A esquerda auto-complacente e “heróica” e o homo otarius costumam esbravejar toda vez que a luta de classes e estamentos sociais pende para a classe no poder. Pior, como têm ilusões de que “sendo governo” teriam o poder arbitrário de criar decisões governamentais a seu favor, transitam da paranóia à histeria porque o jogo político do Estado de Direito democrático ora não é democrático-social, ora não é de justiça. Vã sabedoria!
Desde o flagrante das avenças e alianças do “PT de governo” com a malta de corruptos de outros partidos (com a leniência da turba “patriótico-trabalhista”), pessoas letradas e inteligentes do Partido dos Trabalhadores e de alguns associados é vítima da Síndrome de Estocolmo; isto é, depois de avalizarem a política econômica de Fernando-Henrique Cardoso e seu bando e de recrutarem “honoráveis técnicos” da grande conspiração neoliberal, passaram a gemer o infortúnio de sua fortuna, mas sempre ressalvando seus sócios afoitos. E, como detestam revelar seus segredos d’alma e/ou fazer autocrítica – que pode mexer em seus interesses de classe -, entusiasmaram-se na formação de claque e banda de música para gritar palavras de ordem “contra o inimigo ideológico” que espanca o governo sempre que possível. Eles não sabem que o inimigo combate com suas armas e seu jeito; e nós, como devemos (ou podemos).
Como diz um velho brocardo, a luta política começa pelos interesses sociais de classe. Disso sabem os que têm o controle social da economia-política como também das instituições e do sistema de poder; são parte e agentes políticos da classe hegemônica na sociedade brasileira. Como parte, assumem o seu partido nessa convenção jurídico-política que se denomina representação “político-institucional democrática” neste Estado assoalhado de direito democrático (social é outra questão). Só não sabem disso alguns histéricos cidadãos que, se não estão internados em tratamento, exercitam suas bandeiras de frustra qualidade como se o Estado “democrático de direito”, com seu sistema político pluri-ideológico e multipartidário (destinado a elidir a configuração social de classes sociais em antagonismo dentro de uma nação de “direito, democrática”) fosse outra instituição política. Isso desmascararia o exercício de “poder democrático” que é só de “direito” mas não pode ser “social de direito”.
Bem… O PT de José Dirceu e Genoíno, o preço do “superávit primário” em termos de privatizações disfarçadas (P P/Ps), o Calheirismo na entente de governo, o déficit de empregos e de produção industrial, o congelamento da reforma agrária e o atraso de um plano de moradias, a insegurança social, o transbordo do São Francisco, a “socialização da Amazônia” e de “terras energéticas”, o “apagão aéreo”; e há muito mais por vir.
Ou discutimos criticamente a questão ou convocamos e pomos na rua um congresso de piqueteiros, porque na histeria e no grito perdemos esta e as próximas guerras.
Walmor Marcellino é jornalista e escritor