Das favelas mais violentas do País Vigário Geral, Morro do Alemão, Cantagalo e Lucas, todas no Rio de Janeiro , um grito de protesto se transforma em música nas vozes dos integrantes do AfroReggae. Há 10 anos em atividade, o grupo consegue pelas estrofes, rimas e letras contundentes um meio de criticar os problemas sociais brasileiros e também mundiais. No novo disco da banda, o alerta é sobre a guerra, além das constantes manobras de driblar o crime, as drogas e injustiças sociais.
Nenhum Motivo Explica a Guerra revela o amadurecimento do grupo, resultado de um trabalho bem-produzido por Chico Neves, ao longo de um ano e meio. O segundo álbum, que saiu pelo selo Geléia Geral (Warner), reúne composições inéditas dos membros e releituras, como Haiti, de Caetano Veloso e Gilberto Gil.
¨Esse disco é, sem dúvida, o nosso melhor. Passamos por vários processos, desde a seleção das músicas até a divulgação. Contamos com a participação de várias pessoas, inclusive dos rappers ingleses TY e Estellee, e conseguimos um bom resultado¨, conta o músico Dada, que toca caixas de folia.
Além dos britânicos, outros parceiros estiveram presentes: Nando Reis, Nélson Jacobina, Liminha, Jorge Mautner e Arnaldo Antunes. Entre os temas está Mais Uma Chance, que fala sobre o crescimento dos homicídios que se tornam manchetes nos jornais diariamente; e Benedito, inspirada nos antigos malandros cariocas, como o famoso travesti Madame Satã e Chico Porrão, e conta com a participação de Mano Chao, nos vocais. Os bailes funks suburbanos ganham destaque em Coisa de Negão.
¨Nossa função não é só criticar, não é só falar do problema, porque assim é muito fácil. A gente tem esperança de que o mundo possa ser mudado, que as pessoas se unam e que a polícia e a favela se entendam. E uma das soluções para isso já é o nosso disco, que busca conscientizar as pessoas desse processo de inclusão social¨, diz Dada.
Pensando assim é que eles dão continuidade aos projetos desenvolvidos em nove regiões do capital fluminense, tendo quatro núcleos fixos. Três anos antes de surgir o grupo AfroReggae, a ONG de mesmo nome iniciou seus trabalhos em prol das comunidades da periferia carioca. ¨Há 13 anos, éramos pessoas sem perspectivas e fracassadas e hoje, no caso da banda, nos dedicamos à música e ao trabalho social¨, afirma Dada.
A organização oferece aulas de teatro, informática, música, circo e outras modalidades, divididos em 13 subgrupos. ¨Hoje somos referência. Saímos das páginas de polícia dos jornais para ocupar as páginas de cultura. Na infância, brincávamos de polícia-ladrão e víamos o traficante como herói. Estamos mudando essa visão com as nossas crianças e estamos conseguindo¨.
Mesmo com pouca expressividade na mídia, o grupo está alçando vôos altos e pela primeira vez foi convidado a abrir um show de grande porte, no dia 18 de fevereiro, no mesmo palco dos Rolling Stones. Depois, viajam para uma turnê de 10 apresentações na Europa.
Ainda sem agenda marcada em Belo Horizonte, eles começam a nova temporada em abril, por diversas cidades brasileiras. ¨Nossa música é bastante politizada e é difícil entrar no esquema das rádios. A gente é contra o jabá. E nossa música vai tocar porque é boa¨, explica Dada.