“A visão funcional da cultura repousa no principio de que em qualquer tipo de civilização, cada costume, objeto material, idéia ou crença, satisfaz alguma função vital, assim como certas tarefas realizadas representam uma parte indispensável para todo o trabalho”.
B.Malinowski
Entre as diversas ciências humanas que emergiram da Revolução Intelectual dos séculos XVIII-XIX, a antropologia foi a mais tardia de todas. A sua motivação inicial, o elemento deflagrador para que ela se tornasse uma ciência, decorreu do impacto do pensamento evolucionista e darwinista no século XIX.
Ao colocar-se em descrença a explicação bíblica exposta no Gênese, pela qual o homem nasceu de uma ação divina imediata, o Ato da Criação, abriu-se o caminho para que cientistas e demais pesquisadores saíssem a campo, pelo mundo todo, atrás do chamado elo perdido, isto é, do antropóide ou hominídio, o ser meio animal, meio humano, que hipoteticamente teria ligado, em algum tempo remotíssimo, o mundo natural ao mundo humano, a ponte sobre o riacho Rubicon que aproximara, num lugar incerto e obscuro do tempo, o símio do homem. Abandonavam desta maneira a crença na divindade do ser humano, implícita a qualquer pensamento religioso, para, aparelhados nas ciências físicas e exatas, mergulharam atrás das suas raízes naturais do homem, entendendo-o fruto da Natureza e não de Deus.
Simultaneamente a esta verdadeira caçada às formas pré-humanas, atrás dos vestígios últimos dos primatas, os interesses dos investigadores ampliaram-se para o estudo das sociedades ditas primitivas, acreditando que elas também mereciam serem submetidas ao crivo da racionalidade ocidental. Desta forma, a antropologia começou a alargar-se, procurando determinar qual era a organização social das tribos e qual era o sistema de parentesco delas, como realizavam suas cerimônias de iniciação e de matrimônio, como procediam nos seus ritos religiosos e nos de sepultamento, e de que maneira viam os céus e temiam os demônios.
A Antropologia é, pois, o estudo do homem. Se bem que, como observou Malinowski, existam outras ciências que igualmente o fazem, tais como a sociologia, a psicologia, a historia, a leis, a economia, e a ciências políticas, ela, a antropologia, se distingue por incluir na sua área de estudo as questões de ordem físicas, anatômicas e estruturais do homem, atendidas pela chamada Antropologia Física, que tratado o homem como um organismo físico, seguiu as pistas da sua evolução a partir das formas mais primitivas da vida.
Os antropólogos físicos, atuando quase que como arqueólogos ou anatomistas, analisam o material fóssil esquelético das formas que estão dentro da descendência humana (múmias indígenas dos maios, astecas e incas, por exemplo) ou nas suas proximidades. Os resultados disso são classificados , graças à técnica do Carbono 14, também chamada como o Relógio do Carbono, numa certa seqüência de tempo, comparando anatomicamente suas descobertas com a estrutura física dos primatas atualmente existentes. O resultado chocou-se com a antiga classificação feita pelo arcebispo de Ussher, que datou a origem do homem no ano 4004 a .C., pois os antropólogos fizeram recuar o seu aparecimento para um milhão de anos atrás! Além disso tratam de observar e registrar cuidadosamente o comportamento dos símios, macacos e outros primatas dentro dos seus ambientes naturais e sob condições controladas de laboratório. Além disso, estudam no homem moderno suas diferença epidérmicas, a cor dos olhos, a textura do cabelo, o tipo de sangue, a constituição do corpo (altura, envergadura) bem como outros fatores que caracterizam a espécie.
Outro ramo da antropologia que ganhou grande estatura, e uma projeção que saltou para bem além das suas fronteiras de investigação, foi o da antropologia cultural. Isto deveu-se pela impressionante ampliação do seu campo de ação, englobando a lingüistica, a arqueologia e a etnologia (descrição ou crônica da cultura de uma tribo ou povo), estudos esses que referem-se ao comportamento do homem, particularmente no que diz respeito às atitudes padronizadas, rotineiras, que genericamente chama-se de cultura. Entenda-se que para o antropólogo a palavra cultura adquire uma outra dimensão do que a que convencionalmente entendida. Não se trata de identificá-la, a cultura, com erudição ou sofisticação, como é comum associar-se essa palavra, mas sim de utiliza-la para definir tudo aquilo que o homem faz, pois, para o antropólogo, cultura é forma de vida de um grupo de pessoas, uma configuração dos comportamento aprendidos, aquilo que é transmitido de geração em geração por meio da língua falada e da simples imitação. Não se trata de um comportamento instintivo, mas algo que resulta de mecanismos comportamentais introjetados pelo indivíduo.
Além da religião, fazem parte da cultura os modos de alimentar-se (“O cru, o assado e o cozido”, brilhante ensaio de Lévi-Strauss, mostra a variação dos procedimentos das tribos com o alimento), de vestir-se, de combater ou de seguir os rituais religiosos. Os antropólogos que seguem por esta senda podem até ser divididos naqueles que se interessam em procurar aquilo que é comum entre as várias culturas espalhadas pelo mundo, e aqueles outros que têm o seu interesse voltado exclusivamente para o que é original, singular, único, naquela cultura. Seus olhos e ouvidos voltam-se então para a magia, para os mistérios anímicos, o medos aos “manes”, aos fantasmas, a linguagem dos sonhos, para a mitologia e as concepções cósmicas, para o significado dos totens, para o sistema de parentesco e os procedimentos nupciais, para as tatuagem e automutilações, os sacrifícios, tudo isto entendido pelos antropólogos como “linguagens” especiais passíveis de serem estudadas, compreendidas e catalogadas.
Antropologia, ciência recente – Principais antropólogos
Lewis H. Morgan (1818-1881); Edward B. Tylor (1832-1917); Arthur Evans (1851-1941); James Frazer (1854-1941); Emile Durkheim (1858-1917); Franz Boas (1858-1942); Marcel Mauss (1872-1950); Bronislaw Malinowski (1884-1942); Radcliffe Brown ( 1881-1955); Ralph Linton ( 1893-1959); Melville Herkovits ( 1895-1963); Margaret Mead (1901-1978); Claude Lévi-Strauss (1908..); Darcy Ribeiro (1922-1997)
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