desde que o criador seja o artista, sempre o artista, e não o produtor, que deve trabalhar com aquilo que foi criado, e não criar limites à criação. Se o produtor serve ao mercado, deve ter claro que o mercado quer a repetição do que já foi feito e é conhecido, sem sobressaltos. O artista quer inovar”.

 

Foi de Boal, aliás, uma das melhores definições do encontro, merecedora de longos aplausos, ao abrir seu discurso dizendo que “palavras são meios de transporte, como o trem, a bicicleta e o avião; a palavra Cultura é um enorme caminhão que suporta qualquer carga”.

 

Emoção da Cultura

O Hino Nacional foi o mote para a longa discussão do debate Arte e Cidadania, no FCM. O escritor indiano Vikram Seth falou de sua emoção na cerimônia de abertura do Fórum, realizada na noite anterior, quando presenciou a execução do Hino Nacional Brasileiro. “Ontem, fiquei emocionado ao ouvir as pessoas cantarem o Hino Brasileiro. Não parecia uma marcha, mas uma ária de ópera”, disse Seth. O escritor pediu que o ministro falasse um pouco sobre o hino. Gil relatou uma conversa que teve, também naquela noite, com a mestra de cerimônia do evento, Camila Pitanga. “Logo depois do evento, Pitanga me disse que sempre se emocionava quando ouvia o hino. Sem pensar duas vezes, respondi: Camila, não é o hino, é a música!”

 

O ministro traduziu ali, com humor, a função da cultura, a de ser fio condutor da emoção, como uma das principais fontes de sentimento e interação humana.

 

Logo depois, falou Augusto Boal, ator e fundador do Teatro do Oprimido, que arrancou aplausos da platéia já no começo de seu discurso. “A Cultura aparece como regra e a arte como sua necessária exceção. O artista que elabora, trabalha (re-elabora) a tradição, só o faz porque a conhece. A Cultura, como um bem e como um direito (as duas juntas), impulsiona hoje um programa educacional para a cultura., programas de conteúdos que muitos de vocês têm enorme experiência em fazer acontecer.”

 

Além da relação entre arte, sujeito e sociedade, foram discutidos também a construção de um novo tempo e espaço para a arte na sociedade, a restituição do sentido de cidadania a partir dos direito e liberdades culturais e propostas de políticas publicas que coloquem a arte como elemento.

 

Também participaram da mesa de debates Isabel Pires de Lima, ministra da Cultura (Portugal); Ivan May, deputy Chairman, da Business And Arts South África (África); Viikram Seth, escritor (Índia); e Francisco Huerta Montalvo, secretário executivo do Convênio Andrés Belo (Equador).

Compartilhar: