Academia confirma elegibilidade de O Agente Secreto e Apocalipse nos Trópicos, reforçando a presença brasileira em categorias estratégicas e acirradas do Oscar 2026.
A confirmação de que O Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho, e Apocalipse nos Trópicos, de Petra Costa, são elegíveis ao Oscar 2026 marca um momento decisivo para a retomada do cinema brasileiro no cenário internacional. A chancela da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas não garante indicação, mas simboliza que as produções atravessaram as primeiras barreiras formais e agora disputam espaço num ano de concorrência intensa e forte presença política.
Ambos os filmes carregam temas sensíveis — ditadura, vigilância, religião, política — e chegam ao Oscar num momento em que o Brasil tenta reposicionar sua imagem após anos de turbulências democráticas. A presença dessas narrativas no circuito mundial amplia o alcance cultural do país e sinaliza a vitalidade de sua produção audiovisual.
Kleber Mendonça e o impacto de O Agente Secreto: memória, trauma e projeção internacional
Escolhido pelo Brasil para concorrer em Melhor Filme Internacional, O Agente Secreto vinha sendo considerado por especialistas como uma aposta sólida — e a oficialização da elegibilidade pela Academia confirma essa percepção.
Ambientado em 1977, o filme acompanha um professor que retorna ao Recife para fugir de um passado nebuloso. A combinação de thriller político, memória da repressão e assinatura estética de Mendonça — um dos cineastas brasileiros mais respeitados no exterior — ajudou a colocar o longa em listas de previsão de publicações especializadas.
A possibilidade de Wagner Moura disputar vaga em Melhor Ator reforça o peso da campanha. Sua presença pode ampliar a visibilidade do filme, algo crucial em uma categoria dominada por produções de países com forte aparato de marketing.
Para a indústria, a elegibilidade é um passo que recoloca o Brasil entre os concorrentes consistentes do Oscar, após anos de ausência em indicações finais.
Petra Costa e seu novo embate com a política global
Apocalipse nos Trópicos, de Petra Costa, chega à corrida do Oscar com forte tração internacional. As quatro indicações no IDA Documentary Awards — considerado um dos principais termômetros da categoria — tornaram o filme um dos documentários mais comentados do ano.
A diretora, que já foi indicada ao Oscar por Democracia em Vertigem, volta a explorar as fissuras políticas do Brasil, desta vez investigando a relação entre poder e evangelicalismo. Com entrevistas que vão de Silas Malafaia ao presidente Lula, o documentário dialoga diretamente com debates sobre democracia, religião e radicalização — temas que têm ressonância global.
A elegibilidade e o desempenho no IDA sugerem que Petra entra na temporada como forte competidora, num momento em que o Oscar tem premiado documentários politicamente contundentes.
O momento estratégico da corrida: pré-listas, lobby e visibilidade
A partir de agora, o jogo muda de fase:
- 16 de dezembro: divulgação das pré-listas (shortlists) de Filme Internacional e Documentário — etapa crucial, onde a maior parte dos títulos é eliminada.
- 22 de janeiro: anúncio oficial dos indicados.
- 15 de março de 2026: cerimônia de premiação.
Para o Brasil, a inclusão nas pré-listas é o primeiro desafio. Historicamente, poucas produções brasileiras avançaram nessa etapa, e a disputa envolve campanhas milionárias, exibições em Los Angeles, encontros com votantes e forte articulação internacional.
A vantagem de Apocalipse nos Trópicos é sua inserção no debate geopolítico contemporâneo; a de O Agente Secreto é sua força narrativa e a reputação consolidada de Mendonça.
Mais que cinema: representatividade, diplomacia cultural e disputas narrativas
A elegibilidade dos dois filmes está além do reconhecimento artístico. Ela insere o Brasil na disputa por narrativas globais — a forma como o país é visto, explicado e interpretado por públicos internacionais.
Em um momento em que o governo brasileiro tenta reconstruir pontes diplomáticas e fortalecer políticas culturais, a chegada ao Oscar com duas produções politizadas e tecnicamente sofisticadas representa uma forma de soft power amplificada.
Se avançarem para as indicações, Kleber Mendonça e Petra Costa carregarão não apenas seus filmes, mas a reafirmação do cinema como campo estratégico para entender os rumos do Brasil.
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