Artista resiste ativamente e incansavelmente pela propagação e pelo resgate da nossa cultura
As riquezas imateriais do Brasil estão nos detalhes. São mais de cinco séculos de história, sem contar toda uma ancestralidade que por essas terras já habitavam, vivendo e produzindo. Somos os herdeiros e as herdeiras daqueles que hoje estão sendo arrancados de suas terras com suas vidas ameaçadas por gente que faz mais vista para as naus do que para a canoa. Desde o processo de colonização, a diversidade cultural nunca foi respeitada de forma justa e igualitária e, precisamos entender o que está em jogo.
Querem apagar a parte mais relevante de nossa cultura com as formas mais cruéis de opressão que, no decorrer da história, sempre foram utilizadas, como o extermínio e a desapropriação de terras. Hoje os detentores de um poder roubado tentam a todo custo massacrar nossa história sem deixar rastro. Seja dizendo não a demarcação, desapropriando descendentes autênticos dos nativos da terra, criando a escola sem partido, gerando uma perturbação cultural com o intuito de fazer nosso povo se perder no ódio, alienando cada cidadão e cada cidadã que com informação, educação e cultura tornam-se as armas mais poderosas contra o próprio sistema.
Mas, ainda resistem aqueles e aquelas que com seu dom de comunicar e sua propriedade de informação, decorrente de muito estudo e pesquisa, resistem através de atividade, espaços e diálogos que tornam-se fundamentais para que possamos manter viva nossa herança e nossas tradições imateriais. Artistas como agentes culturais, educadores e comunicadores, fazem de sua profissão um ofício que está além da relação de trabalho patrão/empregado, fazendo com que a chama de nossa cultura permaneça acesa. Seja na música, no teatro, na dança, nas artes visuais e/ou na literatura, esses agentes são capazes de tocar a população, estimulando a memória que mesmo na forma inconsciente, ainda permanecem em fragmentos de lembranças não vividas presencialmente, mas presentes em suas memórias genéticas.
Dentre tantos nomes que tiveram a propagação e o resgate da nossa cultura como missão de vida, está aquele que, ativamente e incansavelmente permanece na resistência sem hesitar. Antônio Carlos Nóbrega ou simplesmente Antônio Nóbrega como o conhecemos. O nosso artista, o nosso Marco do Meio Dia e da Meia Noite, o nosso Lunário Perpétuo, o Poeta que não Cala, o Brincante sem limites de terra e espaço que faz de nossa cultura sua arte, arrebatando cada um de nós com suas apresentações e personagens como o apaixonante Tonheta.
Pernambucano nascido em Recife, Nóbrega desde criança estuda o violino tendo participado da Orquestra de Câmara da Paraíba e da Orquestra Sinfônica do Recife. Em 1971 foi convidado pelo mestre, escritor e poeta Ariano Suassuna a compor o Quinteto Armorial, grupo precursor da música de câmara brasileira de raízes populares. Desde 1976, como consequência do trabalho desenvolvido com Suassuna, vem desenvolvendo seus espetáculos embasado na cultura popular brasileira, utilizando-se da música, artes cênicas, dança e literatura, trazendo à tona a arte do brincante brasileiro.
Antônio Nóbrega trouxe ao público formas autênticas de ler e interpretar a cultura popular brasileira, além de ter montado numa das mais importantes capitais do mundo, a cidade de São Paulo, o Instituto Brincante onde junto com outros educadores (as), muitas vezes formados (as) pelo próprio instituto, compartilha todo o seu conhecimento fruto de pesquisa, vivência e experiência de uma vida dedicada a arte com crianças, jovens e adultos, formando muito mais do que novos artistas, mas seres humanos responsáveis, conscientes e compromissados em manterem vivas as riquezas e tradições de nosso país.
Posso dizer com a propriedade de quem já teve a oportunidade de cursar as oficinas do instituto que sou fruto dessa formação, o que além de contribuir na minha carreira como músico, ator e historiador, teve grande relevância na minha formação como ser humano e agente sócio cultural. Consigo me lembrar como se fosse hoje, as diversas aulas em que mesmo com todas as dificuldades que o aprendizado das técnicas nos traziam, a gente sorria, se divertia e acima de tudo brincava. Hoje em dia, no meio do isolamento social derivado da pandemia da covid, isso tudo soa quase que escasso devido a tantas tragédias, mortes e solidão. Lembrar-me disso é deixar cada vez mais presente as palavras Resistência, Luta e Esperança.
Palavras mais palavras. Palavras ao vento, palavras ao coração e palavras no momento. As palavras podem ter diversos sentidos e significados. E é sobre palavras que nesse momento o artista pernambucano se mune para mais uma vez nos mostrar o Brasil na sua essência. Como sua própria página nos diz:
Antônio Nóbrega vem desenvolvendo o projeto Velhas Rimas Novas, que tem entre os seus propósitos fomentar a leitura e a prática da poesia rimada brasileira por meio de podcasts, palestras e cursos gratuitos. A série de atividades foi contemplada pelo PROAC (Programa de Ação Cultural) do Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa. Edital de Ações de Incentivo à leitura no estado de São Paulo.
Ao longo dos cinco séculos de formação do país foi sendo edificada no âmbito da cultura uma literatura constituída por um expressivo elenco de gêneros e modalidades poéticas. Se muitos dos fatos e acontecimentos narrados por meio dessa literatura poética caíram no esquecimento, o mesmo não se poderá dizer das estruturas e formas através das quais esses fatos e assuntos foram narrados e se difundiram pelo país, principalmente no meio rural.
Com este projeto, Nóbrega quer dar maior conhecimento e visibilidade a essas estruturas e formas, seja incentivando a sua prática lúdica nas atividades educativas, seja difundindo-as entre os artistas da palavra do país. “Nosso objetivo é dar uma função e significado mais amplos a esses gêneros e modalidades poéticas que, assim como o Rap e o Slam – tão em voga na atualidade – também têm vigor e substância para reivindicar um mundo melhor, um mundo mais de todos e para todos”, explica o multiartista pernambucano.
Velhas Rimas Novas traz um conjunto de atividades online: curso, palestras de estímulo à leitura e podcasts.
Velhas Rimas Novas abarca também uma edição do curso Na Rima para 25 alunos que já foram selecionados mediante inscrição e que será encerrado com um sarau aberto ao público no dia 28/07.
Antônio Nóbrega é tradição, contemporaneidade, passado, presente e futuro, é um artista que como diz Ariano Suassuna no DVD O Lunário Perpétuo: “Foi arrebatado pela própria criação”. Nóbrega é aquele que nos leva às lágrimas e ao sorriso, que nos deixa saudade daquilo que não sabemos, que nos dá munição intelectual para lutar contra tudo o que há de injusto e desigual no mundo, que nos dá força e esperança, que nos faz viver!
Para saber mais, acompanhe a entrevista que vai ao ar no próximo domingo às 20 horas.
Para acompanhar o projeto Velhas Novas Rimas, inscreva-se no canal do YouTube de Antonio Nóbrega.
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