Evento do povo guarani mbya em São Paula une a ancestralidade e o contemporâneo
A música, o artesanato e a dança levaram, neste fim de semana, uma mensagem contra o preconceito durante a feira de arte e cultura indígena Yvyrá Rapo Mbaraeté, no Parque Estadual do Jaraguá, em São Paulo.
Os artistas do povo guarani mbya e os convidados reforçaram, em suas apresentações, a importância de conhecer a cultura para mudar a visão estereotipada sobre o modo de vida indígena. O evento uniu a ancestralidade e o contemporâneo.
Com hip hop, forró, pop, cânticos ancestrais e desfile de beleza indígena, a Yvyrá Rapo Mbaraeté, voltado para moda e artesanato, é um evento complementar ao festival de música Jaraguá é Guarani, que aconteceu nos dias 25 e 26 de outubro.
Thiago Karai Djekupe, liderança guarani e organizador da feira, destaca que a proposta é levar por meio da arte o enfrentamento contra as ameaças que o território Jaraguá sofre e o preconceito ainda enraizado na sociedade.
“As pessoas não indígenas mantêm no imaginário o estereótipo do indígena ser algo do passado e isolado. Quando trazemos para nossa juventude esse momento, esse espaço, nós mostramos que podemos tudo. A gente pode desfilar, cantar e fazer poesia”, frisou.
Entre os exemplos de preconceito citados no evento estava a polêmica do apresentador Luciano Hulk, que durante visita ao Parque do Xingu (MT) pediu para os indígenas esconderem os celulares e aparecer no vídeo, gravado pela equipe dele, só quem estivesse com trajes tradicionais.
A cena dos bastidores gerou reações de diversas organizações indígenas, que criticaram o pedido. O apresentador respondeu, em nota, que sua relação com as comunidades indígenas no Brasil atravessa décadas e que não teve a intenção de prejudicar a imagem delas.
Segundo Djekupe, a especulação imobiliária e grandes empreendimentos, como a instalação de uma incineradora, na região da terra Jaraguá gera conflitos com empresários. Ele afirma que o povo luta por políticas de proteção ambiental, como o projeto de lei conhecido como Cinturão Verde Guarani, que visa proteger a floresta e o recurso hídrico da mata atlântica.
“A gente precisou fazer algo que aborde oficinas de agrofloresta, a preservação contra o desmatamento e os incêndios criminosos. E valorizar a escuta dos nossos mais velhos, do nosso saber ancestral. O povo guarani não tem escrita. Nossa cultura é transmitida oralmente”, disse.
O evento contou com apoio do Ministério dos Povos Indígenas, prefeitura de São Paulo e organizações não governamentais como a associação de defesa etnoambiental Kanindé, coordenado pela ativista Neidinha Suruí. Ela ressalta, ainda, que o evento gera renda para os indígenas.
“A feira porque contribui para o fortalecimento da cultura guarani. E isso é muito interessante, porque divulga a luta e a história dos povos indígenas, com objetivo de mudar o estereotipo da sociedade”, falou.
O comerciante paranaense Antenor Lucri, 68, foi conhecer a cultura guarani mbya na feira. Morador de São Paulo há mais de 30 anos, ele foi ao evento acompanhado da esposa e da filha, que informou sobre a programação.
“O preconceito existe em São Paulo, por ser uma metrópole muito grande e muitas pessoas nascidas e criadas aqui não assimila ainda a importância das aldeias indígenas nesse local e a preservação da cultura e da natureza”, comentou Lucri.




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