Analisando Conceitos

 

Desde janeiro de 2006, a Fundação Bienal de São Paulo está promovendo um programa de seminários e programas educativos, que tem como intuito principal analisar os conceitos que acompanham a produção artística contemporânea e apresentar ao público questões centrais ligadas a 27º edição da Bienal, que terá como foco o tema “Como viver junto”, e acontecerá de 07 de outubro a 17 de dezembro, em São Paulo.

O primeiro seminário, “Marcel, 30”, foi organizado pelo curador convidado Jochen Volz e contou com os conferencistas: Dorothea Zwirner, Jürgen Harten, Lisette Lagnado, Ricardo Basbaum, Rirkrit Tiravanija, Stéphane Huchet, que debateram, a partir do trabalho de Marcel Broodthaers, a lógica de exibição de museus. Figura influente da arte conceitual, o artista belga que era poeta, livreiro, colecionador e só mais tardiamente artista, foi um dos principais críticos às instituições museológicas.

Em abril, o seminário “Arquitetura”, organizado por Adriano Pedrosa, teve como convidados: Ana Maria Tavares, Beatriz Colomina, Eyal Weizman, Guilherme Wisnik, Jéssica Morgan e Marjetica Potrc, para discutir a tênue relação entre arte e arquitetura. Já “Reconstrução”, que ocorreu em junho e foi organizado por Cristina Freire, contou com a participação de Renato Janine Ribeiro, João Frayze-Pereira, Jean-Marc Poinsot, Tony Chakar, Viktor Misiano e Minerva Cuevas, propondo uma discussão acerca do perfil das cidades destruídas, deslocamentos, diásporas e migrações.

“No fundamento de todo viver-junto, há um conglomerado de sentimentos partilhados em constante recriação na vida cotidiana. A reconstrução é um instrumento de prospecção do presente, uma perspectiva para a observação do mundo contemporâneo”, comenta Cristina Freire sobre o tema do seminário organizado por ela.

Os próximos encontros já estão marcados. Com inscrições abertas, nos dias 04 e 05 de agosto, Lisette Lagnado, curadora geral da 27º Bienal, organiza “Vida Coletiva”, com a participação de Jane Crawford, Celso Fernando Favaretto, Jeanne Marie Gagnebin, Catherine David, Yuko Hasegawa e Peter Pál Pelbart. Nos dias 09 e 10 de outubro, o seminário “Trocas”, será organizado por Rosa Martinez, e reunirá Carlos Jiménez, Maria Rita Kehl, Nicolas Bourriaud, Paulo Herkenhoff, Renata Salecl e Santiago Sierra.

Em novembro, José Roca organiza o seminário “Acre”, e deve trazer os conferencistas David Harvey, Francisco Foot Hardman, Jimmie Durham, Manuela Carneiro da Cunha e Thierry de Duve, para debater questões sobre território e fronteiras. Esse encontro promete, ainda, a presença da Ministra de Estado do Meio Ambiente, Marina Silva. E por fim, coordenado por Esther Hamburger e Rubens Machado, o seminário “Cinema”, encerra a série nos dias 21 e 22 de novembro.

O debate proposto para o tema “Vida Coletiva”, próximo da serie, irá se estruturar em torno de uma das vertentes dos seminários de Roland Barthes no Collège de France realizados em 1976 e 1977, que também deram origem ao tema da 27º Bienal. Em sua análise de sanatórios e claustros, o filósofo examinou sistemas para um viver-junto e um viver-só. Estendendo o olhar para a sociedade, Barthes reflete sobre ritmos de vida com síncopes diferentes.

Outro conceito que será focado no próximo seminário e também durante a Bienal, é o “Programa Ambiental” de Hélio Oiticica. O tema pretende analisar a passagem do museu para o mundo e como transformar o espectador de arte em participante ativo nesse cenário.

Além de analisar os conceitos que acompanham a produção artística contemporânea, apresentar ao público questões centrais ligadas a mostra e abrir espaço para discutir mais profundamente o que será mostrado durante o evento, os seminários promovidos pela organização da 27º Bienal, vem de encontro a uma nova postura da Fundação Bienal, que tem como proposta de democratização ao acesso à arte.

“Resolvemos ampliar o período do evento e começar mais cedo para aumentar as discussões. O trabalho da curadoria tem sido muito importante para o debate intelectual e maior entendimento do que será exibido na 27ª Bienal”, declarou o presidente da Fundação Bienal, Manoel Francisco Pires da Costa, durante a realização do primeiro seminário da série. “O importante é democratizar o conhecimento, fazer com que gradualmente o público se aproxime do conceito formatado pela curadoria, é ajudar a sociedade a formar especialistas e críticos”, completou ele.

