Alceu Valença critica

 

 

– “A nova geração da Música Popular Brasileira tem 40, 50 anos”. Esta sentença foi proferida pelo cantor e compositor pernambucano Alceu Valença. Em entrevista, o artista falou sobre o atual momento da MPB e revelou que a falta de incentivo a este segmento da cultura nacional pode levar à extinção de novos talentos.

 

Para o cantor, existe um segmento da música brasileira que funciona como um negócio. Um exemplo, segundo ele, são as bandas de forró do interior do Nordeste, que surgem de tempos em tempos, mas que não conseguem visibilidade nacional por que só existem para gerar lucro.

 

– Aquilo é uma verdadeira indústria. Quem manda ali é o dono da banda. Prova disso é a velocidade com que os componentes são trocados, sem que ninguém se importe. O que vale é o nome do conjunto, que se transformou em uma grife. – sentencia.

 

O pernambucano faz questão de afirmar que a música à qual ele se refere é a MPB real, que é o frevo, o baião, o côco, o maxixe; e não o rock ou o pop, largamente executados nas rádios de todo Brasil. Para esse segmento, afirma Alceu, há investimento e, conseqüentemente, renovação.

 

– Para o pop existem milhões de festivais, como os “In Rio”, que acontecem até mesmo na Europa – avalia. – Até mesmo as bandas de rock têm um nicho próprio. São pessoas jovens que estão a fim de fazer a música deles, com as quais eu não me identifico.

 

A falta de verbas para que a música brasileira se destaque em território nacional, como a promoção de festivais, é um dos grandes empecilhos para o surgimento de novos nomes. Para Alceu, falta curadoria por parte do governo, o que faz com que alguns artistas, principalmente do Nordeste, migrem diretamente para a Europa, que tem determinados programas culturais que abrem espaço para novos nomes do cenário mundial, fato que não ocorre em terras brasileiras.

 

– Há cada vez menos pontos de apoio para alavancar a música brasileira. Fora do Brasil há uma vontade absurda do povo em relação à nossa música, mas aqui nunca houve uma movimentação para divulgar a nossa música pelo mundo.

 

Esta “falta de vontade” pode ser traduzida através da quantidade de verba que é distribuída para a divulgação. Para Alceu, a Lei Rouanet distribui verba para artistas estrangeiros, mas não para produtos nacionais.

 

– Se não priorizar a MPB, ela vai acabar.

 

Morador do Leblon, na Zona Sul do Rio, Alceu costuma fazer uma média de oito shows por mês, com os quais percorre todo o país, desde as grandes metrópoles, até cidades do interior. Nessa peregrinação musical, costuma receber muito material de artistas em início de carreira, que vêem nele uma chance de despontar no cenário musical.

 

Uma das explicações para essa abundância de CDs – são cerca de 15 trabalhos que recebe, a cada viagem que faz – pode ser explicada pela facilidade com que se grava hoje em dia. O advento de programas da internet, como o Protuls, faz com que se tenha cada vez menos trabalho – além de gastos – para se produzir material fonográfico no país.

 

– Essa facilidade tem dois lados: é muito bom para quem faz, mas muito ruim para quem ouve. Dessa média de 15 CDs, pelo menos oito eu não vou ouvir. Mas é claro que desse montante, muitas coisas boas aparecem.

 

FILME EM CAPTAÇÃO DE RECURSOS

 

Irrequieto – ele mesmo afirma que odeia o ócio e que não consegue ficar parado – este advogado de 61 anos diz que gosta mesmo é de produzir. Tanto que nem para a praia ele vai se for apenas para ficar parado. Por isso, sempre está produzindo alguma coisa.

 

E tanta energia já rendeu outros frutos, além da música. Há sete anos, escreveu um romance, nunca publicado, que se transformou em um roteiro para cinema. “Cordel Virtual” é um musical com cerca de 50 canções, todas compostas por ele, e que está em fase de captação de recursos, sem data para estrear.

 

– Não tenho pressa. Já esperei até hoje, posso esperar mais um pouco.

 

Insone, ele confessa que sua maior fonte de inspiração é observar o que se passa ao seu redor. As coisas, pessoas e fatos do cotidiano é que rendem a poética de suas músicas, cantadas em todos os cantos do país.

 

– O cotidiano é minha arma. No fundo sou um fotógrafo. Minha memória é fotográfica. Minha cabeça é o You Tube.

 

http://jbonline.terra.com.br/extra/2008/05/28/e280523028.html

 

Angélica Paulo

Compartilhar: