“O Brasil que esquece quem governa”

 

“Um retrato histórico das escolhas brasileiras.”

Artigo de Cláudio Ribeiro

 

No Brasil, a história costuma caminhar como quem tropeça: dá dois passos, esquece por que saiu de casa e acaba voltando ao mesmo lugar. Talvez por isso a gente viva repetindo governos que não conversam com a maioria do povo — aquele povo que acorda cedo, pega ônibus lotado e tenta pagar conta antes do vencimento. A classe trabalhadora, dizem, mas que raramente aparece nas preocupações de quem senta na cadeira mais importante do Planalto.

Quando se coloca a lupa sobre os presidentes da República, percebe-se logo uma coisa que muita gente prefere não ver: a maior parte deles era de direita, com projetos alinhados às elites econômicas, ao conservadorismo político e, muitas vezes, às Forças Armadas.

Quantos foram de direita?

Se a gente olhar do início da República até hoje, encontram-se entre os nomes com forte inclinação à direita:

  • Marechal Deodoro da Fonseca
  • Floriano Peixoto
  • Prudente de Morais
  • Campos Sales
  • Rodrigues Alves
  • Afonso Pena
  • Nilo Peçanha
  • Hermes da Fonseca
  • Wenceslau Brás
  • Delfim Moreira
  • Epitácio Pessoa
  • Artur Bernardes
  • Washington Luís
  • Getúlio Vargas no Estado Novo (apesar de nuances, governou com mão forte e autoritária)
  • Eurico Gaspar Dutra
  • Café Filho
  • Castelo Branco
  • Costa e Silva
  • Médici
  • Geisel
  • Figueiredo
  • Collor
  • Fernando Henrique Cardoso (centro-direita, liberal)
  • Michel Temer
  • Jair Bolsonaro

É uma fila longa. De dezenas de presidentes, mais de 20 podem ser classificados, com segurança histórica, como de direita ou conservadores.

E quantos foram de esquerda?

A esquerda brasileira, no comando do país, cabe numa lista bem menor, quase tímida:

  • Getúlio Vargas na fase democrática pós-1945 (com forte base trabalhista)
  • João Goulart
  • Luiz Inácio Lula da Silva
  • Dilma Rousseff

*Juscelino Kubitschek (JK) é frequentemente visto como um político de centro esquerda. Embora tenha iniciado sua carreira em um partido considerado de direita, ao longo do tempo, ele se tornou mais associado a ideais desenvolvimentistas e populistas, enfrentando forte oposição de grupos de direita durante seu governo.

Ou seja, apenas quatro presidentes com orientação mais claramente voltada ao trabalhismo ou à esquerda chegaram ao poder — e dois deles foram derrubados antes da hora (Vargas em 1954, Jango em 1964; e, mais recentemente, Dilma via impeachment).

E por que isso importa?

Importa porque a maioria dos brasileiros acha que política é novela ruim: repete personagens, mas ninguém entende o roteiro. E quando não se entende o roteiro, qualquer vilão com fala firme vira herói; qualquer promessa vazia vira esperança.

Assim, basta um slogan forte, um gesto teatral ou um discurso contra “os inimigos do povo” — e lá se vai de novo o Brasil entregando o comando a quem olha pouco para quem trabalha muito.

O problema não é só quem vence a eleição.
O problema é não saber para quem cada governo governa.

No fim das contas, a crônica da nossa República mostra que, por falta de memória histórica — ou por uma memória sempre convenientemente apagada —, o país insiste em colocar no poder quem raramente defende os interesses da maioria. E assim seguimos, século após século, como quem lê a mesma história, mas nunca chega ao fim.

 

 

Cláudio Ribeiro

Jornalista – Compositor

Formação em Direito

Pós-graduação

História do Brasil

Ciências Politicas

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