Desde sua última edição, em 2004, a entrada à mostra é gratuita, e segundo a Assessoria de Imprensa da 27º Bienal, “este foi o primeiro passo para democratizar o acesso à Bienal, mas o projeto educativo desta edição vai mais além e planeja instalar cinco núcleos de discussão sobre arte contemporânea em pontos estratégicos da periferia de São Paulo, na tentativa de ampliar o discurso referente à arte contemporânea e atrair um público diverso, além de setores sociais mais privilegiados. Serão mantidas visitas guiadas para estudantes e um treinamento específico para monitores que atenderão ao público”.

Fundação Bienal e sua história – Após a inauguração do Museu de Arte Moderna (MAM), em 1949, o empresário Ciccillo Matarazzo propôs a realização de uma grande mostra internacional inspirada na Bienal de Veneza. Mesmo com a resistência de alguns membros da diretoria do museu, que acreditavam ser imatura a idéia da realização de uma exposição de tamanhas proporções em um país que não tinha incentivos para esse tipo de evento, Ciccillo definiu o ano de 1951 para a realização do evento.

Enfrentando enormes dificuldades, principalmente em convencer os artistas dos países estrangeiros – principalmente os europeus – a mandar suas obras para o país e percebendo que seria impossível fazer isso somente por meio de correspondências e convites, enviou sua esposa, Yolanda Penteado, à Europa para fazer os convites a artistas e representações estrangeiras necessárias a realização do evento.

Com o apoio da Prefeitura de São Paulo, o empresário e a equipe do MAM, conseguiram a cessão do espaço, hoje ocupado pelo Masp, para a realização da primeira Bienal. Na época, os arquitetos Luís Saia e Eduardo Kneese de Mello projetaram um polígono de madeira que, construído, garantiu uma área de exposição de 5.000 m2. Recebendo 1.854 obras representando 23 países, a I Bienal Internacional de São Paulo foi inaugurada no dia 20 de outubro de 1951.

Com o sucesso da I edição da Bienal, a equipe do MAM começou a trabalhar na realização da segunda edição do evento, que viria a acontecer no final de 1953, abrindo as comemorações do IV Centenário da Cidade de São Paulo, sob o comando de Ciccillo Matarazzo como presidente da Comissão organizadora dos festejos. O local escolhido foi a área do Parque do Ibirapuera, na época uma várzea distante e sem nenhuma infra-estrutura urbana.

O arquiteto Oscar Niemeyer foi responsável pelo projeto do conjunto de edificações. Construídos em tempo recorde, o Pavilhão das Indústrias, o Pavilhão dos Estados e o Pavilhão das Nações, foram ligados por uma elegante marquise. Também foram integrados ao espaço do parque o Pavilhão da Agricultura, que hoje funciona como o prédio do Detran, e o Ginásio de Esportes, este último projeto do arquiteto Ícaro de Castro Mello.

A 2º edição da Bienal foi considerada uma das mais importantes, reunindo obras dos mais influentes artistas modernos e, como destaque, 51 telas de todas as fases Picasso, entre as quais Guernica, que, por vontade do pintor, tinha o MoMA como depositário enquanto a Espanha estivesse sob a ditadura franquista. Até então, a grande tela nunca havia deixado Nova York.

No ano de 1953, a II Bienal começou a ser montada ocupando o Pavilhão das Nações, onde ficaram expostas obras de países da Europa e do Oriente, e o Pavilhão dos Estados recebeu peças do continente americano e a Mostra Internacional de Arquitetura. Ao total, o espaço era composto por 24.000 m2 de exposição. Em 12 de dezembro, a mostra foi inaugurada com a representação de 33 países e 3.374 obras.

Com o sucesso da II Bienal, cresceram os incentivos a esse tipo de evento e o MAM tinha um papel importante nesse cenário. As bienais consumiam a maior parte dos esforços e das verbas arrecadadas pelo museu, se tornando quase que exclusivamente num escritório para sua operacionalização. Com isso, percebeu-se que seria necessária a separação do MAM da Bienal.

Em 8 de maio de 1962, foi criada a Fundação Bienal de São Paulo, uma instituição privada sem fins lucrativos, com 55 anos de atividades, 27 edições com a participação de cerca de 148 países, mais de 10.000 artistas e cerca de 56.932 obras, num espaço que permitiu a estimulante convivência das artes plásticas, cênicas, gráficas, do design, da música, do cinema, da arquitetura e de muitas outras formas de expressão artística. Hoje, a Bienal Internacional de São Paulo, junto com a Bienal de Veneza, é o mais importante evento do gênero entre os mais de cinqüenta existentes no mundo.

Seminário Internacional da 27.º Bienal de São Paulo
Auditório Fundação Bienal
Avenida Pedro Álvares Cabral, s/n.º – Parque do Ibirapuera, portão 3
Mais informações: (11) 5574-5922 r. 257

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