Alaor de Oliveira e o Regional Arco da Velha: uma festa inesquecível da música brasileira
No início dos anos 1980, o Paraná ressoava ao som do choro, uma fusão única de melancolia e alegria, carregada de técnica e emoção. Nesse contexto, a Secretaria de Estado da Cultura destacou-se ao abraçar a música popular brasileira com o Regional Arco da Velha, um projeto que percorreu o estado levando a magia da música a praças, escolas, teatros e corações. Sob minha direção e com músicos excepcionais, o grupo transformou cada apresentação em uma experiência única.
Entre os talentos inesquecíveis do regional, um nome se destacava: Alaor de Oliveira, o flautista que fazia sua flauta cantar como um pássaro livre no céu da música. Alaor não apenas tocava; ele narrava histórias com cada nota. Seu instrumento, em suas mãos, parecia moldado por vento e poesia.
O Regional Arco da Velha era uma constelação de talentos: Hanguito do Rosário no cavaquinho ágil; Bento e seu bandolim que chorava e sorria; Arlindo, com o grave acolhedor do violão de sete cordas; Nilo, costurando harmonias no violão de seis; Edmundo, que com seu pandeiro e voz dava alma às melodias; e, no centro, a flauta de Alaor, o fio dourado que unia todas as estrelas.
Cada apresentação era uma mágica. Jovens nos colégios se encantavam com o choro pela primeira vez. Nas praças, o público sorria e marcava o compasso com palmas. Nos teatros, o silêncio reverente era seguido por aplausos explosivos. Cada cidade que visitávamos se transformava em uma partitura em branco, preenchida pela música.
Recordo um momento especial: em uma pequena cidade do interior, Alaor interpretou Carinhoso de tal forma que parecia que o próprio Pixinguinha soprava a melodia em seus ouvidos. As lágrimas do público e o arrebatamento do regional tornaram aquele instante eterno, um presente único da música.
Hoje, ao revisitar esses dias, sinto um orgulho profundo por ter idealizado e dirigido esse projeto. Mais que um grupo musical, o Arco da Velha foi uma celebração da alma brasileira. E Alaor, com sua flauta mágica, foi um de seus maiores poetas.
Lembro-me das palavras do maestro Copinha, que certa vez me confidenciou: “Alaor é um dos flautistas que mais admiro.” Essas notas ainda devem vagar pelo ar, tocando corações atentos e perpetuando o milagre da música. Alaor, o poeta do som, vive em cada melodia.
Cláudio Ribeiro
Jornalista – Compositor
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