13 de Março Noite das Garrafadas

aaaaaaaNoite das GarrafadasA noite das garrafadas – como ficou conhecido o conflito envolvendo portugueses que apoiavam d. Pedro 1° e brasileiros que faziam oposição ao imperador – foi um dos principais acontecimentos do período imediatamente anterior à abdicação do monarca, em abril de 1831. O conflito, que ocorreu nas ruas do Rio de Janeiro no dia 13 de março de 1831, levou esse nome pelo fato de os brasileiros terem utilizado pedras e garrafas para atacar os portugueses.

 

A relação entre portugueses e brasileiros

 

Como colônia de Portugal, o Brasil sempre abrigou muitos lusitanos, que frequentemente ocupavam postos de destaque na vida política brasileira. Tal situação não se modificara com a volta de d. João 6° para a Europa. Afinal, embora tenha retornado à sede da Casa de Bragança, o rei deixara no Brasil seu filho, um português, como príncipe regente.

 

A proclamação da independência também não modificou esse quadro, uma vez que o primeiro imperador do Brasil havia nascido em Portugal. Seus ministros eram portugueses, assim como os principais burocratas do governo, a oficialidade militar e os grandes comerciantes. Ou seja, o 7 de setembro representou mais uma continuidade do que uma ruptura, o que viria a ocorrer apenas em 1831, com a abdicação de d. Pedro 1° ao trono.

 

O imperador frequentemente se envolvia em assuntos ligados à vida política de Portugal. Esse foi o caso, por exemplo, do conflito em torno da sucessão portuguesa, em 1826, após a morte de d. João 6°. Havia certa desconfiança de que d. Pedro 1° pudesse, de alguma forma, tentar unir novamente Portugal e Brasil – talvez como um reino unido, tal como em 1815.

 

Ao mesmo tempo, o imperador vinha assumindo uma postura bastante autoritária. Em 1823, diante dos limites impostos pela Assembleia Nacional Constituinte quanto à concessão de títulos de nobreza pelo imperador, d. Pedro 1° decidiu fechá-la, impondo, já no ano seguinte, uma Constituição – a primeira do Brasil.

 

A relação do imperador com a Assembleia, na verdade, expressava a tensão que existia entre portugueses e brasileiros, sobretudo o grupo mais radical. Isso porque setores conservadores, com frequência, agiam em parceria com o partido português. Receosos de que o avanço dos grupos radicais pudesse levar a reformas – talvez a um governo republicano -, liberais moderados e portugueses se uniram em torno da figura de d. Pedro 1°.

 

As críticas da imprensa

 

A tensão, porém, ampliou-se para a imprensa e, de lá, para as ruas, culminando na noite das garrafadas, em 13 de março de 1831.

 

Com a abertura dos trabalhos legislativos, em 1826, os liberais exaltados passaram a fazer oposição sistemática ao imperador. Convocavam ministros para prestar esclarecimentos, abriam inquéritos contra auxiliares de d. Pedro 1° e criticavam as ações do imperador.

 

Na mesma linha, a imprensa atacava de maneira contundente o governo brasileiro. Diante das críticas, o monarca chegou até mesmo a mandar processar o jornalista Borges da Fonseca. Entretanto, o assassinato de outro jornalista, Líbero Badaró, em novembro de 1830, levantou a suspeita de que sua morte teria sido encomendada por d. Pedro 1° – alvo preferido dos artigos de Badaró.

 

Com a situação cada vez mais radicalizada, o imperador decidiu fazer uma série de viagens pelas províncias, na tentativa de diminuir a oposição a seu governo. O primeiro destino, Ouro Preto, em Minas Gerais, foi um verdadeiro fracasso. D. Pedro 1° foi hostilizado pela população da cidade, que fechava as portas, em sinal de protesto, quando passava a comitiva imperial.

 

Os portugueses residentes no Rio de Janeiro, então, decidiram fazer uma grande festa em apoio ao imperador, que retornava de Ouro Preto. A festividade lusitana, em contraste com o clima de acirramento político, o assassinato de Líbero Badaró e o autoritarismo do imperador, só agravaram a situação. Na noite do dia 13, o conflito chegou às ruas quando brasileiros, de pedras e garrafas nas mãos, atacaram os portugueses.

 

Vitor Amorim de Angelo é historiador, mestre e doutorando em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Carlos. Atualmente, é professor de história da Universidade Federal de Uberlândia.

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