Talvez porque a gente começa a estudar História do Brasil ainda muito jovem, às vezes é difícil compreender o que significam essas palavras e o que vem a ser realmente o Dia do Fico. Por que elas foram importantes para a nossa Independência?
Podemos lembrar um pouco os acontecimentos que tornaram esta data tão marcante.
Mudanças com a vinda da família real
D. João VI era o rei de Portugal entre 1767 e 1826 (era príncipe regente e somente em 1818, quando faleceu sua mãe, D. Maria I, foi aclamado rei) e no Brasil viveu de 1808 a 1821. A mudança da corte portuguesa para o Brasil nada mais foi do que uma saída estratégica para ficar longe da Europa (Portugal estava encurralado num conflito entre a França e a Inglaterra; no dia seguinte da saída da família Real as tropas francesas invadiram Lisboa).
O Brasil desde essa vinda de D. João VI e da corte portuguesa, em 1808, começou seu próprio caminho para a independência.
Os portos foram abertos às nações amigas (Portugal não possuía mais o monopólio do comércio brasileiro); o Rio virou a capital do Império, fábricas puderam ser instaladas, a Imprensa Régia começou a funcionar, assim como o Banco do Brasil, a Biblioteca Real, o Jardim Botânico do Rio e a fábrica de pólvora, hospitais, escolas e repartições públicas, o que mudava, em muito, os costumes da colônia.
O perfil dito à época “de certo gosto pelas coisas espirituais” de D. João permitiu que novas idéias circulassem. Expedições estrangeiras chegaram ao Brasil: uma missão artística francesa e uma missão científica alemã. O imenso país e toda a sua riqueza natural começaram a aparecer nas pinturas e descrições de vários artistas e cientistas.
D. Pedro cresceu no Brasil
Pedro de Alcântara Francisco Antonio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon, que nós conhecemos como D. Pedro I, filho de D. João e de D. Carlota Joaquina, quando chegou ao Brasil tinha apenas seis anos. Formou sua personalidade longe de Portugal o que o tornava alguém bem mais envolvido com os costumes da colônia.
D. João regressou a Portugal em 1821, deixando Pedro I no Brasil.
O contexto iluminista (movimento contra as crenças e instituições estabelecidas que se formava na Europa e também repercutia no continente americano) sinalizava que mudanças teriam de acontecer em breve e havia muita pressão de Portugal (que chegou até a ser governado por um marechal inglês de nome Beresford, que expulsara de lá os franceses) para assegurar que nada mudasse em relação ao domínio sobre o Brasil.
Em Portugal, revolucionários portugueses haviam tomado o governo e proclamando a criação das Cortes Constitucionais, uma assembléia representante do povo português que iria criar uma constituição para o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Além da criação de uma constituição, e a intenção de retirar a Inglaterra do governo português, as Cortes queriam recuperar economicamente as finanças portuguesas com uma recolonização do Brasil. Queriam então que D. Pedro deixasse o Brasil.
Por que D. Pedro deveria sair?
O Brasil alcançara conquistas e estava arriscado a retroceder, pois os novos decretos das Cortes ordenavam, além da saída de D. Pedro, a exclusão de brasileiros dos governos provinciais, do comando das armas e de qualquer cargo de autoridade política ou militar, a obediência das províncias a Lisboa e não mais ao Rio de Janeiro e a extinção dos tribunais do Rio.
Partiu dos brasileiros, principalmente dos setores mais aristocráticos da população, o desejo de que D. Pedro não fosse para Portugal (os planos de Portugal eram de que ele fizesse uma conveniente viagem cultural à Inglaterra, França e Espanha). Consta que D. Pedro reconhecia aí um movimento para desestabilizar a monarquia. No Brasil, havia um sentimento de que a sua presença era um reforço no processo já deflagrado para a independência.
A decisão de ficar no Brasil
José Bonifácio de Andrada e Silva, como membro do governo provisório de São Paulo, escreveu uma carta a D. Pedro criticando aquela decisão das cortes de Lisboa, carta divulgada pelo jornal Gazeta do Rio de Janeiro, em 8 de janeiro de 1822.
O Rio de Janeiro iniciou uma coleta de assinaturas, estendendo-a até Minas Gerais e São Paulo que já haviam aderido à causa de emancipação brasileira. As mais de oito mil assinaturas conseguidas foram entregues a D. Pedro por José Clemente Pereira, presidente do Senado da Câmara do Rio de Janeiro, pedindo que ele ficasse. No dia 9 de janeiro de 1822, D. Pedro escolheu desobedecer às ordens das cortes portuguesas e ficar no Brasil, usando estas palavras: “Se é para o bem de todos e felicidade geral da nação, diga ao povo que fico”.
Como crêem os historiadores, a decisão de D. Pedro de permanecer no Brasil intensificou o clima reinante que rumava para a independência.
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